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Entrevista com a cantora Marianna Leporace - Poucas e Boas da Mari

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<strong>Entrevista</strong> <strong>com</strong> a <strong>cantora</strong> <strong><strong>Mari</strong>anna</strong> <strong>Leporace</strong><br />

POUCAS E BOAS DA MARI - <strong><strong>Mari</strong>anna</strong>, você é <strong>cantora</strong>, atriz, produtora cultural e jornalista,<br />

mas a música passa na veia de suas profissões. Estou certa?<br />

MARIANNA LEPORACE - Sim, <strong>Mari</strong>, você está certíssima. A música é a minha expressão mais<br />

forte e to<strong>da</strong>s as outras formações e ativi<strong>da</strong>des aju<strong>da</strong>m a aprimorar o oficio e a melhorar meu<br />

desempenho no palco. Porém, <strong>com</strong> exceção <strong>da</strong> produção cultural que veio depois, tive que<br />

passar por to<strong>da</strong>s elas pra entender que a música seria o meu caminho real. Eu acreditava que<br />

já havia na família uma quanti<strong>da</strong>de suficiente de músicos e que minha contribuição não seria<br />

necessária. Tentei fugir <strong>da</strong> sina, fazendo teatro, <strong>com</strong>eçando bem cedo, ain<strong>da</strong> nos tempos de<br />

colégio. Ingressei paralelamente na facul<strong>da</strong>de de jornalismo, mas assim que me formei já<br />

sabia que não haveria <strong>com</strong>o adiar o “projeto” por mais tempo. Já estava envolvi<strong>da</strong> <strong>com</strong> música<br />

e mergulhei de cabeça logo que me vi <strong>com</strong> o tempo livre pra me dedicar. A produção cultural<br />

veio <strong>com</strong> a estra<strong>da</strong>, fruto <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de conduzir e administrar melhor a carreira que foi<br />

forja<strong>da</strong> na independência <strong>com</strong>pleta, o que <strong>com</strong>o tudo, tem o lado bom e o ruim. Há dez anos,<br />

depois de muito procurar alguém pra me aju<strong>da</strong>r <strong>com</strong> produção, cismei que minha cunha<strong>da</strong><br />

Sandra De Paoli, originalmente farmacêutica, seria uma excelente profissional dessa área. Ela<br />

achou que eu estava <strong>com</strong>pletamente louca, mas embarcou “na nave” e o tempo <strong>com</strong>provou<br />

que eu estava certa. Sandra mostrou-se uma produtora de primeira e tornou-se meu braço<br />

direito e minha sócia na Zênitha Produções. Hoje planejamos tudo juntas, desde o embrião dos<br />

projetos, até os lançamentos e <strong>com</strong>eçamos lentamente a abrir a empresa pra trabalhos de<br />

outros artistas. Nosso foco é sempre a música, naturalmente, mas já <strong>com</strong>eçamos a “namorar”<br />

<strong>com</strong> outras mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des artísticas.<br />

PBM - Em “Tu Pisas nos Astros... Distraído”, musical em homenagem ao jornalista, poeta e<br />

cronista Orestes Barbosa, você foi uma pesquisadora que buscava matéria prima para a peça<br />

e entrevistava o próprio Orestes, interpretado por Moisés Aichenblat. Como foi desven<strong>da</strong>r a<br />

vi<strong>da</strong> de Orestes Barbosa em um musical?<br />

M.L. - Moisés me convidou para esse espetáculo e fiquei extremamente <strong>com</strong>ovi<strong>da</strong> pela<br />

oportuni<strong>da</strong>de de cantar a obra de um autor que cresci ouvindo na voz de meu pai. Foi uma<br />

experiência importante e de certa forma um resgate <strong>da</strong> minha infância, período em que<br />

convivi <strong>com</strong> o Sr. Sebastião <strong>Leporace</strong> e sua extrema musicali<strong>da</strong>de. As músicas de Orestes, em<br />

sua maioria, faziam parte do repertório desse seresteiro, locutor e <strong>com</strong>positor, que foi a<br />

primeira influência musical minha e de meus irmãos (Fernando e Gracinha). Quando ele nos<br />

deixou eu tinha onze anos, mas sua música foi para mim nosso maior legado. A vi<strong>da</strong> do autor<br />

fui conhecendo por conta do espetáculo e fui convivendo, através de sua história, <strong>com</strong><br />

<strong>Entrevista</strong> realiza<strong>da</strong> por <strong>Mari</strong> Vala<strong>da</strong>res – MTB: 43.155/SP.<br />

