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Crônicas Agudas Coelho de Moraes - Página de Idéias

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<strong>Coelho</strong> <strong>de</strong> <strong>Moraes</strong><br />

<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong>


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

Direitos <strong>de</strong> Cópia para<br />

Cecília Bacci & Guilherme Giordano<br />

ceciliabaccibscm@yahoo.com.br<br />

menuraiz@hotmail.com<br />

EDITORA EDITORA ALTER ALTERNATIVAMENTE<br />

ALTER MENTE<br />

produtoresin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes@yahoo.com.br<br />

TIRAGEM 8000 POR E-MAIL<br />

DOWNLOAD EXCLUSIVO<br />

http://www.pagina<strong>de</strong>i<strong>de</strong>ias.com.br<br />

Coleção BROCHURA / PDF / ESPIRAL<br />

Capa<br />

COELHO DE MORAES<br />

coelho<strong>de</strong>moraes@terra.com.br<br />

Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mococa<br />

Abril – aniversário da cida<strong>de</strong><br />

São Paulo<br />

2010<br />

2


Cumprimentos a todos.<br />

<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

À GUISA DE APRESENTAÇÃO & PREFÁCIO<br />

Meu nome é Marco Antonio <strong>Coelho</strong> De <strong>Moraes</strong>, venho a estas páginas<br />

(PÁGINAS DE IDEIAS do amigo Scarparo Maciel), e venho escrever sobre<br />

assuntos pertinentes ao fazer da arte e suas <strong>de</strong>rivações, às vezes não tão<br />

artísticas, abrangendo a cultura entre laços e gravatas e sorrisos <strong>de</strong> quem não<br />

sabe o que faz, mas quer assim mesmo sentar na ca<strong>de</strong>ira do cargo.<br />

Antes <strong>de</strong> tudo digo que a família por parte <strong>de</strong> meu pai vem <strong>de</strong> Arceburgo e<br />

Milagres e Guaxupé e Monte Santo, e do lado materno vem <strong>de</strong> São Paulo e vem<br />

da Mooca. Mococa e Mooca. Sempre pareceu um sinal. Um signo. Uma profecia.<br />

Estudo música <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os 10 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e comecei na classe do Professor<br />

Olímpio, no Conservatório Santa Cecília. O Conservatório ficava sobre o Cine<br />

Mo<strong>de</strong>rno, na Rua da Mooca, <strong>de</strong>pois passou para um prédio novo na Javary.<br />

Meu primeiro acor<strong>de</strong>on foi um Scandalli italiano. O velho acor<strong>de</strong>on <strong>de</strong> tangos e<br />

boleros na Mooca. Depois entrei para o Conservatório Dramático e Musical <strong>de</strong><br />

São Paulo na avenida São João.<br />

Fiz composição e regência, estudos complementares <strong>de</strong> encenação teatral e<br />

produção vi<strong>de</strong>ográfica; compus várias obras em formato <strong>de</strong> musicais cênicos,<br />

além <strong>de</strong> obras para Coro, Grupos Sinfônicos e Câmera. Venho fazendo isso com<br />

mais assiduida<strong>de</strong> após o advento da informática que facilitou a escrita.<br />

Produzimos mais.<br />

Em 1996 Mococa estava <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si e aproveitou a oportunida<strong>de</strong> para me<br />

chamara a dirigir a Escola <strong>de</strong> Música Eucly<strong>de</strong>s Motta. Durou somente o sonho<br />

<strong>de</strong> 96 e resíduos oníricos posteriores, pois a cabeça dos governantes seguintes<br />

não acompanhou a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Mesmo assim eles se acham os tais.<br />

3


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

Atuei, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2007 como Coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> Cultura da FATECmococa<br />

(cineclubismo e cinema) cujo périplo <strong>de</strong> aço finalizou em 2009, isso, <strong>de</strong>z anos<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma ação cultural que alterou o pensamento <strong>de</strong> Arceburgo no ano <strong>de</strong><br />

1997. Lá nas Minas Gerais formara-se a Escola Municipal e Artes Dramáticas e<br />

Musicais – EMADMA - que durou um ano, também. Faltou inteligência e tino<br />

político. Parece que essas duas virtu<strong>de</strong>s nunca andam juntas.<br />

No mesmo formato e seguindo a mesma dissociação <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s acima dirigi,<br />

como já dito, a Escola <strong>de</strong> Música Eucly<strong>de</strong>s Motta, em Mococa, traçando a sua<br />

proposta pedagógica, mas isso <strong>de</strong> nada adiantou pois <strong>de</strong> pedagogia não há<br />

prefeito que entenda.<br />

Prova-se que quem veio <strong>de</strong>pois não tinha mesmo competência para dirigir nada<br />

e a escola estagnou-se. Escola estagnada significa criação e inteligência<br />

estagnadas. Cida<strong>de</strong> pobre <strong>de</strong> espírito. Talvez ganhe o reino dos céus, mas se<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do andar da carruagem e do Papa, sei não...<br />

Trabalho em 2010, no segundo ano, com o CORO DA MOCIDADE, que já é<br />

grupo <strong>de</strong> canto coral em ação. Ela se estabelece na Mocida<strong>de</strong> Espírita <strong>de</strong> Mococa<br />

– a Mem.<br />

Dirijo a PRODUTORES INDEPENDENTES – PI, que é uma empresa muito<br />

livre para produção artística em geral (música, ví<strong>de</strong>o, literatura, teatro, gravação<br />

<strong>de</strong> CD, gravação <strong>de</strong> Ví<strong>de</strong>o e Kinemática Aplicada); dirijo, ainda, o TEATRO<br />

POPULAR DE MOCOCA - que homenageia um dos nossos gran<strong>de</strong>s artistas<br />

cênicos - ‘ROGÉRIO CARDOSO’. O TPM já montou para mais <strong>de</strong> 25 peças<br />

em 13 anos <strong>de</strong> trabalho na região. Ganhou prêmios. É grupo respeitado. A<br />

outros trás o <strong>de</strong>speito pois ele faz, enquanto os outros olham. Em Março <strong>de</strong><br />

2009 estreou “NIETZSCHE NO PARAÍSO”, com textos do pensador<br />

Nietzsche. Em Março <strong>de</strong> 2010 estreou A MORTE BÊBADA DA MORTE”,<br />

com textos <strong>de</strong> Miranda Junior e Woody Allen.<br />

4


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

Em 2009 foi grampeado pelo judicioso Diretor <strong>de</strong> Cultura <strong>de</strong> Plantão e sua<br />

<strong>de</strong>ntifrícia esposa, mancomunados com as bandas <strong>de</strong> além. É sempre assim, não<br />

ganham na competência, mas querem ganhar no tranco e no barranco.<br />

Além disso, possuo uma discografia que alcança 9 CDs já gravados e lançados,<br />

dirigindo vários grupos entre Rio, São Paulo e Minas Gerais. Trata-se muito <strong>de</strong><br />

música instrumental contemporânea. Execução completamente virtual, ou seja,<br />

música eletrônica, pois é uma obra cibernética, através da ORKESTRA<br />

LIVRE, seguindo alguns caminhos do mestre Gismonti.<br />

Mas, em meados <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong>ste ano <strong>de</strong> 2010, a Orkestra Livre retoma ensaios e<br />

prepara sua temporada <strong>de</strong> concertos.<br />

E na vertente do mestre Allen, a vi<strong>de</strong>ografia não é <strong>de</strong>ixada <strong>de</strong> lado tendo a<br />

INDÚSTRIA DO VÍDEO como executiva das obras <strong>de</strong> curta, média e longa<br />

metragem e cursos curtos. Algumas das obras vão para Festivais e Mostras,<br />

outras seguem através da Internet, no espaço cibernético que nos envolve<br />

(YouTube, Sapo, Vi<strong>de</strong>olog e quejandos).<br />

Não contente com a ler<strong>de</strong>za que impera na região, participei da montagem <strong>de</strong><br />

uma Incubadora Cultural em São João da Boa Vista. Dela fui presi<strong>de</strong>nte em duas<br />

gestões. 2004 a 2008.<br />

Por outro lado, e afeito a essas coisas da mente, em 2009 eu exponho a<br />

graduação em Filosofia e formação em Psicanálise. Terminada a preparação em<br />

2010 eu me apresentarei à socieda<strong>de</strong>, a partir <strong>de</strong> Maio vindouro com mais essa<br />

vertente <strong>de</strong> trabalho. É o velho interesse na alma e espírito humanos que se<br />

<strong>de</strong>senvolvem na arte. A psicanálise, a musicoterapia e a homeopatia.<br />

Pensamentos livres e profissões libérrimas. É assim que gosto.<br />

Isso se a arte permitir e folgar um tempo. Veremos.<br />

A arte tem <strong>de</strong>ssas coisas. A arte exige essas coisas. Não fosse assim e não tendo<br />

mais nada que fazer, eu fabricaria gelatina e ficaria a pregar placas <strong>de</strong> lata nas<br />

pare<strong>de</strong>s ou me sentaria feito índia na porta do Teatro impedindo a passagem..<br />

Por ora ficam votos <strong>de</strong> sucesso, vida longa e prosperida<strong>de</strong>.<br />

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<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

6 POR MEIA DÚZIA<br />

Ou<br />

<strong>de</strong> como – <strong>de</strong>mocrática - a Cultura é para qualquer um<br />

De cada vez que escrevo posso ser avaliado como aquele que é convencido ou<br />

arrogante, ou, aquele que tem dor <strong>de</strong> cotovelo. Sendo assim nunca escapo <strong>de</strong>sses epítetos<br />

lançados a esmo. Sendo assim, continuo escrevendo e dou <strong>de</strong> ombros, cabelos ao vento.<br />

Numa olhada superficial sobre a situação da Cultura vemos que nela – como<br />

instituição burocrática ou <strong>de</strong>partamental – cabe qualquer tipo <strong>de</strong> gente, <strong>de</strong> qualquer profissão,<br />

mesmo os ignorantes. De outro lado temos bons exemplos: No Departamento <strong>de</strong> Educação a<br />

diretora é Docente. No Departamento <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> é Médica. No Departamento <strong>de</strong> Agricultura –<br />

por bem ou mal, que o digam os funcionários – é engenheiro agrônomo. No Barracão<br />

encontramos gerentes com bom trabalho. No Departamento jurídico há advogados. No Meio<br />

Ambiente é engenheira ambiental. Agora, no Departamento <strong>de</strong> Cultura a profissão po<strong>de</strong><br />

variar.<br />

Essa poesia, pobre por sinal, nunca <strong>de</strong>u rima.<br />

Ora, o histórico dos diretores do Departamento <strong>de</strong> Cultura <strong>de</strong>ixa a <strong>de</strong>sejar ou dá pano<br />

pra mangas, ou dá jorros <strong>de</strong> risos: já foi mulher <strong>de</strong> <strong>de</strong>lgado, comerciante, juiz, <strong>de</strong>ntista,<br />

advogado... Realmente, é um <strong>de</strong>partamento on<strong>de</strong> qualquer um po<strong>de</strong> obter guarida para seu<br />

sonho <strong>de</strong>lirante. Tentar ser o que não é. Nem precisa ter perfil <strong>de</strong> nada. Hiphopistas<br />

6


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

anacrônicos, diretores <strong>de</strong> trem da alegria, responsáveis pelo bilhete <strong>de</strong> entrada, dançarinos <strong>de</strong><br />

aluguel, enfim, não precisa lidar diariamente com a matéria cultura, basta ter um sonho. Nem<br />

precisa conhecer quatro idiomas e nem ter produção em ví<strong>de</strong>o/música/teatro, ou seja,<br />

produção na área artística, no mínimo. Basta ser curioso(a). Ser curioso(a) e se apoiar na<br />

sapiência dos funcionários que lá militam. Não <strong>de</strong> todos... po<strong>de</strong> se dizer que os funcionários<br />

da CULTURA é que são os bons do pedaço. Não todos... Resolvem tudo. Não todos...<br />

Que seria das cida<strong>de</strong>s sem seu folclore?<br />

Mas saibamos mais sobre um conto <strong>de</strong> certa cida<strong>de</strong> interiorana... uma lenda urbana <strong>de</strong><br />

terror, nesse caso... A <strong>de</strong>ntista é esposa do juiz e, por negociatas espúrias, assume o posto do<br />

marido – não o do Fórum, mas o posto da Cultura. Parece que o fenômeno é monárquico.<br />

Provavelmente, daqui a seis meses, quando a <strong>de</strong>ntista sair entrará o filho mais velho e assim<br />

por adiante, até alcançar a petizada. O Departamento <strong>de</strong> Cultura, repetindo os erros <strong>de</strong><br />

sempre, é a moeda <strong>de</strong> troca das articulações... o caminho parece ser esse. Também... para que<br />

cultura?<br />

Ou entrará outro qualquer. Basta ter um sonho... não precisa <strong>de</strong> projeto.<br />

O Figó <strong>de</strong> má memória dizia: - Quando ouço falar em cultura já puxo o revolver.<br />

E, o que é cultura afinal? São os eventos que se per<strong>de</strong>m com o vento? São as<br />

solenida<strong>de</strong>s com hino e pose <strong>de</strong> estátua <strong>de</strong>selegante? O que é isso, afinal, cultura chamada? É<br />

aquilo que se apren<strong>de</strong> na escola e nunca mais sai da cabeça ou justamente o contrário?<br />

Kultur é a civilização e tudo o que nela couber. Portanto a cultura é a mostra da nossa<br />

cultura, a representação <strong>de</strong> tudo o que foi construído em choque com a Natureza, a<br />

civilização que construímos. Quando o prefeito escolhe um Assessor <strong>de</strong> Imprensa que não é<br />

do metièr, mas que serve para compor com a aliança <strong>de</strong> partidos da campanha, é parte da<br />

cultura. Estão fazendo cultura. De mau gosto, mas sempre cultura. Quando o prefeito elege<br />

um engenheiro bom na tecnologia para tratar das coisas do campo, mas, muito ruim no trato<br />

pessoal e com seus assessores, fabrica-se cultura. Quando o prefeito põe <strong>de</strong>ntistas para cuidar<br />

da cultura, faz cultura no mal sentido; continua sendo cultura, mas cultura pífia. Se fizer tudo<br />

isso, sem consultar o partido, tratando-se <strong>de</strong> política e, portanto, <strong>de</strong> ação clan<strong>de</strong>stina, produz a<br />

cultura do autoritarismo, do eu-achismo. Escolhas pessoais? Escorado na <strong>de</strong>sculpa <strong>de</strong><br />

trabalhar com gente <strong>de</strong> confiança, sugere-se que os outros não são <strong>de</strong> confiança ou não têm<br />

competência para atuarem naqueles espaços. Esse último item – da competência - não é,<br />

parece, o que pesa. Por que se assim fosse a cida<strong>de</strong> teria mudado qualquer tanto e nada<br />

aconteceu. O adversário, por exemplo, po<strong>de</strong> ser uma pessoa <strong>de</strong> confiança, contanto que faça<br />

7


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

parte do perfil <strong>de</strong> governo do chefe do executivo. Em suma... burlou-se o estatuto. La nave<br />

va.<br />

AGENDA BÁSICA que dou <strong>de</strong> ban<strong>de</strong>ja: Uma ginkaninha ou férias coletivas em<br />

Janeiro (teatro fechado?) já que não há nada para fazer mesmo / preparação para carnaval em<br />

Fevereiro / <strong>de</strong>sculpa das chuvas em Março / Abril, aniversário da cida<strong>de</strong> com Sandy-sem-<br />

Junior ou o inverso / Maio do trabalhador e das galinhas e do alface, plus, dia das<br />

mães/noivas/santas/mulheres que <strong>de</strong>smaiam em Maio / em Junho as festas juninas<br />

travestidas <strong>de</strong> folclore (evangélicos acham isso coisa do capeta, portanto va<strong>de</strong> retro) / Julho<br />

fica por conta da SUM / Agosto <strong>de</strong>ve ter alguma gripe (a asinina) ou a canina <strong>de</strong> algum<br />

cachorro louco, para variar, e adiarão qualquer evento (adiar é o que fazem <strong>de</strong> melhor) / em<br />

setembro mês das flores e talvez alguma coisa que foi adiada do mês anterior / o salão do<br />

bruno? / o dia do folclore? / o dia <strong>de</strong> geléia? / vamos colar alguma placa <strong>de</strong> lata na pare<strong>de</strong>? /<br />

em Outubro usarão as crianças como escudo, e, <strong>de</strong>sculpa para teatro infantil <strong>de</strong> baixa<br />

qualida<strong>de</strong> apoiada nos vassalos <strong>de</strong> plantão e nos bolos expostos ao sol com que alimentarão a<br />

patuléia pobre / já se encontram sob a mesa à espera das migalhas boquirrotos abertos para o<br />

alto / Novembro po<strong>de</strong>m comemorar o meu aniversario que não ligo / e Dezembro um<br />

gran<strong>de</strong> suspiro, pois, finalmente o (c)ano acabou = FALSA CULTURA.<br />

O Teatro Municipal da cida<strong>de</strong> fictícia foi aberto. Mas não parece. Falta o porteiro. A<br />

porteira que lá está <strong>de</strong> nada enten<strong>de</strong> e diz que os eventos se darão na cota <strong>de</strong> um por mês.<br />

Sábia como tantos já traçou a agenda paupérrima. Sabe por barreiras, levantado as mãozinhas<br />

para o alto e dizendo: - não me passaram... isso não sei! Aliás parece que esse pessoal da<br />

cultura sempre levanta as mãozinhas para o alto. Será que vivem em algum assalto constante?<br />

