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A classe é bastante desunida - TRT18

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Goiânia. Sábado, 27 de abril de 2013<br />

“A <strong>classe</strong> <strong>é</strong> <strong>bastante</strong> <strong>desunida</strong>”<br />

A frase <strong>é</strong> da empregada dom<strong>é</strong>stica e ativista política Fátima de Jesus Souza, que<br />

exerce a atividade há 27 anos<br />

Os empregados dom<strong>é</strong>sticos, aí entendido não somente as secretárias do lar, mas todos<br />

os profissionais que desempenham atividades remuneradas no domicílio de seus<br />

empregadores, a exemplo de diaristas, lavadeiras, passadeiras, faxineiras, cozinheiras,<br />

copeiras, caseiros, jardineiros, motoristas, babás e cuidadores de idosos, ainda são<br />

uma <strong>classe</strong> de trabalhadores desprestigiada por patrões e autocensurada, mas tamb<strong>é</strong>m<br />

<strong>desunida</strong> e desinformada. Quem afirma <strong>é</strong> Fátima de Jesus Souza, a “Fatinha”, de 57<br />

anos, empregada dom<strong>é</strong>stica há mais de três d<strong>é</strong>cadas e ativista política. Ela tamb<strong>é</strong>m<br />

alerta para o fato de que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) das Dom<strong>é</strong>sticas<br />

não <strong>é</strong> uma via de mão única e anuncia que a categoria já está sentindo os prelúdios<br />

dos seus efeitos colaterais.<br />

Mesmo com a popularização do termo “empreguetes” graças ao in<strong>é</strong>dito protagonismo<br />

das três personagens empregadas dom<strong>é</strong>sticas Cida, Penha e Rosário, interpretadas por<br />

Isabelle Drummond, Taís Araújo e Leandra Leal, respectivamente, na telenovela<br />

global Cheias de Charme, que foi ao ar no ano passado, a vida real das dom<strong>é</strong>sticas<br />

está longe de ser o mundo cor-de-rosa das meninas que viram cantoras de sucesso,<br />

ganham rios de dinheiro e ainda namoraram os galãs.<br />

Para Fatinha, a <strong>classe</strong> dos empregados dom<strong>é</strong>sticos sempre sofreu com o estigma de<br />

ser um trabalho considerado desvalorizado e destituído de prestígio social, uma vez<br />

que, historicamente, os empregados dom<strong>é</strong>sticos eram indivíduos oriundos das <strong>classe</strong>s<br />

sociais menos favorecidas, quando não tinham o status de escravos. E o fato de servir<br />

o patrão, no âmbito dom<strong>é</strong>stico, lhes confere um papel de subalternidade que <strong>é</strong> muito<br />

mais perceptível. “A <strong>classe</strong> <strong>é</strong> muito sofrida e nunca foi devidamente valorizada”, diz.<br />

Fatinha trabalha há 27 anos para uma mesma família e, inevitavelmente, presenciou<br />

muitos episódios de sua vida privada. “Comecei a trabalhar nessa casa como dama de<br />

companhia para a matriarca e de lá não mais saí”, afirma a empregada dom<strong>é</strong>stica com<br />

orgulho. Ela se sente respeitada e valorizada na casa onde trabalha, mas diz que nem<br />

sempre <strong>é</strong> assim, pois há muitas companheiras que sofrem maus-tratos nos locais de<br />

trabalho.<br />

“Certa vez sofri discriminação por ser dom<strong>é</strong>stica num congresso aqui na Capital.<br />

Queria viajar com os congressistas, mas fizeram de tudo para impedir. Para mim, foi


por causa da minha profissão. Fiquei muito magoada na <strong>é</strong>poca. Depois, os<br />

organizadores do evento me pediram desculpas e hoje me tratam a pão-de-ló”,<br />

comentou com certo ar de satisfação sobre o episódio desagradável, mas já superado.<br />

De acordo com ela, outro problema dos empregados dom<strong>é</strong>sticos <strong>é</strong> o fraco ou<br />

inexistente sentimento de pertencimento a uma categoria profissional, o que os leva a<br />

não se associarem a sindicatos de <strong>classe</strong> ou aderirem a movimentos sociais. “A <strong>classe</strong><br />