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diversos personagens importantes e acontecimentos históricos do Rio de Janeiro de seu<br />

tempo, anos 30, 40, 50... Ele era um jornalista atuante, viveu a intensa boemia <strong>da</strong> época,<br />

conviveu <strong>com</strong> figuras fantásticas <strong>com</strong>o Nassara e Noel Rosa, teve uma vi<strong>da</strong> rica, plena de<br />

aventuras, embates políticos e boas histórias pra contar. Foi um espetáculo absolutamente<br />

prazeroso, informativo, delineado pelo delicado texto de Clóvis Levy, recheado de belas<br />

canções de Orestes e seus parceiros. Gostaria muito de retomar esse projeto, remontá-lo <strong>com</strong><br />

o próprio Moisés e um grupo de choro, quem sabe...?<br />

PBM - Conte um pouco sobre o trabalho “São Bonitas as Canções”, que junto <strong>com</strong> a pianista<br />

Sheila Zagury, recriaram canções de Chico Buarque e Edu Lobo.<br />

M.L. - Meu encontro <strong>com</strong> Sheila estava escrito nas estrelas desde que nascemos (rsrsrsrsrsr). A<br />

gente se conhece desde o início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 90 e durante muitos anos vivemos de nos<br />

prometer um encontro musical que nunca acontecia, porque ca<strong>da</strong> uma estava envolvi<strong>da</strong> <strong>com</strong><br />

suas ativi<strong>da</strong>des. Um dia nos encontramos por acaso no aniversário de um amigo (o cantor<br />

belga Michel Tasky) e fizemos um som que durou um bom tempo, de improviso, emen<strong>da</strong>ndo<br />

canções diversas, na maior sintonia. Ai nós e todos os presentes, percebemos que estávamos<br />

perdendo tempo em não nos dedicarmos a um projeto juntas. Dali partimos para ação e<br />

<strong>com</strong>eçamos a nos reunir uma vez por semana para montarmos nosso show. Pesquisa <strong>da</strong>qui,<br />

pesquisa <strong>da</strong>li, os nomes Chico Buarque e Edu Lobo não demoraram para entrar na pauta. Mas<br />

o que fazer <strong>com</strong> uma obra tão vasta dos dois autores? As parcerias, naturalmente. Ai quando<br />

nos pusemos a pesquisar as músicas, percebemos que a esmagadora maioria havia sido<br />

<strong>com</strong>posta para espetáculos teatrais ou balés, o que foi uma ótima surpresa pra nós duas, que<br />

já tínhamos nossas afini<strong>da</strong>des <strong>com</strong> o assunto “teatro”. Podemos dizer que esse projeto foi um<br />

grande encontro de talentos (não me refiro a nós duas), que foram se chegando, se somando e<br />

o resultado foi uma bela abor<strong>da</strong>gem <strong>da</strong> obra de Edu e Chico. Ain<strong>da</strong> enquanto ensaiávamos,<br />

Flávio Loureiro se chegou empolgado <strong>com</strong> o tema, foi se integrando ao projeto, vestindo a<br />

camisa e se tornou nosso produtor, artista gráfico, fotógrafo, divulgador, enfim, o terceiro<br />

vértice do triângulo, <strong>com</strong>o gosto de brincar. Ele trouxe o Luiz Fernando Vianna que escreveu os<br />

textos lindos que falo em cena e que estão no encarte do CD, intensificando o clima teatral do<br />

trabalho. Fernando Sant’Anna que dirigiu o espetáculo, havia sido meu parceiro em<br />

espetáculos infantis de Karen Acioly, veio <strong>com</strong> um olhar delicado e uma direção afinadíssima<br />

<strong>com</strong> a proposta do show. A soma desses talentos à iluminação de Eduardo Salino, os figurinos<br />

de Kika de Medina à direção musical <strong>com</strong>plementar de Emerson Mardhine que se uniu a Paulo<br />

Brandão na realização do CD, a assistência de produção <strong>da</strong> Sandra De Paoli, que iniciava ali sua<br />

carreira, garantiram a construção de um espetáculo poético, leve, engraçado, feminino e cheio<br />

de climas teatrais, condizentes <strong>com</strong> a obra de Edu e Chico. No CD tivemos a participação<br />

especialíssima dos autores que nos deram a honra de dividir, ca<strong>da</strong> um, uma faixa conosco:<br />

Chico gravou “Tororó” e Edu “Na Ilha de Lia, No Barco de Rosa”. Foram quatro anos de muitas<br />

<strong>Entrevista</strong> realiza<strong>da</strong> por <strong>Mari</strong> Vala<strong>da</strong>res – MTB: 43.155/SP.<br />

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alegrias, de aventuras e realizações. Crescemos muito artisticamente, musicalmente <strong>com</strong> esse<br />

projeto de CD/show e só paramos porque a vi<strong>da</strong> segue e outros trabalhos foram acontecendo,<br />

outros encontros importantes pra nós duas, mas o duo <strong><strong>Mari</strong>anna</strong> e Sheila segue seu rumo,<br />