Que mais... Tem um piano para consertar. A bagatela <strong>de</strong> 30 mil reais que a cultura do<br />

(<strong>de</strong>s)governo anterior <strong>de</strong>ixou escapar pelo mofo das chuvas. Mas, quem liga? Nem todo<br />

mundo toca piano e faz lasanha ao mesmo tempo. Tem refletor para comprar. Tem agenda<br />

para montar. Tem auditoria para fazer. Ah! AUDITORIA! O trauma dos covardotes <strong>de</strong><br />

plantão:<br />

1) Quem permitiu que o piano se estragasse sob as águas, após as reformas que eram para<br />

solucionar o problema do telhado – contra chuva – e, sistema elétrico - contra curtos -,<br />

sabendo-se que tal reforma não resolveu nada disso?<br />

2) Quem permitiu – do alto <strong>de</strong> sua autorida<strong>de</strong> - que a Câmara (sempre a Câmara que <strong>de</strong>veria<br />

ajudar) levasse na mão, na rua, na calada do final <strong>de</strong> semana, as peças milionárias do Museu <strong>de</strong><br />

Artes Plásticas para os subterrâneos do Gabinete, incluindo as obras do Brunão?<br />

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<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

3) Faltará alguma peça? Faltará refletor? Faltará lente? Faltará algum Manezinho Araújo? On<strong>de</strong><br />

as poltronas do hall? On<strong>de</strong> o cortinado a<strong>de</strong>quado e não a porcaria pendurada? Tudo isso é<br />

patrimônio e <strong>de</strong>le ninguém dará conta? Por que alugar mil vezes aparelhos-<strong>de</strong>-sons suspeitos<br />

se basta comprar uma só vez quase que pelo mesmo preço a mesma coisa?<br />

Curiosida<strong>de</strong>s.<br />

E retornando ao primeiro parágrafo: Se CULTURA serve para qualquer um,<br />

certamente não serve para mim, por motivos óbvios.<br />

9


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

A Alma Platônica<br />

Platão diz que o homem – ser humano ou homem gênero? - é a sua alma e<br />

que apenas pela alma é possível ao homem conhecer a verda<strong>de</strong>ira realida<strong>de</strong>, ou<br />

seja, o Mundo das Formas. Isso é opinião lá <strong>de</strong>le pois para mim a realida<strong>de</strong> é esta<br />

que vemos e tocamos. A primazia, portanto, no pensamento platônico é da alma em<br />

relação ao corpo. Mas, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> ele tira essa idéia, uma vez que os Pré-Socráticos se<br />

<strong>de</strong>bateram em <strong>de</strong>masia para explicar a Physis – natureza – através da racionalida<strong>de</strong>?<br />

Se alinhavarmos o pensamento dos filósofos daquele momento, veremos que Platão<br />

faz um retorno ao Mito, apenas trocando o nome <strong>de</strong> Zeus para Demiurgo, por<br />

exemplo. Demiurgo ou Daimon, a entida<strong>de</strong> que plasma a matéria dando or<strong>de</strong>m ao<br />

universo.<br />

A Psicologia platônica – se po<strong>de</strong>mos dizer nesse sentido sem ofen<strong>de</strong>r<br />

ninguém - tem intenções éticas: provar a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controlar as tendências<br />

instintivas do corpo; não há referência alguma <strong>de</strong> que isso é um mal, em si; garantir<br />

uma retribuição futura àquele que procura a justiça - ir para o céu e se dar bem –<br />

<strong>de</strong>vendo-se enten<strong>de</strong>r que justiça, na Héla<strong>de</strong> do século V a.c, nada tem a ver com a<br />

10


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

noção atual <strong>de</strong> justiça: mulheres, estrangeiros, escravos e crianças, não passavam <strong>de</strong><br />

meros complementos da vida do homem ateniense, por exemplo.<br />

Então, quando Platão fala do homem, está falando do homem mesmo.<br />

Essa chamada psicologia possui também intenções gnosiológicas:<br />

estabelecer a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um conhecimento do Mundo das Formas, ou das<br />

<strong>Idéias</strong>. E isso é uma sacada platônica sem base alguma na racionalida<strong>de</strong>. Se Platão<br />

sugere que o mundo sensível – esse mundo que po<strong>de</strong>mos sentir e pegar – gera o<br />

imaginário, certamente ele usou <strong>de</strong>ste estratagema para esboçar o seu mundo das<br />

idéias. Inventou e Fantasiou e ainda disse que não.<br />

A alma platônica é simbolizada por um cocheiro conduzindo um carro puxado<br />

por dois cavalos alados. A alma racional (Nous, Logos), simbolizada pelo cocheiro, é<br />

imortal, inteligente, <strong>de</strong> natureza divina e situada no cérebro. A alma irracional<br />

(Thymós), o cavalo branco, é fonte das paixões nobres; é mortal porque é inseparável<br />

do corpo, estando situada no tórax.<br />

Como é que o Platão sabe certinho on<strong>de</strong> está localizada a coisa, não é?<br />

A alma apetitiva (Epithymía), simbolizada por um cavalo negro, é fonte <strong>de</strong><br />

paixões pouco nobres; é mortal porque também é inseparável do corpo, estando<br />

situada no abdômen. Fica evi<strong>de</strong>nte, através da metáfora, que esta estória do Platão é<br />

tão fantástica, ou, tão real, quanto falar que o fogo <strong>de</strong> Zeus <strong>de</strong>u vida aos humanos<br />

(húmus) <strong>de</strong> barro moldados por Prometeu. Se po<strong>de</strong>mos acreditar em uma estorieta,<br />

po<strong>de</strong>mos acreditar na outra.<br />

Um certo Demiurgo (sacado da imaginação fértil do nosso filósofo) criou a<br />

alma racional – criou por que quis ou foi algum aci<strong>de</strong>nte, algum acaso? - com os<br />

mesmos elementos da Alma do Mundo, por esse motivo ela é imortal e tem caráter<br />

divino, ou seja, tem algo do Mundo das Formas. No entanto é cópia e vale menos.<br />

Esse algo semelhante ao mundo das Formas permite que a alma entre em contato<br />

com o Mundo Inteligível (das Formas ou das <strong>Idéias</strong>). Relembre. Se a alma relembra<br />

(anamnése) é por que guardou em algum lugar o que <strong>de</strong>ve ser lembrado, e, nesse<br />

caso, Platão é obrigado a lançar mão da sabedoria hindu e clamar pela<br />

11


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

Metempsicose, ou seja transmigração das almas <strong>de</strong> corpo para corpo. Sócrates ainda<br />

diz que se o cidadão não se comportar convenientemente voltará em algum corpo <strong>de</strong><br />

menor valor como por exemplo no corpo da mulher, do escravo, <strong>de</strong> uma ratazana ou<br />

rabanete... ou <strong>de</strong> algum diretor <strong>de</strong> cultura.<br />

Segundo o mito <strong>de</strong> Demiurgo – sim, Mito, retorno ao Mito - quando não<br />

explicamos, inventamos o mito para acreditar na estória, então, em <strong>de</strong>terminado grau<br />

<strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>, passamos a ter fé - que é diferente <strong>de</strong> saber, pois é possível ter fé<br />

até naquilo que nem existe; mas, voltando ao mito, as almas recém criadas<br />

conduziam seus carros pelo mundo celeste – tal é a fantasia <strong>de</strong> Platão que ele chama<br />

<strong>de</strong> pedagogia, ou metáfora para ensinar -, e era permitido, a elas, olharem para um<br />

plano superior (o das Formas ou <strong>Idéias</strong>). Cabe perguntar: permitido por quem? Pelo<br />

Demiurgo? Pelos <strong>de</strong>uses? Pelo Daimon?<br />

Embevecidas com o brilho, beleza e perfeição das Formas ou das <strong>Idéias</strong> –<br />

brilho, beleza e perfeição são valores relativos e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> quem olha e analisa -,<br />

os cocheiros perdiam o controle <strong>de</strong> seus carros (que é um acontecimento casual,<br />

aci<strong>de</strong>ntal, ocasional) e, não conseguindo dominar os cavalos, caíam no plano da<br />

Matéria ou plano Sensível. Lembremos que a queda dos anjos e mensageiros já faria<br />

parte da cosmogonia <strong>de</strong> hebreus e cristãos, posteriormente.<br />

Os cavalos, símbolos das paixões e associados ao corpo são gran<strong>de</strong>s<br />

estorvos para o cocheiro, impedindo-o <strong>de</strong> contemplar as idéias, arrastando-o para<br />

baixo e fazendo-o cair para o mundo corruptível da matéria. Ou seja, contemplar as<br />

gran<strong>de</strong>s idéias ou Formas não basta para se livrar das torrentes <strong>de</strong> paixão. Vemos<br />

que há uma tendência <strong>de</strong> transformar tudo o que é matéria em coisa corruptível.<br />

Ninguém quer aceitar que essa é a condição da matéria – ser corruptível (nascer,<br />

existir, morrer) e não engendra nenhum pensamento <strong>de</strong> que <strong>de</strong>va existir algo perfeito<br />

em contrapartida. A matéria é o fundamento do Universo. Mesmo o que chamamos<br />

matéria será energia em algum momento e essas duas situações são<br />

intercambiáveis. Alguns cocheiros pu<strong>de</strong>ram ver mais e melhor o Mundo das <strong>Idéias</strong><br />

(puro acaso), antes da queda (outro acontecimento casual). Por esse motivo,<br />

12


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

algumas almas são mais sábias, estão mais próximas da Verda<strong>de</strong>. O Filósofo é um<br />

cocheiro que viu mais sobre o Mundo das <strong>Idéias</strong>, fato que sugere mais um<br />

acontecimento casual.<br />

Como o acaso toma parte especial em todas essas estoriazinhas, não?<br />

Platão, não contente, ainda complementa: “O melhor que po<strong>de</strong> acontecer a um<br />

Filósofo é morrer, porque ele retornará ao Mundo Inteligível (das Formas ou das<br />

<strong>Idéias</strong>) e po<strong>de</strong>rá contemplá-lo plenamente”.<br />

Nirvana?<br />

“A Filosofia é uma preparação para a morte”?<br />

13


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

A MORTE DO JORNALISMO?<br />

Na escola se apren<strong>de</strong> a forma, o número <strong>de</strong> toques, apren<strong>de</strong>-se a digitar,<br />

apren<strong>de</strong> o “que, quando e como”- que hoje é usado para <strong>de</strong>svendar a rotina das<br />

celebrida<strong>de</strong>s. Nada mais do que isso. Nada mais “IN”. Os jornalistas que levam tais<br />

matérias se acham muito “IN”? Só se forem INsano. Se chamar atenção para o jornal<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r disso, o título da matéria está correto. Morreu mesmo.<br />

Em gran<strong>de</strong> percentual o jornalismo trabalha com as noticias <strong>de</strong> novela, as<br />

surpresas do capítulo futuro, bundas na revista Caras e marcas <strong>de</strong> gela<strong>de</strong>ira. Em<br />

verda<strong>de</strong>, em verda<strong>de</strong> vos digo que estão muito dominados. Jornalistas, com a<br />

<strong>de</strong>sculpa da sobrevivência, limitam-se a montar jornais <strong>de</strong> propaganda. Acho que não<br />

<strong>de</strong>vem sobreviver, mesmo. Dominados pela moda, dominados pela mídia MAJOR,<br />

dominados pelo chefe ou chefa – cujo olhar não vai além do nariz – morrem pelos<br />

cantos. Os anos acadêmicos <strong>de</strong> nada serviram. Não se forja um jornalista na escola,<br />

apenas se o aparelha. Escrevemos. Contamos causos. Somos faladores e escritores<br />

contumazes. Noticiamos na fofoca ou na mensagem pela NET. Não adianta<br />

14


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

espernear, nem fazer um quadrinho do diploma e esfregar na cara do resto do<br />

mundo. Esse quadrinho nada vale. Esse quadrinho é biquinho. Biquinho <strong>de</strong> quem<br />

choraminga. O que vale é o talento, sempre. Somos e geramos e editamos notícias e<br />

muitos viverão disto, com ou sem diploma. O que temos que discutir é a revolução<br />

que as novas mídias trouxeram pra o modo <strong>de</strong> pensar do cidadão.<br />

Isso sim é importante.<br />

É ir além. O que muda nestes tempos? On<strong>de</strong> os veículos se rediscutem em<br />

formato e tendências? Porque o jornalismo das gran<strong>de</strong>s re<strong>de</strong>s faz só fofoca?<br />

Devemos dar canudos pra fofoqueira do teu bairro, então? Quantos dias faltam pra<br />

morrer o jornal impresso que não passa <strong>de</strong> fetiche? O <strong>de</strong> Los Angeles já foi. Tem a<br />

ver com a morte da qualida<strong>de</strong> na gran<strong>de</strong> imprensa? E, o Maiquel Jéquiço, foi<br />

enterrado ou não foi?<br />

Bia Werther diz e muita coisa <strong>de</strong>ste texto é baseado em seus escritos: “A<br />

revolução na notícia se dá quando ela transcen<strong>de</strong> o furo do dia e vira história, não<br />

apenas manchete lavada no papel reciclado <strong>de</strong> amanhã”. Daí a MORTE DO<br />

JORNALISMO. Des<strong>de</strong> os anos 70 se previa que manifestações como ARTES DAS<br />

RUAS e NOVAS MIDIAS fariam aparecer a voz do humano comum. E, o humano<br />

comum, nunca teve a palavra para si. Sempre falam em nome <strong>de</strong>le. Padres, pastores,<br />

vereadinhos <strong>de</strong> plantão, <strong>de</strong>putadinhos, seniladores com dores e artralgias crônicas.<br />

Enfim, autorida<strong>de</strong>s. A pessoa comum, quando fala, fala <strong>de</strong> acordo com a moda, como<br />

manda o figurino, para que o editor não corte a fala que “pega mal”. E cineastas<br />

vários previam as religiões eletrônicas e a morte dos livros. Ninguém <strong>de</strong>u trela. Era<br />

mais um programinha para se entreter enquanto a diaba Xuxa fazia das <strong>de</strong>la com a<br />

teta na cara das crianças. E quem po<strong>de</strong> afirmar que respon<strong>de</strong>r a pergunta ainda não<br />

formulada não é jornalismo? Sim... sim... a pergunta! Sem o “como quando on<strong>de</strong><br />

porque” sagrados? E não somos jornalistas? Da fofoqueira ao dono da padaria.<br />

O que diz Bia Werther?: “Acaso a diferença não se apresenta na editoria da<br />

matéria, mais ou menos livre, tendo cada um a sua tendência? O limite das laudas, o<br />

conceito <strong>de</strong> furo, o furor, o caixeiro viajante da notícia”. Há necessida<strong>de</strong> do papel, ou<br />

15


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

basta um PDF pela re<strong>de</strong>? Po<strong>de</strong> ser documentário em filme? Em ví<strong>de</strong>o? Através da<br />

TV? Po<strong>de</strong> ser um Messenger? Blogs e novas mídias são o meio do futuro/hoje.<br />

Abram os olhos por que o futuro é esse que você vê passar pela janela. Na verda<strong>de</strong> o<br />

que não existe é o hoje.<br />

Se você não tem acesso à mídia informatizada é por que os po<strong>de</strong>rosos te<br />

querem alienado. Pau neles!! Gay Talese falava do “noticiar o humano comum”, coisa<br />

que a imprensa do formato quadrado – tradicional - diz que é um jornalismo <strong>de</strong><br />

vanguarda. Falar do humano comum po<strong>de</strong> ser o caminho para falar da Cultura da<br />

Paz. As margaridas do campo não são motivo <strong>de</strong> notícias, mas as mortes e o sangue<br />

alheio são. Esta é a opção que temos? Será que você leitor não enten<strong>de</strong> que precisa<br />

<strong>de</strong> um analista urgente? A PolitiCanalha não fará a sua parte ou teremos que ensinar,<br />

mais uma vez a essa gente que não sabe ler, não sabe interpretar, não sabe<br />

enten<strong>de</strong>r, como se <strong>de</strong>ve legislar?<br />

Ocorre que escrevemos as novida<strong>de</strong>s; contamos a história do nosso tempo.<br />

Muita vez nos repetimos. Quem vai impedir? Terei que andar com um plástico no<br />

carro dizendo: “Não faça história antes <strong>de</strong> consultar um jornalista?” O que fazer com<br />

os blogueiros diários? Não são milhares <strong>de</strong>les jornalistas – pois, diários - sem<br />

canudo? Como regulamentar, como impedir alguém <strong>de</strong> publicar o que quiser, quando<br />

quiser?<br />

Para ser escritor tem que ter diploma, também? Estamos em meio a milhões<br />

<strong>de</strong> notícias do ser humano comum que não tem nenhum <strong>de</strong>staque na gran<strong>de</strong> mídia e<br />

não dá matéria aos olhos da imprensa que já não ven<strong>de</strong> tanto jornal como outrora,<br />

a não ser que Obama olhe Obunda da brasileira. É preciso canudo pra noticiar isto?<br />

Ninguém per<strong>de</strong> o emprego <strong>de</strong> jornalista se for bom. Se tiver tino. Se tiver<br />

talento. Mas se é tão importante, pombas!, enquadrem o canudo! Que a moldura lhe<br />

seja leve. Títulos, e mais títulos, e, que tais, que moldam e formatam a figura da<br />

autorida<strong>de</strong> no assunto. Na vida real a mudança permanece e o ser humano, sem<br />

canudo, continuará com suas mensagens, seja ele médico, músico, filósofo, artista<br />

plástico, ou açougueiro, escrevendo, cantando ou gritando na rua, batendo a<br />