<strong>é</strong> <strong>bastante</strong> <strong>desunida</strong>, em parte porque falta informação, em parte porque existe uma<br />

baixa auto estima no profissional. Aliás, essa consciência de que são profissionais <strong>é</strong><br />

muito recente. Antes, o empregado dom<strong>é</strong>stico era algu<strong>é</strong>m que simplesmente não<br />

estava habilitado para fazer qualquer outra coisa, era aquele que estava à margem”,<br />

sentenciou.<br />

“Não <strong>é</strong> só o patrão que não as valoriza, mas elas mesmas, pois há muitas que têm<br />

vergonha da atividade que desempenham. Eu tenho orgulho de ser dom<strong>é</strong>stica e sou<br />

tamb<strong>é</strong>m ativista política, relações públicas e dona de casa. Quando deixo o meu local<br />

de trabalho, no final do dia, continuo atuando. Faço trabalhos voluntários e defendo<br />

as dom<strong>é</strong>sticas”, afirmou Fatinha que <strong>é</strong> vice-presidente da ONG Mestra e atua como<br />

relações públicas na Associação dos Moradores do Bairro Goiá, onde vive, e ainda<br />

encontra tempo para trabalhar na Cooperativa Habitacional Renascer. Ela tamb<strong>é</strong>m faz<br />

trabalho voluntário no Sindicato dos Trabalhadores Dom<strong>é</strong>sticos de Goiás, que há 15<br />

anos funciona no Setor Campinas, na Capital.<br />

Brechó Solidário<br />

Por seu trabalho social, Fátima de Jesus será uma das 20 homenageadas na “Sessão<br />

Especial em Homenagem às Empregadas Dom<strong>é</strong>sticas”, que será realizada no Plenário<br />

da Câmara Municipal de Goiânia, no dia 7 de maio, às 20h. O evento <strong>é</strong> uma iniciativa<br />

do vereador Cl<strong>é</strong>cio Alves (PMDB).<br />

Iolanda Avelino, presidente da ONG Mestra, Mulheres, Empreendedoras, Solidárias,<br />

Trabalhadoras, Responsáveis e Atuantes, comentou sobre o “Brechó Solidário”, cujo<br />

objetivo <strong>é</strong> desenvolver as potencialidades das empregas dom<strong>é</strong>sticas e despertar nelas<br />

o interesse pela valorização da profissão. “No brechó, recebemos doações e a renda<br />

obtida com a venda dos artigos <strong>é</strong> revertida em trabalho social. Damos palestras e<br />

promovemos oficinas em escolas, associação de moradores, cooperativas, etc e<br />

distribuímos cestas básicas em comunidades pobres da periferia da Capital”.<br />

Para obter maiores informações sobre o trabalho social desenvolvido pela ONG ou<br />

para fazer doações ao brechó ONG Mestra: Alameda Progresso, Qd. 3, Lt. 13, no<br />

Setor Esplanada dos Anicuns, na Capital, ou por meio da Internet,<br />

www.ongmestra.com, ongmestra@gmail.com, facebook: iolanda.avelino e Orkut:<br />

ONG Mestra.<br />

PEC não traz bons reflexos<br />

A PEC das Dom<strong>é</strong>sticas tem ganhado as páginas dos jornais impressos e tempo na TV.<br />

A mat<strong>é</strong>ria <strong>é</strong> polêmica e suscita desconfiança entre patrões e empregados, mas veio


para regulamentar as relações trabalhistas de mais de seis milhões de empregados<br />

dom<strong>é</strong>sticos atualmente trabalhando nos lares brasileiros, dos quais, 92% são<br />

mulheres, e apenas 30% têm carteira assinada, enquanto outros 30% não gozam de<br />

quaisquer garantias trabalhistas. A remuneração m<strong>é</strong>dia mensal <strong>é</strong> de R$ 489,00. A PEC<br />

define uma jornada de trabalho diária de oito horas (sendo 44h semanais) e<br />

pagamento de horas extras. Ainda carece de regulamentação o pagamento do Fundo<br />

de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) obrigatório, o seguro-desemprego e o<br />

adicional noturno.<br />

“A PEC não será boa nem para os patrões, nem para as os empregados dom<strong>é</strong>sticos.<br />

As empregadas já estão sentindo isso na pele. Elas estão perdendo seus empregos<br />

porque os patrões descobriram que pode ser mais vantajoso do ponto de vista<br />

financeiro e legal demiti-las e contratar os serviços de diaristas. Eu mesmo posso<br />

afirmar que nessas minhas atividades políticas conheci umas 20 companheiras que já<br />

foram demitidas e depois recontratadas como diaristas na mesma casa onde sempre<br />

trabalharam. Elas não tiveram outra opção e aceitaram. Têm menos direitos<br />

trabalhistas e o rendimento <strong>é</strong> menor, mas <strong>é</strong> melhor do que ficar sem trabalho”, afirma<br />

Fatinha com relação aos efeitos colaterais, talvez não previsto pelos relatores do<br />

projeto de emenda, mas já sentidos na periferia das relações sociais.

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