<strong>com</strong> novas ideias e <strong>com</strong> o firme propósito de relançar esse CD, inicialmente independente,<br />

pelo selo Mills Records, que apoia todos os meus projetos.<br />

PBM - Entre 2002 e 2003, você gravou três CDs <strong>com</strong> canções do pop norte-americano, o "Pop<br />

Acústico" (DeckDisc). A ideia de gravar canções estrangeiras foi <strong>da</strong> gravadora? Ou foi um<br />

projeto seu?<br />

M.L. - Foi um convite <strong>da</strong> gravadora Deck Disc que recebi justamente na entressafra do “São<br />

Bonitas As Canções” e o trabalho seguinte <strong>com</strong> Willians Pereira chamado “A Canção, a Voz e o<br />

Violão”. Na ver<strong>da</strong>de o projeto é do produtor Rodrigo Vi<strong>da</strong>l que considerou interessante fazer<br />

um CD acústico <strong>com</strong> sucessos do pop rock numa voz feminina, já que Emmerson Nogueira<br />

havia sido muito bem sucedido <strong>com</strong> um trabalho nessa mesma linha. O convite foi feito<br />

primeiro ao Emerson Mardhine, meu produtor musical e baixista na época, que sugeriu meu<br />

nome pra interpretar as canções. Rodrigo aceitou a proposta e os dois vieram conversar<br />

<strong>com</strong>igo. Eu muito reticente, por ser esse um trabalho <strong>com</strong>pletamente diferente de meu ideal<br />

artístico, aceitei pela grande dose de desafio que a ideia continha. Afinal as músicas que<br />

<strong>com</strong>põe esse projeto, eu adorava ouvir e cantar em rodinhas, em casa, no chuveiro, mas nunca<br />

<strong>com</strong> a pretensão de gravar num CD. Achei tudo muito inusitado e <strong>com</strong>o a independência<br />

artística te deixa livre pra experimentar o que quiser, segui meu rumo bem feliz e ca<strong>da</strong> vez<br />

mais anima<strong>da</strong> <strong>com</strong> os resultados <strong>da</strong>s gravações. Mas também tive um time de feras pra<br />

<strong>com</strong>pletar minha alegria no estúdio: Emerson Mardhine no baixolão, Fernando Caneca e<br />

Eugenio Dale nos violões e Rodrigo Vi<strong>da</strong>l pilotando tudo isso. Fizemos o primeiro CD em 2002 e<br />

os outros dois gravamos em janeiro de 2003. Fiz muito pouco show desse projeto, justamente<br />

por não ser o foco <strong>da</strong> minha carreira, mas devo muito a ele pela visibili<strong>da</strong>de que me deu, o<br />

alcance e a conquista de um público interessado não só em pop-rock, mas na minha história<br />

<strong>com</strong> a música brasileira. Sem falar no grande prazer!<br />

PBM - “A Canção, a Voz e o Violão", trabalho <strong>com</strong> o violonista Willians Pereira, foi a junção<br />

entre sua bela voz <strong>com</strong> o violão de Willians. E o que me consta, foram apenas isso que vocês<br />

utilizaram para gravá-lo. Esse disco é o exemplo de que para fazer um bom trabalho não é<br />

necessário parafernálias técnicas e sim, a simplici<strong>da</strong>de dos instrumentos utilizados e a beleza<br />

de um repertório rico em canções brasileiras?<br />

M.L. - Sim, o principio fun<strong>da</strong>mental desse trabalho foi exatamente mostrar o quão rico pode<br />

ser o encontro de uma voz e um instrumento em <strong>com</strong>pleto estado de sintonia, em total<br />

“casamento musical”. Queríamos passar a ideia de diálogo, de duo mesmo, onde ca<strong>da</strong> um<br />

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desempenha seu papel de solista e de a<strong>com</strong>panhante, onde não há artista principal e sim dois<br />

artistas no mesmo nível de importância para que a música aconteça. E acho que isso foi<br />

ficando ca<strong>da</strong> vez mais claro à medi<strong>da</strong> que amadurecemos o trabalho nos ensaios e nos shows.<br />

O encontro <strong>com</strong> Willians em minha vi<strong>da</strong> foi essencial para o meu aprendizado, para a minha<br />

formação. Assim <strong>com</strong>o aconteceu <strong>com</strong> a Sheila, eu e ele mergulhamos em um “processo” que<br />

durou mais ou menos um ano e meio antes de vir ao mundo. Eram encontros semanais, onde<br />

buscávamos atingir a essência <strong>da</strong>s canções, analisando frases musicais e letras, harmonias,<br />

enfim...foi maravilhoso trabalhar assim! O CD “A Canção, a Voz e o Violão” foi o extrato desse<br />

nosso encontro rico e especial e <strong>com</strong> ele homenageamos os nossos instrumentos e a canção<br />

brasileira, <strong>com</strong>o resultado do casamento desses dois instrumentos.<br />