16


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

claquete, pintando o muro. Jornal <strong>de</strong> bairro, Fanzine, Rádio, TV comunitária ou não,<br />

Blog. Porque quem tem o que dizer arranjará uma folha <strong>de</strong> papel, higienizado <strong>de</strong><br />

preferência, um microfone e mandará ver. E se for bom, vai viver disto. Profissional. E<br />

dane-se o resto pois, o resto é restolho do restolhão, com precarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> talento e<br />

falta <strong>de</strong> mufa pra queimar.<br />

Novamente Bia Werther: “E afinal, quando os jornalistas, que <strong>de</strong>veriam ter a<br />

cor da novida<strong>de</strong>, se assustam com o novo é que, realmente, a morte é iminente. Mas<br />

morte é só vida. Mil novas faces; mil novas línguas; tantos milhões <strong>de</strong> veículos quanto<br />

<strong>de</strong> gente no planeta”.<br />

Falai e multiplicai-vos.<br />

17


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

ADAO & EVA NO DIVÃ<br />

Uma interpretação alternativa... – pois nada, nadinha é coisa absoluta -... alternativa à<br />

famosa estória que nos remete a etapas do <strong>de</strong>senvolvimento mental do humano, que ao<br />

nascer ainda não possui a consciência <strong>de</strong>senvolvida, pouco percebendo as coisas que o<br />

cerca; obe<strong>de</strong>ce sem questionar as orientações do Progenitor (Pater Theos). Ou então, o que<br />

é pior, trama e ur<strong>de</strong> nas trevas do <strong>de</strong>sconhecimento e da falta <strong>de</strong> competência,<br />

permanecendo no É<strong>de</strong>n sem ter talento para isso. Puro vício. Com o passar do tempo, o<br />

teórico casal bíblico (lembrando que bíblia é sinônimo <strong>de</strong> coleção <strong>de</strong> livros) inicia um<br />

comportamento questionador e se mostra um casal consciente do que vê no mundo à sua<br />

volta. Primeiro Adão percebe que além <strong>de</strong> covar<strong>de</strong> é inepto. Nem para comer a maçã ele<br />

serve. Tem que receber na boca. Parecem adolescentes. O Pai os <strong>de</strong>clara aptos a seguir<br />

suas vidas sem a Sua Divina proteção. O casal <strong>de</strong>ve se estribar em bom judiciário e amplos<br />

sorrisos.<br />

Adão e Eva estariam aptos a viver com os outros seres do Orbe? Po<strong>de</strong>riam viver como<br />

mortais antes <strong>de</strong> comer do fruto da árvore do conhecimento? São perguntas que ninguém<br />

respon<strong>de</strong>.<br />

Quando Adão e Eva foram criados - pois não passam <strong>de</strong> seres construídos e nada nadinha<br />

18


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

naturais - Pater Theos lhes dava tudo que fosse necessário à vida, só pedia em troca a Fé.<br />

Mais especificamente, que não tomassem contato com o conhecimento do bem e do mal<br />

por conta própria. Ora, para que serviria a Fé se Adão e Eva tinham relacionamento direto<br />

com Deus, portanto, sabiam <strong>de</strong>le, o conheciam, e, por conhecê-lo não necessitavam <strong>de</strong><br />

provar a tal da Fé? Além do mais nada tinham que fazer no Jardim. Limitavam-se a posar<br />

nus para fotos e solenida<strong>de</strong>s ocas. Chamar rio <strong>de</strong> Rio. Declarar que nuvem era Nuvem e<br />

assim por diante.<br />

Então, a pegadinha, em Gênesis 2:16 e 2:17: Or<strong>de</strong>nou o Senhor Deus ao homem, dizendo:<br />

De toda árvore do jardim po<strong>de</strong>s comer livremente; mas da árvore do conhecimento do<br />

bem e do mal, <strong>de</strong>ssa não comerás; porque no dia em que <strong>de</strong>la comeres, certamente<br />

morrerás. Provou-se mais tar<strong>de</strong> que não havia morte alguma. Pura mentira do Senhor.<br />

Alguns exegetas afirmam que a Morte é simbólica e quer significar a perda da ingenuida<strong>de</strong><br />

natural ou pureza original. Forçam a barra.<br />

No começo dos tempos, citando Gaiarsa, era proibido ter conhecimento do Bem e do Mal.<br />

Nos dias <strong>de</strong> hoje as religiões e a política (sucedâneo obrigatório) <strong>de</strong>sejam que saibamos<br />

discernir entre o Bem e o Mal. Afinal é ou não é para discernir o bem do mal? Mas, os<br />

primeiro sinais <strong>de</strong> autoconsciência aparecem; os obstáculos <strong>de</strong>monstram a incapacida<strong>de</strong>.<br />

Dar nome para a COISA é fácil. Difícil é saber para que serve a COISA.<br />

A gincana continua. Outra pegadinha: Gênesis 3:5 A Serpente fala e pelo visto bem<br />

sabe do que fala : Porque Deus sabe que no dia em que <strong>de</strong>le comer<strong>de</strong>s (o fruto da árvore<br />

do conhecimento) se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal.<br />

Outra, em seguida, em Gênesis 3:6: Então, vendo a mulher que aquela árvore era boa<br />

para se comer, e agradável aos olhos, e árvore <strong>de</strong>sejável para dar entendimento, tomou do<br />

seu fruto, comeu, e <strong>de</strong>u a seu marido, e ele também comeu. A mulher saiu na frente na<br />

busca do conhecimento. Nada <strong>de</strong>sse negócio <strong>de</strong> intuição. O legal era saber ali na batata,<br />

como diria Nelson Rodrigues.<br />

Nota-se que o humano, então, olha para si mesmo: consciência da condição e da<br />

individualida<strong>de</strong>.<br />

Deus, meio brabo, suspen<strong>de</strong> todo o privilégio do casal, o que <strong>de</strong>nota uma tendência à fúria<br />

e certo <strong>de</strong>sequilíbrio. Anuncia que Adão e Eva enfrentarão <strong>de</strong>safios que são, na verda<strong>de</strong>,<br />

as coisas da vida cotidiana, para ver on<strong>de</strong> aperta o calo. Consciência autônoma ao livre<br />

arbítrio. É como se Deus dissesse: - “Vão e construam a civilização!”<br />

19


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

Provavelmente, apesar <strong>de</strong> que não há maneira nenhuma que possamos provar, a partir<br />

<strong>de</strong>sse momento cessa a relação moral <strong>de</strong> Deus com a humanida<strong>de</strong>. Deus lava as mãos. Foi<br />

embora para o Sinai com suas trombetas.<br />

O repórter bíblico no diz o seguinte: Gênesis 3:22: Então disse o Senhor Deus: Eis que<br />

o homem se tem tornado como um <strong>de</strong> nós (nós quem? Que plural é esse? Ele falava dos<br />

elohim?), conhecendo o bem e o mal. Ora, não suceda que estenda a sua mão, e tome<br />

também da árvore da vida, e coma e viva eternamente. E, tendo tais palavras saído da boca<br />

<strong>de</strong> Deus é, portanto, possível que o humano se torne eterno. Será essa árvore o genoma<br />

que se vem <strong>de</strong>codificando? Até vejo os elohim dizendo em coro: - “Mas quem mandou<br />

criar esses caras? Agora, segura o rojão, meu”.<br />

O “processo <strong>de</strong> criação da espécie humana" não se realiza no instante em que Deus cria o<br />

homem do barro e a mulher <strong>de</strong> sua costela (isso segundo a visão patriarcal; há eruditos que<br />

afirmam que a palavra que traduziram por costela po<strong>de</strong> ser traduzida por célula, um pedaço<br />

do outro, uma parte do código genético, sêmen e por ai vai. Outros, não patriarcais,<br />

afirmam que houve separação do ser duplo em dois, ou seja, tanto Eva saiu da costela <strong>de</strong><br />

Adão quanto Adão saiu da costela <strong>de</strong> Eva; <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> quem conta a tal da história ou<br />

estória. Se isso for crucial para a existência e manutenção <strong>de</strong> qualquer religião, estamos<br />

mesmo feitos). No <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> toda a história humana no Jardim do É<strong>de</strong>n, começando com<br />

sua individualização espacial (circunscrição física) através do barro, passando pela<br />

individualização da consciência pelo ato <strong>de</strong> comer o fruto proibido; acarretou a expulsão e<br />

<strong>de</strong>u início ao retorno ao Paraíso ou à busca da felicida<strong>de</strong> perdida. O que viesse primeiro.<br />

A serpente é uma antiga divinda<strong>de</strong> da sabedoria no Oriente Médio, portanto não<br />

surpreen<strong>de</strong> que nesta história haja a presença <strong>de</strong>la junto à árvore do conhecimento. Como o<br />

europeu sempre odiou e chamou <strong>de</strong> Mal o que vinha <strong>de</strong> África e Oriente, <strong>de</strong>ram a pecha<br />

<strong>de</strong> diabólica para a serpente, mas o que é um Seraphin se não uma serpente? Serafim,<br />

seraphin, serápis.<br />

20


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

CARTA AOS AFRO-BRASILEIROS<br />

DE MOCOCA<br />

reflexões sobre panfleto encontrado no chão em 2004 / mas quem sou eu se não um branco<br />

KWANZAA<br />

Festa da Raça Negra / Está aí um texto compilado do fol<strong>de</strong>r-convite que encontrei.<br />

Não po<strong>de</strong> ser seu amigo quem exige seu silêncio ou atrapalha seu crescimento é uma frase<br />

assinada por Alice Walker, escritora afro-americana. Pensar / ver / meditar.<br />

Em busca da reparação: Reparar significa o Estado reconhecer, baseado nas <strong>de</strong>cisões da III<br />

Conferência Mundial Contra o racismo, a Discriminação, Racial, a Xenofobia e Formas<br />

Conexas <strong>de</strong> Intolerância - realizada, em 2001, na África do Sul - que o colonialismo e a<br />

escravidão cometidos no passado foram crime contra a humanida<strong>de</strong> / as novas gerações <strong>de</strong><br />

negros e negras que sofrem, ainda hoje, as conseqüências do crime, <strong>de</strong>vem ser reparados <strong>de</strong><br />

imediato, pois o Brasil, a Europa e o mundo <strong>de</strong>vem reparações ao povo negro. On<strong>de</strong> está<br />

divisão <strong>de</strong> riquezas? Com pretexto na Lei Áurea, enquanto os ex-escravos faziam sua festa, as<br />

fazendas se livravam dos caras. Os italianos chegavam para serem explorados.<br />

21


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

Atraso Histórico: Qual é a ação dos interessados afro-<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes? Há reuniões? Debatem<br />

o assunto? Refletem sobre as perdas? É reunião secreta? O Brasil foi o último país no mundo<br />

a abolir a escravidão e o penúltimo a interromper o tráfico <strong>de</strong> seres humanos. A Igreja via<br />

tudo dava apoio. Tinha ela também sua cota <strong>de</strong> escravos. O país foi também o que mais<br />

recebeu escravos vindos da África entre as Américas – cerca <strong>de</strong> 3,6 milhões. Fica por isso<br />

mesmo? Sugiro que as terras das igrejas <strong>de</strong> cada cida<strong>de</strong> sejam divididas entre os<br />

afro/<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes. Po<strong>de</strong>mos começar daí. E que cada igreja <strong>de</strong> cada cida<strong>de</strong> peça <strong>de</strong>sculpas<br />

públicas. De joelhos.<br />

Números vergonhosos: Um Brasil branco 2,5 vezes mais rico que o Brasil negro. Dos<br />

pobres, 64% é negro e dos indigentes 69% são negros. De acordo com o MEC – po<strong>de</strong>-se<br />

questionar, mas, não sentado em seu trono <strong>de</strong> cana-ver<strong>de</strong> - 15,7% dos estudantes formados<br />

são negros e 84,3% são brancos (quer dizer, brancos... quem é branco nesse país?). De acordo<br />

com o IBGE, para cada ano <strong>de</strong> estudo, os consi<strong>de</strong>rados brancos têm sua renda elevada em<br />

1,25 salários, enquanto os negros 0,53 salários. Portanto há preferência clara e a facilida<strong>de</strong> que<br />

advieram dos 300 anos <strong>de</strong> escravidão. Isso é inegável.<br />

Quem muda a situação?: De acordo com a justiça distributiva um indivíduo ou grupo têm<br />

direito <strong>de</strong> reivindicar as vantagens perdidas por condições sociais adversas. Será esse o caso?<br />

Quem sabe uma análise <strong>de</strong> ascendência. Netos e bisnetos <strong>de</strong> escravos. Alguém ainda tem a<br />

carta <strong>de</strong> alforria da família? Ou Reivindicações: Para a superação do racismo, é imperativo<br />

que se adote uma política <strong>de</strong> reparações que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a in<strong>de</strong>nização material, passando por<br />

um conjunto <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> ações afirmativas. Todos se interessam por ações como essa? Tem<br />

algum advogado quem vai peitar a situação? Isso tudo tem a ver com a realida<strong>de</strong> e a<br />

conjuntura política atual? Os políticos negros se interessam pelo caso? Há quem diga que os<br />

negros escravizavam a si mesmo. Isso serve <strong>de</strong> atenuante ou agravante? Ou serve para nada?<br />

Seguirão daí como consequências: Cotas proporcionais à dimensão populacional <strong>de</strong><br />

negros/as no Brasil, concomitante a um super-melhoramento no ensino gratuito para todos, e<br />

esperamos que isso queira dizer melhora no sentido <strong>de</strong> LIBERDADE, e não <strong>de</strong> obediência.<br />

Mais. Cotas proporcionais a negros/as nos cargos comissionados no serviço público<br />

municipal. Isso po<strong>de</strong> começar hoje aqui em Mococa. É fácil, pois, tem muita gente<br />

incompetente em seus troninhos e sinecuras e no próximo concurso a quota já po<strong>de</strong> valer – os<br />

legisladores levantarão suas penas e trabalharão nisso. E não há dúvida alguma sobre isso. A<br />

cor da pele manda. Se ficar no café com leite negro não é. Tem que ser negro negro mesmo.<br />

Quase azul. Elegeremos como padrão os BANTOS. Ou mais condizente com as crianças<br />

Yoruba da foto. E, à medida que negros e brancos mais se miscigenam as cotas diminuirão<br />

22


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

gradativamente. Como cidadão é uma sugestão, como ser humano cosmopolita é uma or<strong>de</strong>m.<br />

Mais. Democratização racial da imagem em todos os veículos e peças <strong>de</strong> TV. Isso já rola, mas<br />

soa como obrigação. Bom... os africanos foram obrigados a virem para o país que não era<br />

<strong>de</strong>les. É sempre um prazer ver o Francisco apresentando o noticiário da TV. Vida longa ao<br />

Francisco.<br />

MAIS: Exigência <strong>de</strong> cumprimento <strong>de</strong> cota <strong>de</strong> 30% (ou 20, ou 10, ou 15, sei lá) <strong>de</strong> negras e<br />

negros em todos os níveis hierárquicos das empresas que participarem <strong>de</strong> licitação e<br />

concorrência da administração pública municipal. A nota final <strong>de</strong>ve ser a mesma mas a cota<br />

está em separado. Vamos revolucionar. Já! Não é questão <strong>de</strong> facilitar nada. A nota para passar<br />

será a mesma. A vaga é que está à parte. Em vez das chicotadas, uma vaga.<br />

Instituição do feriado <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> novembro: É coisa que Mococa já aplica, no sentido errado,<br />

penso. Lembro que levei a idéia da lei nesse sentido a uma professora que era vereadora e<br />

presi<strong>de</strong>nte da Câmara em tempos idos e ela me disse, tutelada pelo seu título <strong>de</strong> professora <strong>de</strong><br />

História: “Ah! Se é assim tem que ter feriado pra árabe, italiano, japonês... e por aí foi, mal<br />

pensando ela que os africanos foram trazidos à força e os <strong>de</strong>mais vieram atrás <strong>de</strong> melhores<br />

vidas, por livre espontânea vonta<strong>de</strong>”. Peguei o meu projeto <strong>de</strong> lei e levei para o Sr. Chico<br />

Enfermeiro que acabou fazendo a Lei passar, mas assinou como se fora <strong>de</strong>le. Próprio da<br />

Veneranda Casa.<br />

Na antiga propositura não tinha nada a ver com feriado. Tinha a ver com uma semana <strong>de</strong><br />

reflexão e arte, em torno do dia 20 <strong>de</strong> novembro e a propositura buscava valorizar o<br />

trabalhador negro que, buscando melhores situações para a sua vida, foi trabalhar, por força,<br />

vendido e humilhado, em outro país e lá ficou, como o caso do LAU que faleceu em<br />

Portugal. E era negro. E era artista. E era produtor <strong>de</strong> cultura. Era <strong>de</strong> Mococa e ninguém quis<br />

saber <strong>de</strong>le. Nem as namoradas. Ou uma certa namorada específica. Ninguém. Que mais?<br />

História: Introdução da História da África e do negro no Brasil no currículo das escolas. Já!<br />

Eu mesmo <strong>de</strong>sejo saber mais sobre Bantos e Hotentotes. Sobre Yorubá. Mococa po<strong>de</strong> dar o<br />

pontapé inicial E, sair em continuida<strong>de</strong> com outros professores e artistas e esportistas locais.<br />

Capoeira neles. Agregar estes grupos <strong>de</strong> capoeira, mas não paternalizar.<br />