PBM - Em 2003, você formou <strong>com</strong> Hélio Sena, Gilberto Figueiredo, Alexandre Luiz e Eduardo<br />

Camenietzki o grupo “O QUINTO”, voltado para a pesquisa do folclore e <strong>da</strong> música regional<br />

de raiz brasileira. A intenção do grupo era manter viva a tradição folclórica e <strong>da</strong> música<br />

regional, esqueci<strong>da</strong> em um mercado tão cheio de “enlatados”?<br />

M.L. - A despeito <strong>da</strong>quilo que consideramos “música <strong>com</strong>ercial” e que domina o chamado<br />

mercado formal <strong>da</strong> música brasileira (não só <strong>da</strong> brasileira, eu acredito), existe um universo<br />

musical independente riquíssimo que revela diariamente artistas de grande talento, que se<br />

lançam no grande desafio que é administrar e divulgar suas carreiras e formar plateias<br />

utilizando principalmente as ferramentas alternativas <strong>com</strong> ênfase na internet. Nesse grupo me<br />

incluo, <strong>com</strong> orgulho, confesso. Mas existe ain<strong>da</strong> um outro grupo, muito mais interessado na<br />

pesquisa profun<strong>da</strong>, na cultura tradicional e que não está muito ligado em grandes produções e<br />

sim em manter viva a música mais primitiva, <strong>da</strong> qual to<strong>da</strong>s as outras se originaram. Esses são<br />

os folcloristas, historiadores, musicólogos, estudiosos <strong>da</strong>s raízes <strong>da</strong> música brasileira e suas<br />

diversas vertentes e manifestações populares, seus folguedos, suas origens e diversi<strong>da</strong>des. Eu<br />

tive a imensa sorte de ter sido convi<strong>da</strong><strong>da</strong> por Eduardo Camenietzky para integrar a seu lado e<br />

de um trio já constituído de pesquisadores, um grupo <strong>com</strong> o objetivo de circular pelo Brasil,<br />

num belíssimo projeto do SESC Nacional chamado “Sonora Brasil”, mostrando a música<br />

tradicional e folclórica <strong>da</strong> Região Sudeste do país. Estava assim formado o grupo “O Quinto” e<br />

eu estava ingressando em um curso prático intensivo de música de raiz e tradição oral,<br />

ministrado pelo incrível Hélio Sena (que merece um livro, um filme, um documentário ou tudo<br />

isso, sobre a sua vi<strong>da</strong>) e seus dois discípulos Gilberto Figueiredo e Alexandre Luiz. Posso<br />

assegurar que foi a experiência mais rica que vivi, não só por conta <strong>da</strong>s “aulas-show” que Hélio<br />

nos <strong>da</strong>va todos os dias, mas por ter podido <strong>com</strong> esse trabalho conhecer o Brasil, cantando um<br />

repertório peculiaríssimo e fazendo parte de algo muito maior e mais profundo do que a ideia<br />

de ter um trabalho <strong>com</strong>ercialmente viável. Isso realmente mudou a minha maneira de ver a<br />

vi<strong>da</strong> e a forma <strong>com</strong>o norteio hoje meus projetos e minha carreira. Dito isso tudo, respondendo<br />

a sua pergunta: sim, a ideia desse grupo, <strong>com</strong>o a de todos os grupos dessa natureza é a de<br />

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manter viva essa pesquisa, essa cultura de raiz que deveria ser muitíssimo mais bem cui<strong>da</strong><strong>da</strong> e<br />

valoriza<strong>da</strong> por todos nós brasileiros, <strong>com</strong>o parte integrante de nossa formação multicultural.<br />

O grupo O Quinto, não seguiu junto após o término <strong>da</strong> turnê, mas o Trio Aveni<strong>da</strong> Brasil,<br />

formado por Hélio, Alexandre e Gilberto, que já existia antes desse trabalho, continua vivo e<br />

segue <strong>com</strong> seu projeto de pesquisa, pra nossa sorte.<br />

PBM - Como surgiu o trio vocal “Folia de 3” formado por você e pelas <strong>cantora</strong>s Cacala<br />

Carvalho e Eliane Tassis?<br />

M.L. - Eu, Cacala e Eliane somos amigas de longa <strong>da</strong>ta e cantamos juntas num quinteto vocal<br />

chamado Maitê-Tchu, que encerrou sua carreira em 1998. A partir desse momento, decidimos<br />

que montaríamos, um dia, um trio vocal. E fomos amadurecendo as ideias. Só que a vi<strong>da</strong> corre<br />

rápido demais e as três seguiram muito ocupa<strong>da</strong>s <strong>com</strong> seus afazeres, carreiras solo, outros<br />

grupos, outros projetos, enfim... o desejo de cantarmos juntas só se concretizou em 2005,<br />

quando finalmente gravamos nosso primeiro CD chamado “Pessoa Rara” em homenagem aos<br />

60 anos do <strong>com</strong>positor Ivan Lins, <strong>com</strong> as bênçãos do autor, que nos presenteou <strong>com</strong> uma<br />

canção inédita chama<strong>da</strong> “Canção Quase Duas”. Tivemos o luxuosíssimo auxílio de Cláudio Lins,<br />

que abraçou a nossa “causa”, montou o roteiro e dirigiu o show. A partir do lançamento do CD,<br />

seguimos fazendo diversos shows e participações em CDs de vários artistas. E o trio hoje está<br />

<strong>com</strong> um lindo e novo projeto aprovado na Lei Rouanet, em fase de captação de recursos.<br />

PBM - “<strong><strong>Mari</strong>anna</strong> <strong>Leporace</strong> canta Baden Powell” (2006/2007) foi lançado primeiramente no<br />

Japão. Por quê?<br />

M.L. - Porque na ver<strong>da</strong>de esse CD foi um convite que recebi do produtor japonês Kazuo<br />

Yoshi<strong>da</strong>, um apaixonado pela música brasileira, que vem ao Brasil algumas vezes por ano<br />

gravar artistas brasileiros ou japoneses cantando em português para lançar no Japão. Eu já<br />

havia trabalhado <strong>com</strong> ele em projetos anteriores, quando recebi o convite pra gravar um CD<br />

solo cantando a obra de Baden Powell. Aceitei imediatamente e eufórica, porque, mais uma<br />

vez, o desafio batia a minha porta! Gravar a obra de um <strong>com</strong>positor dessa importância e que<br />

teve entre suas principais intérpretes ninguém menos que Elizeth Cadoso e Elis Regina, era<br />

uma missão e tanto. Pra mim foi quase que uma tripla homenagem! E o CD foi realizado <strong>da</strong><br />

maneira mais prazerosa possível, <strong>com</strong> a participação dos meus parceiros musicais, músicos <strong>da</strong><br />

melhor quali<strong>da</strong>de, amigos que aju<strong>da</strong>ram a imprimir a quali<strong>da</strong>de e a boa energia do trabalho.<br />

Por isso o CD foi lançado primeiro no Japão em 2006 e depois o meu selo Mills Records<br />

licenciou para lançamento aqui no Brasil, em 2007.<br />

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PBM - Nessa homenagem (“<strong><strong>Mari</strong>anna</strong> <strong>Leporace</strong> canta Baden Powell”) participaram Philippe<br />

Baden Powell e Louis Marcel Powell, filhos do violonista. Foi muito emocionante esse<br />

trabalho por envolver a família de Powell?<br />

M.L. - Foi muito especial esse encontro. A presença dos filhos do Baden no CD me deu uma<br />

sensação maravilhosa de consentimento, <strong>com</strong>o se o próprio Baden estivesse ali, aprovando a<br />

ideia, me <strong>da</strong>ndo a sua benção. Eu não conhecia o Marcel e o Philippe até então, só de alguns<br />

encontros eventuais, em shows, mas sem a menor aproximação. Os dois vieram a convite do<br />

Yoshi<strong>da</strong>, mas chegaram tão encantadores, tão gentis, carinhosos <strong>com</strong> tudo, <strong>com</strong>igo, <strong>com</strong> o<br />

trabalho, generosos. Foi <strong>com</strong>o se a gente já se conhecesse há muitos anos. Eu fiquei<br />

emociona<strong>da</strong> <strong>com</strong> a presença deles. Ambos tocaram e fizeram arranjos lindos para o CD e, o<br />

melhor de tudo, tornaram-se meus amigos!<br />

PBM - Se não me engano, em 2008 surgiu o “<strong><strong>Mari</strong>anna</strong> <strong>Leporace</strong> Convi<strong>da</strong>”, talk show onde<br />

você entrevista cantores e <strong>com</strong>positores. Não basta cantar, a música tem que ser fala<strong>da</strong>,<br />

conta<strong>da</strong>?<br />

M.L. - Em 2008 precisei sair um pouco <strong>da</strong> cena musical e resolvi me dedicar mais a minha<br />

empresa Zênitha Produções. Mergulhei <strong>com</strong> Sandra no intrincado universo dos editais e leis de<br />

incentivo, fomos estu<strong>da</strong>r caminhos e maneiras de viabilizar nossas vi<strong>da</strong>s <strong>com</strong>o produtoras<br />

culturais. Mas, quando chegamos em setembro, outubro, me veio a ideia de finalmente juntar<br />

música e jornalismo numa empreita<strong>da</strong> só e bolei o projeto “<strong><strong>Mari</strong>anna</strong> <strong>Leporace</strong> Convi<strong>da</strong>”, onde<br />