Terras: Tributação da terra às comunida<strong>de</strong>s urbanas e rurais <strong>de</strong> negros/os remanescentes dos<br />

quilombos. Po<strong>de</strong>mos averiguar como anda a Guardinha. Pesquisar sobre quilombolas<br />

remanescente e gerar a herança. Já! Vereadores, acordai, tomai da pena e fazei a justiça!<br />

Trabalho: Garantir o cumprimento da convenção 111 da Organização Internacional do<br />

Trabalho.<br />

Saú<strong>de</strong>: Implementar programas especiais <strong>de</strong> prevenção <strong>de</strong> doenças que prevalecem na<br />

23


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

população negra como miomatoses, lúpus, anemia falciforme. Suscitar pesquisa neste sentido.<br />

Ter atenção sobre tais segmentos. E a tal da Religião: Respeito e estudo das religiões <strong>de</strong><br />

matriz africana. Rituais. Dogmas. Cursos <strong>de</strong> Yorubá e Candomblé em todas as escolas,<br />

principalmente nas particulares. Aliás isso <strong>de</strong>ve ser obrigatório. As escolas <strong>de</strong> cunho religioso<br />

<strong>de</strong>vem incluir candomblé em seus currículos.<br />

Cursos <strong>de</strong> música com temática em quimbanda, jongo, congo, samba. Imaginem, SAMBA I,<br />

no primeiro semestre da escola <strong>de</strong> música <strong>de</strong> Mococa?<br />

Nossa, quanta lei. O vereador que quer viver dando nome <strong>de</strong> rua a seus parentes é por que<br />

tem a moleira mole e a cachola não funciona como <strong>de</strong>ve. Entrega a pasta.<br />

Estímulo e apoio à produção cultural afro-brasileira. Radical! Quero um Museu do Negro na<br />

cida<strong>de</strong>. As fazendas da região cresceram sob esses braços.<br />

É isso.<br />

Votos <strong>de</strong> sucesso, vida longa e prosperida<strong>de</strong>.<br />

BOA VIDA. TRABALHE MENOS. PENSE MAIS. FAÇA ARTE.<br />

24


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

CINEMA & CORO na MOCIDADE<br />

A FatecMococa tem como meta a difusão da cultura, através do seu Núcleo.<br />

Dessa forma não se limitará a seu prédio - prédios,<br />

em breve - e espalhará ações culturais em várias<br />

regiões e outros prédios da cida<strong>de</strong>. Dessa vez a<br />

Mocida<strong>de</strong> Espírita, aqui nos caminhos do bairro da<br />

Aparecida, a convite da Sra. Ivani Rafaldini (1),<br />

abriu suas portas para esta ação cultural e lá permitiu que se formasse um Coro e<br />

um grupo que grava filme e montará peças <strong>de</strong> teatro, ao final das filmagens. Uma<br />

parceria Fatec/Mocida<strong>de</strong>.<br />

25


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

Julho, <strong>de</strong> O FANTASMA DA CASA VELHA,<br />

roteiro baseado numa estória <strong>de</strong> Oscar Wil<strong>de</strong>. No<br />

elenco temos Maria Augusta (2) – atriz importada <strong>de</strong><br />

Monte Santo, Adriana Gomes (3) – no papel do<br />

imagens da cida<strong>de</strong>, com seus jardins, casas e<br />

locais <strong>de</strong> uso comum. Uma antropologia visual<br />

da cida<strong>de</strong>. Uma sociologia através <strong>de</strong> filmes e<br />

ví<strong>de</strong>os que contam a nossa era. É certo que a<br />

A idéia é levar um tanto da mensagem da<br />

MOCIDADE, mista à literatura <strong>de</strong> todos os<br />

tempos. Deixo, a todos, convite para a estréia, em<br />

FANTASMA, Adriana Dias (4), Amanda Garcia(4),<br />

entre outros. Inteiramente gravado em Mococa,<br />

usando as instalações da Mocida<strong>de</strong>, o CinemaFatec,<br />

além <strong>de</strong> filmes acaba por construir um acervo <strong>de</strong><br />

obra tem origem n’O FANTASMA DE CANTERVILLE, portanto, obra<br />

inglesa, mas são contingências.<br />

O FANTASMA DA CASA VELHA se transformará em DVD e será vendido,<br />

oportunamente, para consecução <strong>de</strong> recursos <strong>de</strong>stinados ás obras assistenciais da<br />

MOCIDADE. Logo, trata-se <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> artística com fim social, também.<br />

E, o Coro?<br />

O CORO da MOCIDADE vem trabalhando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> fevereiro e se preocupa<br />

com um repertorio <strong>de</strong> música folclórica e MPB. NOZANINÁ (Arr. De Villa-<br />

Lobos), CANTO DO POVO DE UM LUGAR (Caetano Veloso), CALIX<br />

BENTO (folk mineiro), AZULÃO (<strong>de</strong> Jaime Ovalle), UIRAPURU (do folclore)<br />

e mesmo o HINO DO CENTENÁRIO DE MOCOCA (<strong>de</strong> Elvira Dinamarco<br />

<strong>Coelho</strong> e José Barreto <strong>Coelho</strong>); obras em processo <strong>de</strong> construção. Fez concerto<br />

<strong>de</strong> estréia em Março. Outros concertos virão.<br />

26


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

Se você é uma pessoa sem preconceitos – i<strong>de</strong>ologia e religião à parte - venha<br />

participar conosco do Canto Coral, cujos ensaios são na se<strong>de</strong> da Mocida<strong>de</strong>, do<br />

outro lado do rio, no entroncamento entre Brás/Aparecida/Descanso, toda<br />

quinta feira, 20:15 horas. Sempre haverá por lá boa música, um pouco <strong>de</strong><br />

preparação vocal e teoria musical para ampliar o conhecimento.<br />

Em momento oportuno falaremos mais das ativida<strong>de</strong>s corais e seus<br />

<strong>de</strong>senvolvimentos.<br />

Boa semana.<br />

27


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

CULTIVAR O PADRÃO<br />

A REPETIÇÃO / O CÔMODO<br />

Quando se foge do padrão, as pessoas caem <strong>de</strong> pau em você.<br />

Transfiramos a abordagem para o teatro que queremos, por exemplo, ou que<br />

<strong>de</strong>sejamos ou que sonhamos. Posso fazer o mesmo com a música. Música<br />

mo<strong>de</strong>rna ou contemporânea. Enquanto meu CD <strong>de</strong> Natal sempre ven<strong>de</strong> muito<br />

todo ano (padrão) as minhas obras contemporâneas ven<strong>de</strong>m nada. Será que é aí<br />

que falamos <strong>de</strong> arte e comercio? Que peça fará sucesso? De que jeito essa peça<br />

fará sucesso. Quanta mídia se <strong>de</strong>ve comprar – TV, rádio, jornal – já com suas<br />

boas resenhas embutidas, pois tudo se resume a comprar algo. Não há, em<br />

Mococa, uma crítica espontânea da arte. Será que não há um meio <strong>de</strong> nada<br />

comprar para criar ou usufruir arte? E para isso há regras e normas e leis?<br />

Fazendo assim o público virá? Fazendo assado não vem mais? Mas e o público<br />

acomodado que não sai do lugar merece futuro? Por que <strong>de</strong>vo contar e pagar<br />

28


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

tudo <strong>de</strong> 30 em 30 dias se levo 146 dias para compor uma obra musical? Então<br />

não é possível experimentar? Resposta: Não!<br />

Mas o experimento é a fonte do trabalho bem acabado. Empirismos. E se eu só<br />

quiser experimentar? Talvez não tenha público durante muito tempo, pois o<br />

povo <strong>de</strong>seja ver aquilo que não os pegue <strong>de</strong> surpresa. Se Deus aparecesse em<br />

forma <strong>de</strong> cubo ou pirâmi<strong>de</strong> ninguém acreditaria. O povo – essa entida<strong>de</strong> leiloada<br />

e usada por todos - é comodista e meio burro. Símbolos passam batido pela<br />

maioria. A maioria <strong>de</strong>seja tudo bem mastigadinho, pois para isso foi domesticada<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a escola. Sem esforço. O único esforço é o <strong>de</strong> ser escravo. Para isso foram<br />

educados.<br />

Será que po<strong>de</strong>mos sair dos formatos <strong>de</strong> sempre já que sempre houve mudanças<br />

nos formatos do teatro / da música / do cinema / ao longo dos séculos ou essa<br />

mudança é tão lenta que ninguém percebe?<br />

Hoje, quando a busca do exótico beira a loucura talvez os <strong>de</strong>uses do dinheiro<br />

permitam que novas imagens subam a palco. Plutões, donos do capital, novos<br />

<strong>de</strong>uses, que se alimentam <strong>de</strong> novas almas para almoçarem e elevarem os pontos<br />

do ibope; fenômeno: logo que são humilhados começam a lucrar. Mas,<br />

enquanto isso, artistas, prevejo que <strong>de</strong>vemos urdir na noite o que e como <strong>de</strong>ve<br />

ser o futuro. Po<strong>de</strong>mos errar e assim somos nós. Nossa estrada é traçada <strong>de</strong> erros,<br />

então <strong>de</strong>scobrimos novos caminhos.<br />

Pensemos sobre isso. Mas, não se iluda, artista e livres pensadores, somos só nós<br />

os que havemos <strong>de</strong> pensar. O resto do mundo pensa em mais nada. Vive <strong>de</strong><br />

inércia, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um padrão pré-estabelecido. Uma bola <strong>de</strong> neve que espera o<br />

poste.<br />

Mesmo que vivamos esse padrão em muita coisa que fazemos, também fazemos<br />

a diferença por que rompemos o padrão. E, essa diferença não quer dizer que<br />

seja para melhor. Não temos obrigação com o melhor. O mito do melhor vem<br />

daquele que nos explora é quer o melhor que produzamos. Não há essa<br />

obrigação do melhor pois não sabemos do que se trata, esse tal melhor. Em<br />

29


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

geral é melhor para alguém outro e não para nós. Aquilo que as pessoas falam<br />

que é o melhor, em geral, é aquilo que faz alguém lucrar algo. São palavras <strong>de</strong><br />

Faraó, aquele que <strong>de</strong>tém o po<strong>de</strong>r, que dita a norma e o que <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado<br />

bom. Não se iluda. O artista po<strong>de</strong> ser a diferença que esculhamba o normal –<br />

padrão – do dia a dia; e as pessoas não querem saber <strong>de</strong>sses caras. Po<strong>de</strong> crer.<br />

O artista <strong>de</strong>ve ficar livre. Manter o processo crítico. Não se aliar a clubes talvez?<br />

Ou, ao menos estar ciente <strong>de</strong> que po<strong>de</strong> ser expulso do clube. Woody Allen -<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Grouxo Marx - disse que não entraria num clube que o aceitasse<br />

como sócio.<br />

Utopias. Mentiras ditas mil vezes.<br />

Sempre digo que quando o dia 21 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2012 chegar e a eletricida<strong>de</strong><br />

for pro beleléu, nós os artistas não teremos nada a per<strong>de</strong>r. Teatro não precisa <strong>de</strong><br />

iluminação especial e po<strong>de</strong> ser feito na rua – já um plei-esteixon ou um<br />

microfone <strong>de</strong> lapela não funciona mais. Teatro pobre! O ator e mais nada.<br />

Música: Nem se precisa <strong>de</strong> instrumento. Canto ou assobio. Mas se quiser faço<br />

uma flauta <strong>de</strong> bambu ou bumbo dionisíaco ou lira orfeica e pronto. Já a fábrica<br />

<strong>de</strong> lata ou gelatina, elas precisam <strong>de</strong> energia para gastar e poluir e impactar a<br />

natureza em nome do progresso. Então elas pararão <strong>de</strong> funcionar. Enfim<br />

alguma coisa boa.<br />

Escrita: Papel reciclado e tinta natural, como era dantes na casa <strong>de</strong> abrantes. Ou<br />

escreverei com barro ou merda – seguindo o Marques <strong>de</strong> Sa<strong>de</strong> – nas pare<strong>de</strong>s das<br />

ruínas. Acredito que merda sempre existirá. Rembrandt fazia sua própria tinta,<br />

não com merda mas com tinturas naturais. Agora, as usinas <strong>de</strong> produção <strong>de</strong><br />

gasolina precisam <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong>, diesel; e a energia nuclear? Param ou não?<br />

E, é claro, tais indústrias precisam <strong>de</strong> seus escravos para o trabalho. Her<strong>de</strong>iros<br />

dos faraós embalsamados, como diz o poeta, necessitam da mão <strong>de</strong> obra barata.<br />

É... A arte não para.<br />

Quando não nos <strong>de</strong>ixam falar inventamos um blog ou gritamos na rua.<br />

30


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

Acabou a eletricida<strong>de</strong> e acabou o blog? Sobe-se no palco ou se faz teatro <strong>de</strong> rua.<br />

Mambembes. O diferencial é ir atrás do auto-falante: teatro, música, ví<strong>de</strong>o... são<br />

as armas. Mesmo assim muita vez nos <strong>de</strong>sconvidam pela impertinência. Nossa<br />

expressão corporal na rua (pose?) é nossa arma e ban<strong>de</strong>ira fincada no solo. Mas,<br />

será esse mesmo o caso. Fazer arte e ven<strong>de</strong>r e, <strong>de</strong>pois, sofrer se não compram?<br />

Cada um compra o que quiser. E pra que servirá tudo isso se não passa <strong>de</strong> mera<br />

arte? Ars gratia Ars. E por minha conta.<br />

Lembro das aulas <strong>de</strong> psicologia – nos idos dos anos 80 - quando concluíamos,<br />

friamente, da insignificância do artista. É isso. Somos completamente<br />

insignificantes até o momento em que balimos iguais a sertanejos ridículos<br />

fingindo cantar; ou choramos na novela das seis por causa da menina com falsa<br />

leucemia; ou se fazemos o Analista <strong>de</strong> Bagé no teatro, com casa cheia falando<br />

bobagem a dar com o pau para que a burguesia babaca chore <strong>de</strong> rir. Aí nos<br />

tornamos valores. Tornamo-nos dinheiro viável. Potencial <strong>de</strong> lucro. Cheios <strong>de</strong><br />

amigos. Cercados <strong>de</strong> produtores. A mídia do nosso lado.<br />

Quero entrar numa sala <strong>de</strong> aula com 45 alunos para escangalhar 45 cabeças <strong>de</strong><br />

uma vez com muita aula <strong>de</strong> Filosofia. Meu projeto é ser diretor do Oscar<br />

Villares, lá pelo ano 2016, e continuar a ensinar como se faz.<br />

31


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

DEDÉ, MUSSUM E ZACARIAS<br />

Alguns sete representantes da Câmara <strong>de</strong> Mococa merecem parabéns pela<br />

atuação na mo<strong>de</strong>rnização das leis da casa, mormente pela lei <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação e a lei<br />

do nepotismo. Li o Informe Publicitário e acredito que se po<strong>de</strong> tirar o luto. Não<br />

há que temer o luto. Há sim o nojo em relação aos outros três. No começo não<br />

entendi o texto e <strong>de</strong>ixei para ler em outro momento. No outro momento percebi<br />

que ainda havia troca <strong>de</strong> MAS por MAIS. Para mim o texto ficara sem sentido.<br />

32


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

Consegui, <strong>de</strong>pois, após abluções matinais, perceber o teor da notícia, e sua cabal<br />

importância, mas, temi que pedissem <strong>de</strong> volta a minha Moção <strong>de</strong> Repúdio.<br />

Caros OS SETE POR MOCOCA. Fizeram com que me lembrasse <strong>de</strong> OS SETE<br />

CONTRA TEBAS, peça importante do mundo grego. A partir <strong>de</strong>la surgiram O SETE<br />

SAMURAIS e SETE HOMENS E UM DESTINO.<br />

Esta história tem um <strong>de</strong>senvolvimento edípico. Vejamos: Édipo <strong>de</strong>scobriu ser filho<br />

<strong>de</strong> sua mulher – a tal Jocasta. Vazou os olhos e retirou-se expulso da cida<strong>de</strong> acompanhado<br />

pela filha Antígone. Os filhos, ao tomarem conhecimento do incesto do pai, viraram-lhe as<br />

costas. Édipo lançou uma maldição: os dois irmãos se tornariam inimigos e um mataria o<br />

outro.<br />

Com medo da previsão, resolveram partilhar o po<strong>de</strong>r cada um assumindo o trono<br />

por um ano alternadamente. Etéocles foi o primeiro a reinar, porém, ao se completar um<br />

ano, este se negou a entregar o trono ao irmão. Polinice partiu para Argos e lá recebeu o<br />

apoio do rei Adrasto. A expedição dos SETE CHEFES foi, pois, a reunião <strong>de</strong> sete<br />

príncipes chefiados por Adrasto que marcharam em direção a Tebas a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrubar<br />

Etéocles e entronar seu irmão. Po<strong>de</strong> nada ter a ver, mas, o número sete, neste caso heróico,<br />

é simbólico e acredito que represente o trabalho <strong>de</strong> uma verda<strong>de</strong>ira e veneranda Câmara<br />

mo<strong>de</strong>rna e articulada com as necessida<strong>de</strong>s da população, ou, pelo menos, da lei. Falta<br />

agora votar uma lei para VOTO-NÃO-SECRETO em todas as instâncias, se é que os edis<br />

<strong>de</strong>sejam <strong>de</strong>ixar seus nomes marcados na história da cida<strong>de</strong>. OS SETE POR MOCOCA<br />

mostram que são in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />

Os outros três, no caso OS TRES CONTRA MOCOCA <strong>de</strong>monstram a objetivida<strong>de</strong><br />

da tal Moção <strong>de</strong> Repúdio <strong>de</strong> antanho. Sim, pois os três restantes <strong>de</strong>monstram que estão<br />

contra a <strong>de</strong>mocraticida<strong>de</strong> na cida<strong>de</strong> (ops!), e mostram, por caminhos turvos, quem insulou<br />

a turma para assinar a Moção. Em face disso fica claro que OS TRES CONTRA<br />

MOCOCA têm algum interesse nessa coisa toda <strong>de</strong> regulamentação e nepotismos à parte.<br />

Mas isso o Executivo resolve com uma canetada rápida. OS TRES CONTRA MOCOCA<br />

estão colocando maguinhas <strong>de</strong> fora e se <strong>de</strong>nominam reis-da-cocada-preta. A base do ídoloo<br />

é <strong>de</strong> barro. Isso prova, também, que não é o número <strong>de</strong> votos que faz a diferença. Mas a<br />

inteligência dos SETE POR MOCOCA está fazendo. Se essa rapaziada – tabebuias à parte,<br />

me entendam – mantiver a linha <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência, soberania e visão da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>,<br />

po<strong>de</strong>m escrever Mais em lugar <strong>de</strong> Mas, quantas vezes quiserem, que serão absolvidos por<br />

aqueles que sabem que política se faz com outros valores. Não é o valor <strong>de</strong> um judiciário<br />

33


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

poético/dormente/sonhador, nem as lacunas gengivais <strong>de</strong> um sorriso interesseiro e amarelo,<br />

nem as catapultas sindicalistas prontas para uma abordagem na galera medieval do vizinho<br />

– valha-me são Getulio Vargas!, nem as <strong>de</strong>strezas enigmáticas dos seguidores <strong>de</strong> Calvino,<br />

ungidos pela aura advocatícia sem escrúpulos. Sei não, mas, acredito que qualquer pastor<br />

bateria nas mãos <strong>de</strong>sses TRES CONTRA MOCOCA. Feio! Han! Seu Feio!<br />

Simples conta <strong>de</strong> somar. O SETE POR MOCOCA versus OS TRES CONTRA<br />

MOCOCA, e, o título da coluna, tiram qualquer dúvida.<br />

34


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

SEXO ESPIRITUAL<br />

DIARIO DE PIRATAS – EXCERPTOS ALEGÓRICOS<br />

- aos filibusteiros –<br />

Há motivos que nos induzem a práticas obscenas. Obscena quer dizer, fora <strong>de</strong> cena. Não<br />

que seja feio, mas que está fora da visão da platéia, por assim dizer. Aquilo que não dá<br />

para ver.<br />

Uma <strong>de</strong>las é a espiritualida<strong>de</strong>. Nada mais obsceno que a espiritualida<strong>de</strong>. Ninguém vê. E, o<br />

que sentem - “a energia que rola” - tem muito <strong>de</strong> <strong>de</strong>lírio coletivo, individual, ou fé<br />

cênica. Invencionices <strong>de</strong> uma mente romântica, por assim dizer.<br />

Quantas e quantas vezes atriz ou ator não subiram ao palco para trazerem <strong>de</strong> trás da<br />

cena – ou <strong>de</strong> trás <strong>de</strong> suas máscaras - aquilo que estava escondido. Esse tal escondido é<br />

o obsceno. E a atriz ou ator conseguem essa proeza através da Fé Cênica.<br />

A Fé Cênica representa aquilo que não existe. Um avatar.<br />

Sabe quando você vai a uma loja ou restaurante e pergunta se o produto é bom? A<br />

resposta tem que ser sempre positiva ou não ven<strong>de</strong>rão o tal produto mesmo que o<br />

bacalhau já tenha passado do tempo. Por essa razão qualquer pastor <strong>de</strong> almas dirá que a<br />

espiritualida<strong>de</strong> está à mão, <strong>de</strong> como se po<strong>de</strong> “sentir” as vibrações, seja lá o que seja<br />

35


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

isso. Há inúmeros manuais para se sentir a alma e perceber as vibrações e a<strong>de</strong>ntrar o<br />

mundo da espiritualida<strong>de</strong>.<br />

Já ouviu falar em motel especial para mentes e almas? Ninguém ouviu. E que dizer<br />

quando se discute o problema da química entre amantes...? O que será que acontece no<br />

momento em que se conhece alguém? Não existe nada <strong>de</strong> espantoso nisso tudo... Mas,<br />

também, ninguém sabe <strong>de</strong> nada... As pessoas preferem a complicação ao invés do que é<br />

mais simples. Quando encontramos a pessoa o que vemos é seu corpo e seu rosto e suas<br />

características humanas. A pessoa olha você e você a olha e surge o interesse. Chamam<br />

isso <strong>de</strong> química. Falta é palavra a<strong>de</strong>quada, na verda<strong>de</strong>. Daí o surgimento da poesia... por<br />

pura falta da palavra a<strong>de</strong>quada. Po<strong>de</strong> ser que a imagem fotográfica do i<strong>de</strong>al que alguém<br />

tem na cabeça combina com a imagem que vê naquele momento. Nada mais do que<br />

programação. Depois, com os anos, tudo muda, é claro, mas, naquele momento que<br />

chamaremos <strong>de</strong> mágico, é fatal: Amor à primeira vista. Amor, por falta <strong>de</strong> palavra melhor.<br />

O inexplicável.<br />

Será que o fenômeno da observação da alma ocorre imediatamente? É como o Allen<br />

Palito em sua prova <strong>de</strong> metafísica, expulso que foi da sala por que o pegaram colando...<br />

ele olhava para a alma da aluna que se sentava ao lado. E na falta <strong>de</strong> uma alma ao<br />

lado?<br />

Provavelmente não passa <strong>de</strong> resposta imediata da biologia e o clamor da manutenção das<br />

espécies. Sim! Nada <strong>de</strong> amor. Apenas clamor. Em primeiro lugar, mandam os ditames<br />

biológicos: temos que preservar a espécie da extinção que se aproxima. Amor é<br />

construção cultural. Assim como o romantismo e o cavaleiro andante e a idéia <strong>de</strong> que a<br />

Terra é centro do Universo. Amor é para todos e com todos: ágape i<strong>de</strong>al. Amor e sexo<br />

são coisas diferentes. É, claro, que as pessoas buscam aliança entre iguais, ou ainda,<br />

buscam compromisso para manter o estado <strong>de</strong> equilíbrio – na melhor das hipóteses – cá<br />

entre nós há quem procure o par que lhe bata na cara ou o sove com ancinho -, que é<br />

prática comum nas socieda<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnas e a cultura manda, mas, nada disso tem a ver<br />

com amor. O assunto é bem outro.<br />

No clamor da carne o que se quer é coito. Alguém quer ser coitado.<br />

De preferência com alguém que responda aos seus valores estéticos, pois isso estimula a<br />

obtenção <strong>de</strong> prazer. Se houver coincidência nos gostos certamente rolará algo. Abre-se o<br />

clima. Ilumina-se a cena com valores <strong>de</strong>r romantismo quixotesco e exotismos. Se não<br />

houver coincidência alguma, que é o que ocorre na maioria das vezes; nada rola e parte-<br />

se para outra, que é o que ocorre na maioria das vezes.<br />

36


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

Os sensores animais percebem a boa genética e um bom <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> corpo, <strong>de</strong> acordo<br />

com os padrões investidos pela moda.<br />

Quando há união entre <strong>de</strong>sastres estéticos - segundo a moda vigente, é claro – o que<br />

chamam <strong>de</strong> amor será eufemismo para tolerância mútua, cercada por ambiente <strong>de</strong><br />

resignação e acomodação final – que é próprio <strong>de</strong> humanos.<br />

O que a moda não pedir, e, eu duvido que as pessoas façam referência à alma, ou que<br />

falem <strong>de</strong> valores da alma. As pessoas não falam disso. Nem pensam nisso Nem pensam<br />

em nada. Na onda do alvoroço dos hormônios, usam várias <strong>de</strong>sculpas para cair na re<strong>de</strong>: -<br />

Aquela nossa música, ou a letra da canção sacana, da obscenida<strong>de</strong> permitida na rádio, o<br />

clima numa ativida<strong>de</strong> não rotineira ou artística que dá muita menção a excitação<br />

repentina, a aproximação com ídolo e outros quejandos, são motivos e <strong>de</strong>sculpas.<br />

Pense na cena. Nunca vi a pessoa. Ela aparece na minha frente e eu me espanto: - Uau!<br />

Que bela alma! Estou apaixonado à primeira sentida!<br />

Realmente não é assim.<br />

Precauções perante a solidão; as pessoas ainda encaram – a solidão - como uma situação<br />

<strong>de</strong> fim do mundo e querem se livrar da possibilida<strong>de</strong>. Mas essa sensação só aparece na<br />

cabeça <strong>de</strong> seres ocos. Quem se <strong>de</strong>dica à arte, por exemplo: escrita, pintura, teatro... não<br />

terá tal problema, em sua maioria. Só aquelas pessoas que acham que arte <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

inspiração e piram na frente da folha ou da tela em branco. Nada sabem sobre isso e<br />

po<strong>de</strong>m se livrar, também, da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se criar algo. Criar no sentido da arte.<br />

Sublima <strong>de</strong> um lado, cria do outro.<br />

Amor romântico fica para os anjos e para os séculos VIII, IX, X... e por aí vai, com<br />

capacete <strong>de</strong> metal e tudo mais.<br />

37


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

PARA QUE OS NEO-COLONIZADOS<br />

DEIXEM ROLAR<br />

sobre um texto da cineasta Bia Werther<br />

Sim... idiotas... quem sabe somos aqueles que predominam o Id. Somos todos<br />

nós uns gran<strong>de</strong>s idiotas em acreditar em <strong>de</strong>ngue, em enchentes, em eleição, em<br />

espanholismos, em balaios tronitruantes em <strong>de</strong>scabeleiras louras ocas... quando<br />

as pessoas já nem sabem – fingem que não, essa é a boa verda<strong>de</strong> – sabem mais,<br />

se é verda<strong>de</strong> mesmo, que tivemos um holocausto na Europa – 6 milhões <strong>de</strong><br />

mortos, fora os soldados que se matavam em troca do dólar <strong>de</strong> outros e somos<br />

sempre os mesmo que aceitamos trabalhar para a riqueza do outro - ou uma<br />

ditadura no Brasil – guerras e guerrilhas e zerentos milhões por morrer - e daí<br />

ficamos nos repetindo por séculos e séculos - ad aeternam - abrindo a guarda<br />

e babando por qualquer outro imbecil – já tivemos uma geração <strong>de</strong> Silvios e<br />

38


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

Gugus – louco midiático que domine mensagens subliminares e bits e bites e<br />

quarks.<br />

É responsabilida<strong>de</strong> nossa quando os dominadores da 'cultura', em nossas pobres-<br />

cida<strong>de</strong>s-pobres-cida<strong>de</strong>s ape<strong>de</strong>utas, recalcadas cida<strong>de</strong>s medrosas e invejosas,<br />

perdidas em seus <strong>de</strong>sejos criativos, mesmo por que criar dá tesão e as cida<strong>de</strong>s e<br />

seus representantes culturais têm medo do tesão que <strong>de</strong>veras sentem... eis a<br />

verda<strong>de</strong>... Talvez sejam eunucos. Renegam a diversida<strong>de</strong> em nome da troca <strong>de</strong><br />

favores – o tráfico <strong>de</strong> influência, o toma-lá-dá-cá dos incautos vereadinhos.<br />

Esquecem as leis a serem aplicadas com apoio <strong>de</strong> juristas aplicados e <strong>de</strong><br />

colarinho branco engomados até os <strong>de</strong>ntes; ven<strong>de</strong>m suas horas-trabalho pelo<br />

prazer <strong>de</strong> se fazer <strong>de</strong> estátua ao lado dos ícones globais que vêm fazer<br />

espetáculos <strong>de</strong> sub-arte, eventos <strong>de</strong> importância duvidosa, enquanto a cida<strong>de</strong><br />

completa seus aniversários, esquecida e entrando para caminhos <strong>de</strong> gagarismo –<br />

não o astronauta, mas sim, o velho gagá da esquina que <strong>de</strong>seja <strong>de</strong> qualquer<br />

maneira que Fonte dos Amores volte. Volte da on<strong>de</strong>?<br />

Tem que ser bobo e caipira. Mas se fossem Mazzaropi seria solução criativa e<br />

produtiva. Papagaios <strong>de</strong> pirata sem jaça. Câmaras vazias. Sepulcros caiados.<br />

Filisteus da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. A penugem da imbecilida<strong>de</strong> e da edilida<strong>de</strong>.<br />

E somos todos nós os covar<strong>de</strong>s, quando nas nossas cida<strong>de</strong>s todo mundo tem<br />

medo <strong>de</strong> transgredir e virar maldito. Male<strong>de</strong>to.<br />

Mas que boca bendita será essa que se outorga tanta autorida<strong>de</strong>?<br />

Ninguém vê que se todo mundo meter o pé na porta a coisa muda? Que se<br />

meter o pé na bunda muda mais? Ninguém vê que se todo mundo jogar a ca<strong>de</strong>ira<br />

no corredor, a coisa muda? Ninguém vê que se todo mundo bater a porta o<br />

professor até apren<strong>de</strong> português, na marra? Tem diretor d escola que precisa ir<br />

correndo para o asilo. Ultrapassado. Caduco E, com po<strong>de</strong>res. O Oscar que não<br />

vire na tumba, homessa!<br />

39


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

Sim, a mentira pós-colonialista nos transforma a todos em 'espectadores<br />

covar<strong>de</strong>s e traidores'. Submissos escravos cheirando a chouriço e afastados <strong>de</strong><br />

toda manga que <strong>de</strong>r dor <strong>de</strong> barriga, coberta <strong>de</strong> leite.<br />

E, por conseguinte, encontramos realizadores irresponsáveis e sem profundida<strong>de</strong><br />

porque medrosos e preguiçosos. Falamos errado na TV e nos orgulhamos disso.<br />

Fisso isso, fisso aquilo. Balançamos a cabeça pra lá e pra cá e ven<strong>de</strong>mos<br />

langerrís até <strong>de</strong>sabarmos dos tapetes mágicos da vida. Fisso isso e aquilo.<br />

Falamos bobagem sem nexo nos discursos e ninguém nota. Produzimos projetos<br />

roubados do gran<strong>de</strong> sábio. Isso, nisso, aquilo, fissio, bissio, lissio, Nilson?... e<br />

por aí vai. Sem contar a pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s. Sem contar que querem<br />

meter a família inteira na conta da cida<strong>de</strong> para tomar conta da cida<strong>de</strong>. E ainda<br />

querem que paguemos impostos. Claro que não. Tem bobo que ri com isso.<br />

Priorida<strong>de</strong> é o que vem na frente. Quantas indicações seriam <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>?<br />

Essa nossa sensação <strong>de</strong> inferiorida<strong>de</strong> diante do sentimento <strong>de</strong> superiorida<strong>de</strong> do<br />

colonizador e dos imbecis que se alçam ao po<strong>de</strong>r é maquiavélica. O filósofo<br />

<strong>de</strong>veria governar? Ou <strong>de</strong>ixar que algum analfabeto se eleve ao po<strong>de</strong>r e dê as<br />

cartas?<br />

Pós-colonialismo é isto, todos os 'inferiores' tontos <strong>de</strong> prazer diante das luzinhas<br />

coloridas e das super-ferramentas sem alma que não nos servem <strong>de</strong> nada<br />

historicamente sem a busca da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, perdida na globalização.<br />

O que temos aqui são rapidinhas. Não há mais longas relações foe<strong>de</strong>rativas...<br />

tudo é rapidinho, sem graça... no sentido do que “já que tem que fazer... faz logo,<br />

se não eu perco o capítulo da novela” : Vou fazer a malhação / malhação /<br />

malhação / Do que <strong>de</strong>ve ser malhado / ser malhado / ser malhado...<br />

parafraseando cantorGILex-ministro.<br />

Estamos andando em círculos há milênios!<br />

Nossa cida<strong>de</strong> parece andar, rapidamente, para trás. Dobre os milênios. Por quem<br />

os milênios dobram?<br />

Eles dobram por nós.<br />

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<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

DIÁRIO DE PIRATAS – EXCERPTOS II<br />

- os filibusteiros -<br />

sobre um texto da cineasta Bia Werther<br />

DIA 6 – ONDE A VACA TOSSE E NÃO MUGE MAIS<br />

Chega da discussão superficial... <strong>de</strong> baixo do Equador não tem pecado,<br />

como bem disse o Chico, cantou o Ney, dançamos nós e, <strong>de</strong>bate bom é o <strong>de</strong>bate<br />

on<strong>de</strong> se mostra o que se faz. Essa coisa <strong>de</strong> unanimida<strong>de</strong> burra já atinge os<br />

píncaros da palhaçada. Dez assinam a Moção (UNANIMIDADE). Valha-me<br />

São Nelson! Muito voto para uma só pessoa (UNANIMIDADE). Tem pelos<br />

menos 700 que acreditam em bobagem. Mas tem mais <strong>de</strong> 2000 que acreditam em<br />

mais bobagem ainda. E tem gente que foge <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate tentando evitar que as<br />

palavras tropecem na língua. Trôpegas palavras. Ao dicionário, senhor coberto<br />