a tônica era entrevistar <strong>com</strong>positores de to<strong>da</strong>s as gerações e vertentes, mostrando ao público<br />

o processo criativo <strong>da</strong>s canções. Foi uma <strong>da</strong>s experiências mais gratificantes que tive. Nunca<br />

havia me testado no papel de entrevistadora e adorei a “brincadeira” que durou dez meses<br />

nessa primeira edição. Acho que a música deve ser fala<strong>da</strong> também, discuti<strong>da</strong>, debati<strong>da</strong>,<br />

conta<strong>da</strong>. Acho que sempre devemos pensar e falar sobre a música, seus caminhos e<br />

possibili<strong>da</strong>des.<br />

Dublagem, Internet, Pirataria e Governo<br />

PBM - <strong><strong>Mari</strong>anna</strong>, você já fez dublagem. Você acha que é <strong>da</strong><strong>da</strong> a devi<strong>da</strong> importância para<br />

essa profissão no Brasil?<br />

M.L. - <strong>Mari</strong>, só trabalhei <strong>com</strong> dublagem canta<strong>da</strong> de desenhos animados, ou seja, um trabalho<br />

bem específico, dirigido a cantores. Mas abrindo o assunto, acho que a nossa dublagem está<br />

entre as melhores do mundo e vejo conquistas dos profissionais <strong>da</strong> área <strong>com</strong>o, por exemplo, o<br />

crédito no final dos filmes, que agora é obrigatório e não era há pouco tempo atrás. Fico feliz<br />

de ver uma classe valorizando seu ofício e exigindo seus direitos, coisa que é muito difícil ver<br />

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acontecer <strong>com</strong> a classe musical <strong>com</strong>o um todo, mas isso é uma longuíssima história e<br />

deixemos pra outro dia.<br />

PBM - A <strong>cantora</strong> e atriz Ana de Hollan<strong>da</strong> assumiu o Ministério <strong>da</strong> Cultura no Governo Dilma.<br />

O que você achou dessa indicação? Por ela ser artista, fica mais fácil entender e atender as<br />

reais necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> cultura em nosso país?<br />

M.L. - Acho que ser artista aju<strong>da</strong> a entender de certa forma, mas não vejo isso <strong>com</strong>o requisito<br />

para um bom Ministro <strong>da</strong> Cultura, até porque a cultura é um amplo espectro e envolve uma<br />

infini<strong>da</strong>de de ideias, articulações e elementos. Ana de Hollan<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> está <strong>com</strong>eçando o seu<br />

trabalho, tem um histórico interessante na política cultural, mas ain<strong>da</strong> é cedo pra analisarmos.<br />

Torço por ela e por nós.<br />

PBM - Em 2010 foram apreendidos um total de 1,6 milhão de CDs piratas, segundo <strong>da</strong>dos<br />

divulgados no dia 10 de janeiro de 2011, pela Abes (Associação Brasileira <strong>da</strong>s Empresas de<br />

Software) e pela ESA (Entertainment Software Association). Tenho uma dúvi<strong>da</strong> muito<br />

grande sobre esse assunto, pois penso <strong>com</strong>o é possível um lançamento cair na rede ou nas<br />

mãos de vendedores ambulantes antes mesmo de estar nas lojas. Seria uma “joga<strong>da</strong>” <strong>da</strong><br />

própria gravadora?<br />

M.L. - Bom, <strong>Mari</strong>, <strong>com</strong>o costumo dizer, eu habito o reino <strong>da</strong> música independente e na medi<strong>da</strong><br />

do possível tento entender os problemas que atingem esse setor mais específico <strong>da</strong> cadeia<br />

produtiva <strong>da</strong> música. O espinhoso assunto <strong>da</strong> pirataria me intriga do mesmo modo que a você.<br />

Mas ele atinge principalmente o chamado “mainstream”, a forte e agora menos poderosa<br />

indústria <strong>da</strong> música, ou seja, um “planeta” diferente do meu. Existe sim, uma especulação<br />

sobre a origem desse processo irrecuperável <strong>da</strong> pirataria, se as gravadoras foram agentes<br />

detonadores e depois perderam o controle e a “coisa” andou por conta própria. Mas eu não<br />

posso afirmar na<strong>da</strong> nesse sentido. O fato é que a pirataria existe, não se controla mais e é uma<br />

<strong>da</strong>s responsáveis pela derroca<strong>da</strong> <strong>da</strong> “industria” <strong>da</strong> música, ao lado dos sites de downloads<br />

gratuitos.<br />

PBM - Em 2007, em uma entrevista para o PBM, foi perguntado à <strong>cantora</strong> Claudia Telles<br />

sobre o projeto de lei Anti-Jabá, aprovado em dezembro de 2006 pela Comissão de<br />

Constituição e Justiça <strong>da</strong> Câmara dos Deputados. A pergunta foi feita, pois você e a Claudia<br />

<strong>com</strong>emoraram essa aprovação em seus respectivos blogs. Após quatro anos, o que ficou<br />

resolvido sobre esse projeto?<br />

Absolutamente na<strong>da</strong>! Você acredita?<br />

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M.L. - Pois é... o projeto de lei continua na mesma em que estava e olha que trabalhamos<br />

muito para tentar aprová-lo. Foi um tempo de luta muito bom, eu e Bia Grabois, entre outros,<br />

fazíamos parte do “Jabasta”, o movimento pelo fim do jabá. Trabalhamos arduamente durante<br />

todo o ano de 2006, mobilizamos muita gente, a imprensa, saímos em vários veículos, fomos<br />

matéria de capa do Segundo Caderno do jornal O Globo, entrevistamos diversos artistas,<br />

demos entrevistas em programas de TV, fizemos vários atos, reuniões, assembleias na Alerj,<br />

dividimos opiniões, criamos conflitos, agitamos um bocado, acho que todo mundo conhecia o<br />

Jabasta, no pais todo. Mas... sentimos na pele o quanto é difícil trabalhar por uma classe que<br />

em primeiro lugar é desuni<strong>da</strong>, tem interesses muito diferentes e definitivamente não se<br />

entende <strong>com</strong>o “classe” trabalhista. É difícil quando você li<strong>da</strong> <strong>com</strong> a falta de pensamento<br />

político e <strong>com</strong> o ideal de sucesso <strong>da</strong>s pessoas. Vimos que quem está no “esquema” por mais<br />

que enten<strong>da</strong> o quanto o jabá é absurdo nunca vai querer sair, o que já elimina a participação<br />

de muita “gente grande” que poderia <strong>da</strong>r uma força ao movimento para acabar <strong>com</strong> esse<br />

câncer. E a esmagadora maioria que está do lado de cá, por mais que queira “ceifar o mal”, no<br />

fundo sonha em estar lá, dentro dessa indústria que paga e caro para que seus artistas façam<br />

sucesso. É muito <strong>com</strong>plicado. Ser artista independente não é mole mesmo, mas é uma causa<br />

filosófica, política e idealista pela qual brigarei silenciosamente até morrer. É meu direito<br />

inalienável de ser dona <strong>da</strong> minha própria arte, do meu caminho e <strong>da</strong>s minhas escolhas, sem<br />

nenhuma crise de consciência de estar tirando o lugar de ninguém, nem de que paguem pelo<br />

meu sucesso. As conquistas são só minhas e <strong>da</strong> minha equipe e o sabor disso, não tem preço!!!<br />

Voltando ao jabá, <strong>com</strong> a crise <strong>da</strong> indústria, ele foi ficando mais modesto. Eles não negociam<br />

mais carros, apartamentos, jatinhos (ou até sim, mas em esferas mais reduzi<strong>da</strong>s). Hoje existem<br />

tabelas para “x” tempo de execução. Ai me perguntam os mal informados: “Ué, mas qual o<br />

problema de cobrarem para tocar? Como as rádios sobreviveriam?” E eu respondo<br />

incansavelmente: Que cobrem pelos horários <strong>com</strong>erciais e não pelo conteúdo, ora bolas!!!<br />

Rádio é uma concessão do governo e não pode cobrar pela veiculação de conteúdo <strong>com</strong>o<br />

música e noticia! Mas a triste ver<strong>da</strong>de é que são muito poucos os que realmente se interessam<br />

por esse assunto. E a lei anti jabá está lá, perdi<strong>da</strong> entre muitas...<br />

PBM - Há alguma novi<strong>da</strong>de para o ano de 2011 que você possa adiantar para o PBM?<br />

M.L. - Sim e <strong>com</strong> prazer! Em 2011 lanço um CD de canções inéditas, um projeto que venho<br />

preparando há doze anos, sem exagero, e que seria o meu primeiro CD lançado, se eu e Sheila<br />

Zagury não tivéssemos sido atropela<strong>da</strong>s pela urgência de gravar o “São Bonitas as Canções”.<br />

Vai se chamar “Interior” e é um trabalho <strong>com</strong>pletamente auto-referente, a minha cara. Posso<br />

dizer que será uma celebração <strong>da</strong> minha carreira, <strong>da</strong> minha vi<strong>da</strong> musical, dos meus encontros<br />

e parcerias. Estou muito feliz! Também será lançado esse ano o CD “Lucidez” só <strong>com</strong> músicas<br />

de Alexandre Lemos cantado por mim. Esse CD foi lançado em 2004 apenas na internet e ficou<br />

disponível para download durante um ano. Depois Alexandre tirou do ar e deu um tempo pra<br />