<strong>de</strong> honras!<br />

41


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

Eis a mensagem para as novas gerações pós-ditadura: falar dos 'livres',<br />

que <strong>de</strong> livres têm o nome, mas, <strong>de</strong> maneira bem Belchior, e, não mudam nada;<br />

vivem <strong>de</strong> umbigo, futilida<strong>de</strong> e uma vida-festa temática, inóspita e cidista – pois o<br />

cidismo foi um movimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>generação da raça humana mocoquense, lá isso<br />

foi - esquecem do resto <strong>de</strong> suas vidas, permanecem com o umbigo virado para a<br />

lua. Mas as pessoas esquecem.<br />

O que será consi<strong>de</strong>rado fora <strong>de</strong> moda por muitos, será consi<strong>de</strong>rado fora<br />

<strong>de</strong> modos por outros. E <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sta perspectiva cabe ao jornalista, ou ao<br />

escritor, ou ao crítico, alertar, relembrar, retirar do olvido. Aos ape<strong>de</strong>utas,<br />

escola!!<br />

Para muita gente ‘radicalismo’ é o ato da exigência, pois, proclama-se,<br />

hoje, a quatro costados, a lei do “<strong>de</strong>ixa estar como já está e esquece já!”. Eis a<br />

causa da reação da Veneranda Casa. Deformada será a palavra que vira palavrão<br />

quando o assunto é sério e, 'atitu<strong>de</strong>', quando inserido em roteiro <strong>de</strong> propaganda<br />

<strong>de</strong> ‘refri’, bundas <strong>de</strong> fora e cerveja com seios, on<strong>de</strong> o cara diz com o <strong>de</strong>do na sua<br />

cara que você é um merda se não opta por essa ou aquela marca... a marca dos<br />

tais 'radicais'. Radicais livres. O que nunca há <strong>de</strong> envelhecer pois já nasce velho.<br />

Tal é a Veneranda Casa. Parece absorver a barba do patrono e se <strong>de</strong>ixa caducar<br />

sem inovações e revoluções.<br />

Preocupam-se com UIS e AIS anacrônicos e tratam <strong>de</strong> Ilustríssimo aquele<br />

que foi repudiado. Ué! Afinal, é ilustre ou não é?<br />

Dia 7 – NOTÍCIAS DO MUNDO COLONIZADO<br />

Aqui no mundo 'pós-colonialista', brasis e mugangas interioranas, falar<br />

em nacionalismo seria o que? E, municipalismo, seria utopia? O que seria, no<br />

meio <strong>de</strong>sse(a) globo on<strong>de</strong> a cor é a <strong>de</strong> todas as fomes amarelouros, idênticas<br />

ilustrações <strong>de</strong> capa <strong>de</strong> revista em todos os cantos – cantões chino-capitalistas -<br />

do mundo? Aqui em muganga o explorador posa <strong>de</strong> construtor. Os discursos<br />

estão invertidos e causam nojo.<br />

42


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

Cores quentes do maquidonaldis em qualquer cantinho – cantões e<br />

monções e moções que chegam em monções (cadê meu guarda-chuva?) - em<br />

que alguém tenha uma grana (sobrando?) pro fast food <strong>de</strong> 'atitu<strong>de</strong>'. Atitu<strong>de</strong><br />

rápida e cheia <strong>de</strong> gordura.<br />

'Pacífica' convivência com as cores quentes da violência em todo o<br />

recanto on<strong>de</strong> não há nada além da servidão e violência da vida real, não <strong>de</strong> filme<br />

<strong>de</strong> quinta, que isto já tinha antes mesmo <strong>de</strong> 1961. O ano que virado <strong>de</strong> cabeça<br />

para baixo, dá no mesmo. Seria uma profecia? Dá no mesmo? Ou qualquer ano<br />

viram <strong>de</strong> cabeça para baixo?<br />

Depois, tantos outros mortos, décadas passando, o homem 'se libertando'<br />

na gran<strong>de</strong> festa da globalização, o negro urbano americano norte-sul,<br />

por exemplo, que <strong>de</strong>u tanto orgulho aos revolucionários e radicais do mundo –<br />

radicais livres outra vez? - , assiste pela TV os seus netos<br />

rebolando no machismo; cachorras babaquaras, gritando os nomes das grifes<br />

'globais'; quebrando-barrac-algum, taty nenhuma; bezerrasilbestasambista que<br />

cantam o morro e moram na zona sul e ainda tripudiam, imbecis e sorri<strong>de</strong>ntes<br />

timbaladores, sob a benção da suprema imbecil dos imbecis baixinhos – não é à<br />

toa que Romarinho foi enaltecido pelos baba-ovos <strong>de</strong> plantão do venal e futebol<br />

association. Um enganador que per<strong>de</strong>u <strong>de</strong> 5 do Barcelona em sua <strong>de</strong>spedida <strong>de</strong><br />

banheirista internacional. Veio banheirar no Fla. Timbaladores gritam nas letras<br />

das músicas com a mesma se<strong>de</strong> que um dia seus avós apanharam na rua gritando<br />

'Freedom from Fear'. E haja chicote.<br />

O medo continua, só que agora não tem repressão (?) e daí o mundo é<br />

velado (com véu ou vela), bombado, com tênis <strong>de</strong> 500 paus.... Até o medo hoje é<br />

fútil.<br />

PERDEU<br />

Quanto quilos <strong>de</strong> medo tu precisa, mano?<br />

DIA 8 – FUGINDO DA MALTA AGITADA CUJO TIME<br />

43


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

Até Deus (feito à nossa imagem e semelhança) tem medo, tanto que se<br />

juntou ao Bush (Burning Bush – a Sarça Ar<strong>de</strong>nte que Moisés visitou – seria uma<br />

profecia?) e assinou no dinheirodolar que já havia sido emprestado ao Osama<br />

filho <strong>de</strong> La<strong>de</strong>n. Viu que mandou um ciclone <strong>de</strong>vastar a 'Bahia' americana e o<br />

falecido Bush só precisou tirar férias e <strong>de</strong>ixá-la esquecida e <strong>de</strong>vastada? Novos<br />

arcanos. De qualquer maneira para que a preocupação se o tal ciclone atingiu<br />

áreas <strong>de</strong> pura <strong>de</strong>mografia negra? Novos tempos do radicalismo. Basta dar as<br />

costas para as costas, como sugeriu Milton Nascimento. Basta dizer que não viu<br />

e per<strong>de</strong>r o rumo numa estória em quadrinhos em jardim <strong>de</strong> infância, olhando,<br />

perdido no espaço como Alfred Newman dos EUA ou a família Robinson.<br />

Gosta <strong>de</strong> novela? Vê novela? Então a marca da besta – 666 - está escrita<br />

na sua testa. Mas não a marca <strong>de</strong> Caim pois essa marca é a marca dos criadores<br />

da civilização. Filhos <strong>de</strong> Cain! Cainitas!, aos berros, como berraria o velho<br />

Hermann Hess. Goethe era cainita. Uni-vos! Busquemos a luz, mas a luz da<br />

razão. Nada <strong>de</strong> frieza meu bem, mas a razão que nos leva a dosar todas as<br />

paixões.<br />

Não acha importante que gerações futuras construam uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e<br />

tenhamos filhos e netos conscientes <strong>de</strong> seu papel criador, e com e educação e<br />

leitura e cinema e teatro e música?<br />

É isso.<br />

Votos <strong>de</strong> sucesso, saú<strong>de</strong> e prosperida<strong>de</strong>. Boa semana<br />

44


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

EGO VINDICO<br />

No texto “Consi<strong>de</strong>rações sobre o ataque histérico”, 1909, Freud <strong>de</strong>fine histeria<br />

"como fantasias traduzidas em linguagem motora, projetadas sobre a motilida<strong>de</strong> e<br />

figuradas como pantomima". Farei uma ligação com as contumazes e fugazes<br />

REIVINDICAÇÕES que vemos pulular no jornal a cada semana. Em que pese que<br />

hysteros é coisa <strong>de</strong> mulher, pois útero é, vimos muitas carinhas masculinas sorri<strong>de</strong>ntes<br />

ilustrando as REIVINDICAÇÕES, como querendo dizer, um tanto hesitante e lento:<br />

“Olha, gente, quem REIVINDICA, sou eu, tá? Olha como trabalho pela minha cida<strong>de</strong>!!”<br />

Daí que REIVINDICAR, se mostra como ato a ser homenageado. Conquistar a coisa é<br />

secundário. Mas, reivindicar... Uau (!), dura um ano e após o primeiro natal tudo será<br />

esquecido.<br />

O caso da histeria aponta para o fato <strong>de</strong> que, mesmo se é referida a algum tipo <strong>de</strong><br />

teatro, performance, representação inconsciente, essa específica idéia <strong>de</strong> representação<br />

está ligada a resultados nulos, exceto à exposição na mídia durante a semana. Uma e outra<br />

REIVINDICAÇÃO dá resultado – para que eu não seja chamado <strong>de</strong> injusto - como<br />

temos exemplo <strong>de</strong> vereador local que pediu e levou. Claro que não foi verba advinda<br />

45


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

através <strong>de</strong> algum programa ou planejamento. Foi aquela verba <strong>de</strong> pires-na-mão. A conta<br />

vem na próxima eleição. Mas, pediu e levou e isso basta para cida<strong>de</strong>s provincianas.<br />

Histeria e Pires me lembra <strong>de</strong> um certo “PIDONHO”, como ele mesmo se chamava, cujo<br />

espectro rondava a prefeitura d’antanho. Um fantasma no estilo Canterville.<br />

Será a histeria vindicatrix apenas uma experiência feminina <strong>de</strong> todos os tempos para<br />

presentificar o corpo e seu <strong>de</strong>sejo? A experiência plástica do gozo? Por coisa alguma? Só<br />

para ver sua carinha sorri<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um retângulo pago no jornal?<br />

Abre parênteses: - Para os menos avisados, quando um jornal publica matéria<br />

cercada por fino risco <strong>de</strong> contorno trata-se <strong>de</strong> matéria paga, e, não furo <strong>de</strong> reportagem<br />

importante. Em geral é coisa <strong>de</strong>simportante paga pelo próprio interessado sorri<strong>de</strong>nte.<br />

Fecha parênteses.<br />

Esta histeria da REIVINDICAÇÃO estará ligada a uma <strong>de</strong>puração do afeto pela<br />

linguagem? Não sei... estou perguntando. Schnei<strong>de</strong>r (1992) diz, citando Lacan: trata <strong>de</strong><br />

priorizar a linguagem na or<strong>de</strong>m da natureza e do infra-humano(...) como a linguagem do<br />

sopro e do grito. É até poético. Podia ser <strong>de</strong>ntifrício, também. No entanto, o discurso<br />

psicanalítico acabou privilegiando a interpretação da histeria como teatro da representação<br />

inconsciente recalcada. Assim, também vou reivindicar. Vou na onda. Quero isso e quero<br />

aquilo. Quero <strong>de</strong>srecalcar. Acho que vou mandar uma REIVINDICAÇÃO a meus<br />

<strong>de</strong>putados favoritos. Só... Nem, é preciso que façam qualquer coisa... o legal é<br />

reivindicar... Se nada fizerem eu tenho a <strong>de</strong>sculpa: “Aaaaah! Mas eu reivindiquei”. Ego<br />

vindico. Mas há uma interpretação latina para vindicar que significa punição ou vingança,<br />

na verda<strong>de</strong>, requerer a justiça. Exigir a justiça. Domandar o que é justo. Io domando.<br />

Ouçamos David-Ménard: "Um ataque histérico não se constitui somente como uma<br />

<strong>de</strong>scarga, mas como uma ação que conserva a característica inerente <strong>de</strong> toda ação: um<br />

modo <strong>de</strong> se obter prazer." Talvez a <strong>de</strong>scarga <strong>de</strong> prazer nos fundilhos, ao ver sua carinha no<br />

retângulo das Reivindicações, seja suficiente para a semana. Po<strong>de</strong> ser. Um ato<br />

masturbatório em retângulo vindicador. Po<strong>de</strong> ser. Quem sabe?<br />

Subir ao púlpito – ou aparecer com a carinha risonha no retângulo - exibir-se,<br />

mostrar-se, vitrinar-se, é uma conduta ligada ao <strong>de</strong>sejo intelectual ou se reporta à busca <strong>de</strong><br />

prazer. Para Ménard é atualização do erotismo com o próprio corpo: o histérico coloca o<br />

objeto do seu <strong>de</strong>sejo como se ele estivesse lá. Fé cênica. Dura Lex sed Lex / ou fed Lex sed<br />

Lex / Durex. Gumex. Sed Ex. Esteja fora. Sai!<br />

46


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

As experiências <strong>de</strong> Charcot era com mulheres e elas davam seus espetáculos teatrais<br />

<strong>de</strong> presentificação <strong>de</strong> corpo e <strong>de</strong> prazer. Mas nos retângulos vindicatórios o que vemos é a<br />

prevalência <strong>de</strong> homens e agregados. Mudou, pois.<br />

O sintoma histérico remete a outra realida<strong>de</strong> do corpo: o cérebro paralisado não<br />

remete a uma lesão funcional, sendo expressão <strong>de</strong> um valor afetivo que lhe é conferido.<br />

Isso me <strong>de</strong>ixa preocupado. O Ipê Imperial em frente <strong>de</strong> casa começou a dar flores e<br />

são brancas? Será que serei punido por contrariar a Tabebuia específica da cida<strong>de</strong>? Cara,<br />

nem pensei nisso.<br />

47


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

ELEITORES & ELEITOSOS<br />

Seguindo o bom exemplo do Serapião, vou ao Aurélio, nem ao Sênior nem ao Junior, mas ao<br />

do Meio e leio... Ficção: Ato ou efeito <strong>de</strong> fingir: fingimento. Coisa imaginária, invenção. Ficcionista:<br />

aquele que faz ficção, escritor, autor.<br />

Muito bem. E, não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser.<br />

Um dia, numa cida<strong>de</strong> fictícia, uma história fictícia acontece. Certo Senhor Honrado – um<br />

sujeito muito louro e claro com olhos quase azuis - entra na Casa <strong>de</strong> Leis <strong>de</strong> sua cida<strong>de</strong>,<br />

carregando um importante documento on<strong>de</strong> se dizia coisas sobre Nepotismo Barato. Crente que<br />

abafava foi, isso sim, abafado por vários edis que ali se encontravam <strong>de</strong> plantão, edis estes que o<br />

levaram, à socapa (aqui uma nítida influência do Monteiro Lobato), o levaram na astúcia para uma<br />

saleta contígua e <strong>de</strong>itaram falação na cabeça daquele alourado edil. Dedé, Tutu, Chichi, ao lado da<br />

idílica Mamá e do atabalhoado VemVem - um literato alto, bastos cabelos prateados, dublê <strong>de</strong><br />

magister iuris e sonhador – caíram <strong>de</strong> pau no Honrado Senhor, mandando que calasse aquela boca<br />

que cuspia no prato <strong>de</strong> pão que o diabo amassou. Que esquecesse a inverossímil presunção. Que<br />

conversa <strong>de</strong> nepotismo era esse?<br />

48


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

Ao mesmo tempo, no outro lado do mundo, Gordon Tullock, sobre seu caixote <strong>de</strong> discursos<br />

dizia: "a nova abordagem começa supondo que os eleitores são muito parecidos com consumidores<br />

e que políticos parecem com mulheres e homens <strong>de</strong> negócios". Gordon, com o passar dos estudos,<br />

se tornou cético em relação ao valor da teoria da "escolha pública". Apoiando esse pensamento Leif<br />

Lewin, cáustico que era, disse que os pensadores da escola da "escolha pública" "retraíam o ser<br />

político como... um habitante míope das cavernas". E ainda completou: - Isso não é ofensa. É<br />

apenas constatação!<br />

Lewin acreditava que essa coisa toda, eleições e eleitosos, está inteiramente errada: - Po<strong>de</strong><br />

ter sido verda<strong>de</strong>, um dia, na época dos trogloditas, antes que o ser humano “<strong>de</strong>scobrisse o<br />

amanhã, e, apren<strong>de</strong>sse a fazer cálculos <strong>de</strong> longo prazo" mas, não agora, em nossos tempos<br />

mo<strong>de</strong>rnos, quando todos sabemos, ou pelo menos a maioria, tanto eleitores como eleitosos, que<br />

"amanhã nos encontraremos novamente" e, portanto, a credibilida<strong>de</strong> é "o único recurso valioso do<br />

político".<br />

O caso é que, enquanto a edilida<strong>de</strong> cobria <strong>de</strong> pancada o famoso Homem Honrado, neste<br />

nosso lado do mundo, o que se punha em conflito era a atribuição da confiança: a arma mais<br />

zelosamente utilizada pelo eleitor. No entanto, ainda assim ele erra que dói. Para apoiar sua crítica<br />

da teoria da "escolha pública", Lewin citara estudos empíricos que mostram que poucos eleitores<br />

votam pensando em seus próprios bolsos. Não lembram que política atinge o bolso, como já dissera<br />

Brecht, e, a maioria dos eleitores <strong>de</strong>clara que o que guia seu comportamento eleitoral é o estado do<br />

país como um todo. Uau!! Saberão mesmo do que falam? Um país <strong>de</strong>sse tamanho, editado e<br />

conhecido através do JORNAL NACIONAL, apenas, será realmente conhecido em sua totalida<strong>de</strong>?<br />

Ou na totalida<strong>de</strong> que aparece no écran cinzento <strong>de</strong> acordo com os ditames do Capital Global?<br />