<strong>Entrevista</strong> realiza<strong>da</strong> por <strong>Mari</strong> Vala<strong>da</strong>res – MTB: 43.155/SP.<br />

Site <strong>Poucas</strong> e <strong>Boas</strong> <strong>da</strong> <strong>Mari</strong> – www.poucaseboas<strong>da</strong>mari.<strong>com</strong><br />

Imprima se necessário. Preserve o meio ambiente.


fazer o lançamento “físico”. Sairá pelo selo dele: Sonarts. E se tudo der certo, quem sabe<br />

fazemos o relançamento do “São Bonitas as Canções” no fim do ano? Animado, né?<br />

PBM - Foi difícil para você deixar "Interior" de lado para realizar outros trabalhos? Ou esse é<br />

o momento perfeito para lançá-lo?<br />

M.L. - <strong>Mari</strong>, acho que a resposta é sim pras duas perguntas! Tanto foi difícil deixar esse<br />

trabalho de lado ao longo dos anos, <strong>com</strong>o acho que a hora dele é essa. Na ver<strong>da</strong>de, <strong>com</strong>o você<br />

já deve ter notado tudo na minha vi<strong>da</strong> acontece através de longos “processos”. O “Interior”<br />

<strong>com</strong>eçou em 1999, quando decidi que era hora de lançar um CD, de mostrar meu trabalho,<br />

minhas an<strong>da</strong>nças e pesquisas, mas o conceito dele não estava ain<strong>da</strong> claro pra mim. Isso só<br />

aconteceu bem mais tarde. Quando eu e Sheila fomos praticamente obriga<strong>da</strong>s a lançar o “São<br />

Bonitas as Canções” em 2000, tive que abandonar o outro CD, que estava sendo elaborado<br />

praticamente dentro do estúdio do Paulo Brandão, que ao lado do Emerson Mardhine, são os<br />

produtores do trabalho (assim <strong>com</strong>o do São Bonitas). O disco vinha sendo feito num ritmo<br />

próprio, mas muito legal, num mergulho também, <strong>com</strong> estudos de sonori<strong>da</strong>des, de células<br />

percussivas, um grande laboratório experimental, mas muito prazeroso para todos os<br />

envolvidos. Trabalhamos por um ano e meio, mas quando lançamos o São Bonitas o ritmo era<br />

muito intenso e não tinha <strong>com</strong>o me dedicar a duas frentes grandes de trabalho. Ao longo do<br />

tempo foram várias tentativas de retoma<strong>da</strong>, mas sempre <strong>com</strong> outro CD na boca de ser<br />

lançado. Em 2006, numa dessas retoma<strong>da</strong>s, por acaso, fotografando o Murilo O’Reilly (meu<br />

percussionista) e seus diversos instrumentos coloridos no estúdio, veio o conceito inteiro e eu<br />

entendi exatamente o que queria dizer <strong>com</strong> esse disco, até o titulo, que é nome de uma<br />

música do Rodrigo Maranhão, me caiu <strong>com</strong>o uma luva e tudo <strong>com</strong>eçou a ficar bem claro na<br />

minha cabeça. Porém só em 2010 tive oportuni<strong>da</strong>de de pegar o “touro a unha” e concluir tudo<br />

<strong>com</strong> meus parceiros Emerson e Paulinho. E foi maravilhoso, por que até então tínhamos uma<br />

certa sensação de abandono do “filho” que precisava ser elimina<strong>da</strong>. À medi<strong>da</strong> que ouvíamos o<br />

que já havíamos gravado e que seguíamos em frente, <strong>com</strong> o conceito definido, o CD se<br />

mostrava ca<strong>da</strong> vez mais forte e por incrível que pareça, mais viçoso, apesar dos anos. Foi<br />

muito emocionante e importante concluir este projeto! Quando estávamos finalizando as<br />

gravações, entendi que se ele fosse lançado lá atrás, <strong>com</strong>o no plano original, talvez não tivesse<br />

a mesma força que agora e a ca<strong>da</strong> dia que passa e a ca<strong>da</strong> audição que faço, acredito mais<br />

nessa ideia. Foram nove projetos lançados e o “Interior” vai ser o décimo <strong>da</strong> minha carreira,<br />

mas pra mim será sempre o primeiro, porque é a minha essência, a minha vi<strong>da</strong> musical que<br />

está ali inteira.<br />

<strong>Entrevista</strong> realiza<strong>da</strong> por <strong>Mari</strong> Vala<strong>da</strong>res – MTB: 43.155/SP.<br />

Site <strong>Poucas</strong> e <strong>Boas</strong> <strong>da</strong> <strong>Mari</strong> – www.poucaseboas<strong>da</strong>mari.<strong>com</strong><br />

Imprima se necessário. Preserve o meio ambiente.

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