Lewin espera isso. O que é que nós po<strong>de</strong>ríamos esperar? Po<strong>de</strong>ríamos esperar resposta e<br />

satisfações das autorida<strong>de</strong>s? Autorida<strong>de</strong>s sem curso superior terão articulação suficiente para<br />

explicar coisas?<br />

Na hora da entrevista a pessoa na rua tenta imitar o que já ouviu e não sai do lugar comum.<br />

Estamos na era do fazer aquilo que o outro quer, portanto, ninguém em sã consciência falará o que<br />

lhe vai pela cabeça. O entrevistado da rua dirá o que agra<strong>de</strong> ao entrevistador, mesmo por que será<br />

editado <strong>de</strong>pois. E, o que são os entrevistadores senão jornalistas formados e formatados para<br />

agradar ao chefe? Os eleitores entrevistados acham que se espera <strong>de</strong>les, apenas, que digam o<br />

a<strong>de</strong>quado, e nada mais.<br />

Sugiro que Dedé, Tutu, Chichi, Mamá (hoje, <strong>de</strong>vidamente <strong>de</strong>fenestrada) e VemVem (poeteiro<br />

dos quatro costados), se consi<strong>de</strong>rarmos a notória disparida<strong>de</strong> entre o que fazemos e o como<br />

narramos nossas ações, comecem a explicar por que o Honrado Senhor não po<strong>de</strong> falar nada sobre<br />

49


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

Nepotismo e é, <strong>de</strong>spudoramente, censurado em suas idéias. É mais simples do que conspirações<br />

comezinhas <strong>de</strong> fundo <strong>de</strong> sala.<br />

Mas, nada disso existe. É tudo ficção e temos que acreditar que tais personagens inventadas<br />

pela mente insana do ficcionista não passam <strong>de</strong> fantasmas, abantesmas, espectros ficcionais sem<br />

serventia. Nem um <strong>de</strong>les cheira à mínima verda<strong>de</strong>.<br />

Mas, como eu disse: Tudo é ficção. Fingimento. A verda<strong>de</strong> é que às vezes eu minto.<br />

50


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

O ANALFABETO FUNCIONAL<br />

O Analfabetismo Funcional é problema que afeta o país. Sabem ler, escrever e<br />

contar, ou assim parece; ocupam cargos administrativos, cargos legislativos, transformam-<br />

se em excelências e edis <strong>de</strong> roupa nova, mas não conseguem compreen<strong>de</strong>r a palavra<br />

escrita. Um texto passa batido e a interpretação é coisa do arco-da-velha ou da arca-do-<br />

velho. Nada <strong>de</strong> tapar o sol com a peneira. Queremos gente com discernimento.<br />

Bons livros, artigos e crônicas, nem pensar! E, sendo assim, como escrever boas e<br />

inteligentes leis? Como interpretar escorreitamente uma lei? Não basta citar Platão com<br />

frases escolhidas na net. Isso <strong>de</strong>monstra o <strong>de</strong>scaso com a educação. É fazer mofa.<br />

Em 2008 houve eleições para prefeitos e vereadores: casos <strong>de</strong> analfabetismo<br />

funcional <strong>de</strong>ntre os candidatos. Será a vez da cidadania se manter vigilante e atenta para o<br />

nível dos políticos que ocupam prefeituras e casas legislativas. Para mais <strong>de</strong>talhes sobre<br />

esta importante alteração na legislação eleitoral, visite www.avozdocidadao.com.br e veja<br />

o link para a íntegra do parecer que <strong>de</strong>cidiu pela constitucionalida<strong>de</strong> do projeto. Aí<br />

evitaremos o que finge enten<strong>de</strong>r tudo, para <strong>de</strong>pois sair perguntando aos outros como <strong>de</strong>ve<br />

51


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

ser realizado tal serviço, como <strong>de</strong>ve ser lida tal lei, como <strong>de</strong>ve ser en<strong>de</strong>reçado tal carta. E<br />

quase sempre age por tentativa e erro.<br />

Calcula-se que, no Brasil, os analfabetos funcionais são 45% da população<br />

economicamente ativa. No mundo entre 800 e 900 milhões. Muitas vezes, pessoas com<br />

menos <strong>de</strong> quatro anos <strong>de</strong> escolarização; nos dias hoje há secundarista que dá medo <strong>de</strong> tanta<br />

parvoíce; há os com formação universitária e exercendo funções-chave em empresas e<br />

instituições, tanto privadas quanto públicas! Tais pessoas não têm as habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura<br />

compreensiva, escrita e cálculo para fazer frente às necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> profissionalização e<br />

tampouco da vida sócio-cultural. E quanto a lidar com leis e diretrizes que influenciam na<br />

vida <strong>de</strong> todas as pessoas da cida<strong>de</strong>? Ou será que a limitação é proposital para facilitar a<br />

influencia, somente, na sua própria vida? Quem sabe? Se você não lê livro algum no ano<br />

inteiro já é um suspeito. O "Calcanhar <strong>de</strong> Aquiles" <strong>de</strong> tantas organizações e <strong>de</strong> tantos<br />

governos: MAUS LEGISLADORES.<br />

O que a população ganha com isso? Nada! Principalmente se <strong>de</strong>r as costas ao<br />

problema. Se você é <strong>de</strong>sses que aceita o caso passivamente, não há do que reclamar.<br />

O termo analfabetismo: a incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pessoas utilizarem a leitura e a escrita,<br />

além <strong>de</strong> realizar cálculos básicos, em ativida<strong>de</strong>s da vida diária que requerem tais<br />

habilida<strong>de</strong>s. Estudiosos têm dirigido esforços para estabelecer conjuntos <strong>de</strong> tarefas<br />

socialmente relevantes em que se utiliza material escrito e, a partir <strong>de</strong>les, dimensionar e<br />

analisar graus e tipos <strong>de</strong> “alfabetismo” que caracterizam pessoas ou grupos.<br />

A partir <strong>de</strong> 1978, a UNESCO adotou o conceito <strong>de</strong> analfabetismo funcional, que se<br />

refere à pessoa que, mesmo sabendo ler e escrever algo simples, não tem as competências e<br />

disposições necessárias para fazer da leitura e da escrita um dos instrumentos <strong>de</strong> seu<br />

<strong>de</strong>senvolvimento pessoal e profissional. Ora, sabemos bem que uma casa <strong>de</strong> Leis <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />

disso. E se tem uma e outra pessoa que domina a arte, ou mesmo um secretario capaz, fica<br />

clara a <strong>de</strong>pendência da mão do gato. Quem é mais esclarecido impõe o seu po<strong>de</strong>r e seu<br />

domínio. Por isso, dá até para contar nos <strong>de</strong>dos quem domina e quem ajoelha.<br />

Nas eleições <strong>de</strong> 2006, havia 770 candidatos que sabiam apenas ler e escrever ou<br />

tinham ensino fundamental incompleto, ou seja, que po<strong>de</strong>riam se enquadrar nas condições<br />

<strong>de</strong> analfabeto funcional. Eram 4 para governador, 3 para senador, 179 para <strong>de</strong>putado<br />

fe<strong>de</strong>ral e 584 para <strong>de</strong>putado estadual ou distrital. Quando o candidato não sabe interpretar<br />

o que lê não sabe, ao certo, o que vai no estatuto <strong>de</strong> seu partido.<br />

Mas, como comprovar o nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um candidato sob suspeita?<br />

Atualmente, a alfabetização do candidato é provada por uma simples certidão. Com a<br />

52


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

regulamentação, o juiz eleitoral po<strong>de</strong>rá impugnar ou não uma candidatura através do laudo<br />

<strong>de</strong> uma comissão formada por pedagogos e professores <strong>de</strong> matemática e português que<br />

sabatinará o candidato.<br />

E aí? Tremeram na base? Se as pessoas fazem curso <strong>de</strong> noivo para casamento por<br />

que é que o candidato não precisa passar por uma sabatina prévia? A partir daí, se for<br />

ocaso, nem precisa se candidatar. Poupará seu dinheirinho. Poupará o ouvido alheio e as<br />

casas legisladoras serão mais in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />

É isso. Boa semana. Ouçam as gravações das sessões da Câmara <strong>de</strong> sua cida<strong>de</strong> e<br />

atentem para as pérolas oratoriais.<br />

O ATOR E O RETORNO DA MORTE<br />

______________________________________________________________________<br />

Instala-se (Freud) o conceito <strong>de</strong> pulsões. Pulsão <strong>de</strong> vida e pulsão <strong>de</strong> morte. Conceitos <strong>de</strong><br />

origem nos campos do id – inconsciente – e se projetam ao longo da vida. Platão já dizia<br />

que Filosofia é uma preparação para a morte. A morte física? A morte com superação <strong>de</strong><br />

etapas? A preparação para a morte do entendimento sensível (daquilo que se sente<br />

materialmente, tato e similares)? A entrada no campo metafísico ( o que vai além da física<br />

ou do físico – oi conceito <strong>de</strong> quanta será metafísico)? Mas Platão não gostava <strong>de</strong> teatro por<br />

não ter entendido o sentido da representação. Teorizou muito sobre música e já dizia que<br />

para dominar um povo basta dominar sua música. A partir <strong>de</strong>ssa frase platônica, O que<br />

pensar da música – ou atitu<strong>de</strong>s - importadas? Qualquer uma: rock, hiphop, sinfônicos<br />

alemães, óperas italianas... Teria que esperar Freud.<br />

Essa morte prevista não é aquela dos filmes <strong>de</strong> terror nem das dos <strong>de</strong>senhos animados em<br />

qe uma panelada na testa <strong>de</strong>smonta a pessoa – personagem – para remontá-la logo em<br />

seguida. Trata-se do caminho natural <strong>de</strong> um corpo que tem história <strong>de</strong> começo/meio/fim, e,<br />

se direciona para este fim <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que nasce. A pulsão que busca o retorno à Natureza é<br />

53


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

TANATOS. Tanatos é i<strong>de</strong>alização daquilo que é inarticulável em linguagem... daquilo que<br />

não dá para falar... O corpo humano que nasce/vive/morre busca voltar ao pó...<br />

homem/húmus/humanus/manus/mão/artífice... barro (aglomerado <strong>de</strong> átomos) <strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

partiu aquele ser biológico que age e não pensa na conseqüência, fingindo que pensa. A<br />

propaganda da TV afirma que ele pensa e este humano acredita nisso piamente, mas,<br />

<strong>de</strong>pois da panelada o ser humano <strong>de</strong>sarticula sua memória.<br />

O corpo biológico nascido <strong>de</strong> genótipo se torna fenótipo (que é a relação com mo meio<br />

ambiente), <strong>de</strong>pois, ser social que interage com a civilização construída. Este corpo vai<br />

também construir a sua parte na civilização (mesmo que seja <strong>de</strong>struir). Interfere na<br />

civilização que herda ao nascer. Daí o mal-estar na civilização; inserir-se neste contexto<br />

não <strong>de</strong>mandado mas, obrigatório ao nascer, não <strong>de</strong>mandado, repito, é abdicar do estado<br />

natural segundo Rousseau. Sair do estado natural para um não-natural – civilização / kultur<br />

- é <strong>de</strong> negar seus mais escondidos <strong>de</strong>sejos; é ser civilizado e cair num estado <strong>de</strong> mal-estar<br />

constante. Nostalgia do nada. Tristeza por coisa alguma. Bachianas nº2. Rebeldia sem<br />

causa. Ter sauda<strong>de</strong> do momento que não viveu.<br />

Assim subamos ao palco para reviver? Re-presentemos ou seja, colocamos <strong>de</strong> volta no<br />

presente aquilo que nos tocou? Lázaro redivivo? Quando Lázaro saiu da cova fedia à<br />

morte ou lavanda?<br />

Ainda Freud: do binômio civilização-renúncia pulsional, como forma <strong>de</strong> constituição do<br />

laço social, diria respeito a uma forma universal <strong>de</strong> cultura; a <strong>de</strong>fesa da concepção <strong>de</strong><br />

cultura marcada pelo projeto iluminista-humanista do domínio da natureza pela razão;<br />

trata-se <strong>de</strong> falácia gigantesca, pois, enquanto o ser humano interfere na natureza<br />

(eufemismo para CONTROLA a natureza ) o ser humano altera seu status na própria<br />

Natureza, excluindo-se como item do equilíbrio ecológico. O ser humano é alienígena em<br />

seu próprio planeta ou será só alienígena?<br />

O retorno ao estado natural do mundo será através da eliminação do ser humano como<br />

corpo estranho que causa a infecção. Deve ser extirpado.<br />

O mundo é palco. A cultura é uma peça que se <strong>de</strong>senvolve nesse palco. Há muito<br />

improviso. Tem muita gente que nem percebe que atua.<br />

Todas as observações acima se calam quando se recebe muito bem e se trabalha na Re<strong>de</strong><br />

Bobo.<br />

Quando atriz/ator irrompem no palco acabam por negar a pulsão <strong>de</strong> morte e revitalizam,<br />

através da personagem, a existência <strong>de</strong> uma nova história a ser contada, <strong>de</strong> uma nova bio,<br />

<strong>de</strong> uma nova zoe. Atriz/Ator rompem com o ciclo que leva à morte e rasgam o véu da<br />

54


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

neurose, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando a catarse que se quer. A ficha que cai. A idéia que se propaga. A<br />

sensação <strong>de</strong> Eureka. Mas, apenas sensação.<br />

Dois conceitos ainda a serem pensados e trabalhados: Antiédipo: quando a mulher assume<br />

seus papéis (que não fazia no começo do teatro) / e fim da pulsão <strong>de</strong> morte, mesmo que<br />

sobre o palco.<br />

No palco negamos a morte e consi<strong>de</strong>ramos o eterno repetir. No entanto a cortina se fecha<br />

no final, mas se abre no momento seguinte. As cenas querem repetir o quotidiano ou o fato<br />

ou o evento, mas sempre repetir e por si só repete o mesmo <strong>de</strong> si, a cada dia <strong>de</strong><br />

apresentação. No entanto, a cada dia <strong>de</strong> apresentação o repetido não é tão o mesmo. Tem<br />

pequenas mudanças.<br />

Há na música minimalista tensões <strong>de</strong>sse tipo. Pequenas células musicais que se organizam<br />

e mudam sempre; sempre alterando algo no ritmo, na or<strong>de</strong>m, na posição ou ainda no<br />

instrumento que toca o trecho. Se forem vários instrumentos teremos universalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

informações.<br />

Bob Wilson usa tal recurso em seu balé no teatro. Uma única coreografia que todos<br />

apren<strong>de</strong>m. Mas, como cada um dos cinqüenta executantes a realiza em momento diferente<br />

e em posição geográfica muito variada, iluminado por luzes diferentes a realização se<br />

torna caleidoscópica e multiplica a visualização com pequeno esforço. Sentimos que tudo<br />

é diferente.<br />

Atriz/Ator repetem sua cena a cada dia. A cada dia a mesma cena muda. Um trejeito ali.<br />

Mudança no passo. Na velocida<strong>de</strong> da fala. A cada dia quem a vê a vê diferente, por ela<br />

(pela cena) e por si mesmo (pessoa pensante). A pessoa que vê a cena ganha, a cada dia,<br />

mais conteúdos e seu olhar muda sobre a cena. A repetição se dá <strong>de</strong>ntro do episódio do<br />

acaso. A cena realinha os conteúdos da pessoa/platéia.<br />

A peça civilizatória, ou o papel que a socieda<strong>de</strong> impõe e que a população assume é mal<br />

teatro. As peças sobre o palco tentam organizar a civilização, não com o fito <strong>de</strong> controlar a<br />

civilização, mas com interesse <strong>de</strong> esclarecer ou iluminar pontos – AUFKLARUNG.<br />

Quando a platéia se emociona é por que percebe que mal <strong>de</strong>corou o texto ou que mal<br />

improvisou, sempre fora do tempo ou do sentido. Começa que o DRAMA é o movimento<br />

da coisa e as pessoas se limitam a permanecer sentadas, imóveis, absorvendo sem<br />

participar. É a tradição reinstalada.<br />

55


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

O PROCESSO DE IMBECILIZAÇÃO<br />

- ou, LIVRE ARBÍTRIO ZERO –<br />

Leitores: Seguem links que recebi do Murah Azevedo sobre o programa da BBC<br />

<strong>de</strong> Londres (sem legenda) chamado The Century Of The Self. Vale a pena conferir. Ou<br />

melhor, não há pena nem dor alguma. É um prazer saber que algumas pessoas continuam<br />

com a razão e pensam por si, enquanto outras penam por si.<br />

Happiness Machines http://www.youtube.com/watch?v=3dA89CBBOC0 / The<br />

Engineering… http://www.youtube.com/watch?v=H9RfanOEpA0&feature=related / There<br />

is a Policeman http://www.youtube.com/watch?v=AzE9ocIGVlQ&feature=related / Eight<br />

People...http://www.youtube.com/watch?v=R1VJrp0IvPs&feature=related.<br />

Tratam <strong>de</strong> séries da BBC que revelam como o sobrinho <strong>de</strong> Freud (Edward Bernays)<br />

usou as idéias, e, técnicas do titio para se tornar milionário como Public Relations. PR do<br />

planeta, e, das gran<strong>de</strong>s corporações, usando a manipulação da mídia estaduni<strong>de</strong>nse no<br />

início do século XX para, em nome da "DEMOCRACIA" controlar as massas, tornando a<br />

todos "Homer Simpsons ictéricos e <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ntes"; pessoas consumistas <strong>de</strong> lixo material e<br />

imaterial <strong>de</strong> então e, por conseqüência do processo, <strong>de</strong> hoje... Bernays cunhou o termo<br />

PUBLIC RELATIONS porque o verda<strong>de</strong>iro e apropriado termo "PROPAGANDA" já<br />

56


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

estava queimado pelos Nazistas e foi, então, usado, no velho continente, como idéia<br />

original.<br />

Goebbels apreciava muito a "obra" <strong>de</strong> Edward Bernays... Será Bernays o pai da<br />

mo<strong>de</strong>rna Socieda<strong>de</strong> do Espetáculo? O último episódio da série explica como só <strong>de</strong>u e só<br />

vai dar “coisa muito ruim” no casamento entre técnica publicitária e técnica política. Na<br />

opinião <strong>de</strong> Murah, o mais bonito <strong>de</strong> tudo é que fica claro que - apesar da “coisa ruim” ser<br />

gran<strong>de</strong> - o processo <strong>de</strong> imbecilização proposital é reversível... trabalho complexo e<br />

<strong>de</strong>morado, mas reversível... se assim o quiserem. Rápido antes que tirem da re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

novo!!! Uma das armas para a reversibilida<strong>de</strong> é o estudo da Filosofia.<br />

Aliás, com amplas técnicas publicitárias e <strong>de</strong> insinuação já proferidas por Marx no<br />

pensamento sobre o fetichismo – ou feiticismo – processo em que a pessoa se torna<br />

enfeitiçada, mesmerizada, emzumbizada, enfim, tais pessoas, ou coletivida<strong>de</strong>s, ou povos –<br />

enfrentando outro processo que é o <strong>de</strong> síndrome do bando (evi<strong>de</strong>nte na adolescência ) e<br />

entre animais, repito, tais pessoas / coletivos / povos / ten<strong>de</strong>m a seguir o caminho do grupo,<br />

assim configurando o modismo. A COISA vale mais do que a PESSOA. Maria vai com as<br />

outras. Fazer o que todo mundo faz para ficar “IN”. Eleições são assim forjadas.<br />

O livre arbítrio <strong>de</strong>saparece, se é que um dia houve.<br />

Todo pensamento, idéia, arte, expressão, que não ‘vai na onda’ é tomado como<br />

espúrio e perigoso pela massa e autorida<strong>de</strong>s que não pensam – em geral o geral - pois<br />

estão hipnotizadas e querem agradar o chefe, o pastor, o padre, o lí<strong>de</strong>r... É nesse momento<br />

que surgem certos ídolos construídos à força. É até fácil, pois, a fila dos candidatos a ídolo<br />

é muito gran<strong>de</strong>. Muita gente já se preocupa com a ventura, a riqueza, a influência, o<br />

prestígio - com ou sem coco – <strong>de</strong> ser famoso e já se preocupar em se en<strong>de</strong>usar começando<br />

por um e-mail@globo.com, que é para ficar bem perto no Olimpo da Vênus Platinada.<br />

A TV é essa vitrine. E, nas vitrines só temos produto para venda. Comércio. Há<br />

quem diga que sem essa competição – que é o MUST dos americanos – não existe<br />

progresso. Temos que rever o significado <strong>de</strong> PROGRESSO. Para o americano o segundo<br />

lugar é o primeiro dos per<strong>de</strong>dores. Eles têm que ganhar tudo e o tempo todo e não querem<br />

nem saber como. Partem para os doppings e anabolizantes. Ai até eu. Quando começam a<br />

perceber que <strong>de</strong>scobrirão o engodo os americanos saem da competição, escrevem um livro<br />

e ganham mais 5 milhões <strong>de</strong> dólares. DAS CAPITAL funciona a<strong>de</strong>quadamente nessas<br />

terras em que Deus está no dinheiro e nele crê. Tanto que no dólar já mudarão a frase para<br />

‘EM DEUS o TRUSTE’ (monopólios e acordo <strong>de</strong> confiança em que os gran<strong>de</strong>s<br />

manipulam as rodadas, e, a freqüência com que o povo <strong>de</strong>ve comprar produtos, mesmo que<br />

57


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

não os queiram). Esta é a fonte do Livre Arbítrio. Comprar o que não quer. Seguir o<br />

caminho que não <strong>de</strong>seja. Ver o filme que não diz nada. Comer o alimento que botarem á<br />

mesa e por aí vai. E, ainda, dizer que é sua opinião e sua personalida<strong>de</strong> que assim<br />

comandam.<br />

Creio que um lí<strong>de</strong>r religioso correto <strong>de</strong>verá esclarecer seus fiéis <strong>de</strong> que não <strong>de</strong>ve<br />

dar dinheiro para igreja alguma, pois Jesus não pedia dinheiro algum. O que acontece é o<br />

contrário: os li<strong>de</strong>res religiosos, como porta-vozes da metrópole, são Public Relations da<br />

Divinda<strong>de</strong> e fazem com que o povaréu fiel arque com as responsabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> financiar EL<br />

PARAISO.<br />

58


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

PANOPTICON & TABEBUIAS<br />

<strong>Coelho</strong> De <strong>Moraes</strong><br />

Drummond disse que a pior coisa que podia acontecer seria participar <strong>de</strong><br />

um concurso <strong>de</strong> poesia e vencer. Você nunca sabe se <strong>de</strong>ve se orgulhar ou odiar,<br />

pois, quem são – enfim - as pessoas que entregam tal prêmio ao poeta?<br />

Melhores ou piores ou frustrados poetas? Fazer poemas e julgar, fazer poemas e<br />

julgar... esse o caminho para o Inferno, dizi <strong>de</strong> outra maneira o Gil. O Vicente.<br />

Também... ninguém mandou participar do tal concurso... essa é que é a verda<strong>de</strong>.<br />

Que dizer <strong>de</strong> uma Moção <strong>de</strong> Repúdio com 10 assinaturas. Uau! Nelson<br />

Rodrigues tem uma boa frase sobre unanimida<strong>de</strong>s.<br />

Recebi, recentemente, u’a Moção <strong>de</strong> Repúdio. Pensei que viesse escrita do<br />

próprio punho <strong>de</strong> cada um dos 10 signatários, pois, eu provaria minha tese, mas,<br />

não veio. Veio oficial com números e protocolos. Enfim, uma belezura. Não sei<br />

o que significa. Se o escritor – cuja função é escrever – receberá Moções <strong>de</strong><br />

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<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

Repúdio caso o escrito “ofen<strong>de</strong>r” alguém, alguma coisa, entida<strong>de</strong> ou alguma<br />

turba exaltada, o escritor não escreverá mais. Santo Voltaire. E a ofensa foi<br />

interpretada segundo quem? Acontece que estão todos – autorida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong><br />

preferência - acostumados a falar – qualquer coisa - sem contraposição.<br />

Heranças da ditadura. Sem olhar para o dicionário peço que <strong>de</strong>finam Moção. À<br />

queima roupa. A cida<strong>de</strong> terá uma surpresa. Tartamu<strong>de</strong>ios e tatibitates. Não vale<br />

pedir arrego para o secretário da Veneranda Casa.<br />

Po<strong>de</strong>mos dizer que se rolar a bola eu chuto. E as bolas vivem a rolar.<br />

As pérolas brotam e florescem, agora, na forma <strong>de</strong> árvores. Tem assunto<br />

que se <strong>de</strong>ve levar ao público sempre. É o caso da tal Árvore Símbolo? Já<br />

<strong>de</strong>finiram o Santo Símbolo sem pedir opinião para ninguém, havendo até uma<br />

entida<strong>de</strong> Franciscana na cida<strong>de</strong>. E tem aqueles que nem querem saber <strong>de</strong> santo<br />

algum. No entanto, o Santo eleito foi outro. E é Santa. A cida<strong>de</strong> não <strong>de</strong>u<br />

opinião. Ipês: (pena) não temos ipês amarelos. Um ou outro. Há mais ipês<br />

brancos do que amarelos. A praça do mercado tem muito ipê branco. Bonitos.<br />

Eu mesmo plantei um – branco – em frente à minha casa. Só espero que a<br />

Câmara não ache que estou <strong>de</strong>sfazendo <strong>de</strong> alguma <strong>de</strong>terminação e, que seja<br />

sempre do contra. Agora, tem muita murta florescente e perfumada em Mococa.<br />

Aliás, em alguns bairros elas caracterizam o passeio com aroma e lembranças.<br />

Por que não MURTA? Por causa dos cítricos? Aliás, <strong>de</strong>ixe-me entrar em <strong>de</strong>talhes<br />

<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m político-partidária, o vereador fará aquilo – leis e projetos - que o<br />

partido ao qual ele pertence quiser ou <strong>de</strong>terminar em seu conjunto, passando por<br />

reuniões e <strong>de</strong>bates. O vereador tem a obrigação <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r no partido as leis e<br />

projetos que preten<strong>de</strong> levar à Câmara, para ver se vai mesmo ou não. Não é o<br />

vereador quem <strong>de</strong>termina isso. Está aí mais um erro <strong>de</strong> representativida<strong>de</strong>. O<br />

mandato é do partido e não do vereador, lembram-se? Tem mais: O vereador –<br />

<strong>de</strong> qualquer partido - <strong>de</strong>ve participar das reuniões partidárias. É obrigatório. É<br />

ético. Uma vez eleitos não se tornam in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. E, po<strong>de</strong> acontecer, então,<br />

60


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

<strong>de</strong> ter que votar em <strong>de</strong>terminações que não são da sua própria opinião. Nada<br />

mais evi<strong>de</strong>nte.<br />

Outra pérola: TUCA <strong>de</strong>seja um PANOPTICON sobre as cabeças. Em<br />

Ribeirão, numa enquete, a população <strong>de</strong>testou a mesma idéia. TUCA quer<br />

legislar sobre segurança truculenta. Deseja convocar autorida<strong>de</strong>s, empresários e<br />

policias para resolverem o problema. TUCA quer montar torres <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>os.<br />

Deseja controlar e punir. Nossa(!), que coisa antiga. Estudiosos mundiais<br />

<strong>de</strong>terminam tal pensamento como um pensamento <strong>de</strong> retrocesso. Valha-me São<br />

Foucault!! Haverá ví<strong>de</strong>o <strong>de</strong>ntro da Câmara? Quando votam, os vereadores votam<br />

em aberto ou terá, no futuro, seção secreta em que ninguém saberá da origem<br />

dos votos? Ví<strong>de</strong>o e áudio <strong>de</strong>sligados? Não é a mesma coisa? Convoque-se a<br />

população. Eu, por exemplo, não quero câmeras pelas ruas. Sou contra. A<br />

solução não é por aí. A questão da segurança se resolve com educação e<br />

empregos. Sempre assim e nunca aplicado, convenientemente. Todos, em<br />

estudando e trabalhando, não terão tempo – ou diminui – o tempo para<br />

traquinagens. E, isso é um processo, um acesso. Leva anos. Instalar GRANDES<br />

OLHOS IRMÃOS que nos observem andando pela rua ou na entrada da cida<strong>de</strong>?<br />

Qual entrada? Todas? Tem umas cinco. Quem observará? Tem resultado<br />

comprovado? Prefiro a educação, a meu ver a única saída. Custa? Sim... A<br />

educação custa mas dura mais, mas, o PANOPTICON também custa. E caro.<br />

Mais fácil será a disseminação cultural e educacional, ações conjuntas, para<br />

diminuir o caos, e, nunca o CONTROLE BIG GLOBAL BROTHER. Ações<br />

assim são germens da arquitetura da <strong>de</strong>struição. Vamos aproveitar que a cida<strong>de</strong><br />

ainda é pequena e promover diretrizes e não punições. Em NY há milícias<br />

populares em rodízio. Assista e leia 1984 e veja no que dá. Por que o vereador<br />

<strong>de</strong>seja olhar pelo buraco da fechadura? Não sei. Acho que andam vendo muita<br />

TV.<br />

61


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

Estou no positivo. Já recebi duas moções – uma negativa e uma positiva –<br />

e um diploma <strong>de</strong> honra ao mérito, <strong>de</strong> quebra. O saldo é positivo mesmo. Quem<br />

recebeu tanto?<br />

Ah! Em tempo. Sessão na câmara às segundas, 20 horas. Vá e constate.<br />

Mas há gravações e pautas do que aconteceu na segunda e jazem arquivadas. Se<br />

não pu<strong>de</strong>r ir por que trabalha – saibam os egrégios que muito professor trabalha<br />

à noite e nem sempre na mesma cida<strong>de</strong> – acesse sites, gravações, leia jornais da<br />

cida<strong>de</strong> e pautas. Dá no mesmo.<br />

Boa semana. Vida longa e prosperida<strong>de</strong>. Cuidado com o olho gran<strong>de</strong>!<br />

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<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

POBRE POBRE PATRIMÔNIO<br />

O patrimônio Cultural <strong>de</strong> Mococa parece que vai para o brejo. A começar<br />

pelo Teatro Municipal e finalizando pelo Museu <strong>de</strong> Arte Sacra. Sem contar peças<br />

e objetos que <strong>de</strong>veriam ocupar tais espaços. Sem contar a biblioteca que vem se<br />

<strong>de</strong>smanchando – e salvo qualquer milagre neste último final <strong>de</strong> semana – alguns<br />

pedaços da biblioteca se <strong>de</strong>spren<strong>de</strong>m. Mas quem é que <strong>de</strong>ve respon<strong>de</strong>r por tudo<br />

isso? Não sei. O cargo está vago.<br />

Verifiquei pessoalmente o estado da nossa casa <strong>de</strong> livros e dá pena. Uma<br />

das maiores casas da região e, das mais antigas, sempre é <strong>de</strong>ixada <strong>de</strong> lado. É por<br />

essas e por outras que concluímos que Fazer Cultural não passa <strong>de</strong> palavras<br />

jogadas ao vento. Se não fosse pelo trabalho da Edna, da Dulce, da Izabel, da<br />

Rogéria e da Regina aquele espaço teria fechado suas portas e seriam abertas as<br />

salas da burrice crônica. E olha que já passou por várias e inúteis reformas.<br />

Livros espalhados, livros fora <strong>de</strong> estantes, sujeira, <strong>de</strong>struição. Mococa é uma<br />

63


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

cida<strong>de</strong> que não sabe fazer reformas. Nenhuma <strong>de</strong>las dá certo. O que será?<br />

Carência <strong>de</strong> material? Ele <strong>de</strong>saparece no meio da reforma? No último<br />

governo/<strong>de</strong>sastre, por exemplo, foram tapar goteiras e acabaram danificando<br />

outras coisas. E, olha que <strong>de</strong>morou para que alguém se mexesse. Hoje a foto está<br />

aí para mostrar a magnitu<strong>de</strong> do <strong>de</strong>smazelo.<br />

Tem mais.<br />

Na última vez que o Teatro Municipal esteve aberto eu fui ao piano <strong>de</strong><br />

cauda e constatei que a reforma lá <strong>de</strong>les manteve as quedas livres <strong>de</strong> água. A<br />

região central do teclado do piano está grudada monobloco por que a água<br />

inchou cada tecla. Entrou água no piano. Como no governo/<strong>de</strong>sastre dos<br />

últimos 8 anos não havia responsável algum <strong>de</strong> plantão, a bola passou para o<br />

atual governo. Um piano <strong>de</strong> 30 milhas <strong>de</strong>struindo-se lentamente e a Diretoria <strong>de</strong><br />

Cultura nem aí com isso – dando <strong>de</strong> ombros. Da reforma nem se fale. Trocaram<br />

alhos por bugalhos e cós com as calças e o gato por lebre. Eu me disponibilizo a<br />

fazer um concerto que arreca<strong>de</strong> algum recurso para consertar o que <strong>de</strong>ve ser<br />

consertado. Em breve teremos notícias <strong>de</strong>ssa empreitada.<br />

Livros e instrumentos musicais. E refletores e espelhos <strong>de</strong> refletores.<br />

Houve conferência do patrimônio que saia <strong>de</strong> um governo para entrar no outro?<br />

Há alguma lista que comprove qual é o patrimônio cultural da cida<strong>de</strong>? As peças<br />

<strong>de</strong> arte sacra estão bem guardadas? Dentro das normas <strong>de</strong> preservação? O<br />

acervo do museu <strong>de</strong> Artes Plásticas que a Câmara anterior – sempre a Câmara –<br />

fez transportar pelas ruas, está em situação a<strong>de</strong>quada nas condições normativas<br />

<strong>de</strong> temperatura e pressão? E as esculturas do Brunão? On<strong>de</strong> estão se não<br />

expostas aos nossos olhos aprendizes?<br />

Lá vai uma sugestão: Entrando-se pela porta da rua do gabinete tornamos<br />

à esquerda e lá vemos duas portas. Uma – á direita - já ocupada há muito com<br />

sua rotina <strong>de</strong>terminada e uma segunda, em frente, dá entrada para um<br />

<strong>de</strong>partamento. Lá temos duas saletas. A primeira pequena e imediata servirá para<br />

as pessoas e computadores e atendimento. A segunda, que tem uma mesa à<br />

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<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

esquerda, <strong>de</strong>ve servir para expor as obras do Giorgi fazendo, daquele nicho, a<br />

sala Bruno Giorgi, já que não tem outra serventia. O IPHAM que não nos ouça.<br />

Boa semana. Visitem os museus. Constatem os estados físicos, fotografem<br />

e man<strong>de</strong>m para os jornais. Vamos mostrar o que se dilui bem na nossa cara.<br />

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<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

PORQUE FAZER TEATRO OU CINEMA?<br />

Livres e bem educados, os artistas abaixo fazem parte do TPM – Teatro Popular <strong>de</strong> Mococa Rogério<br />

Cardoso, e trafegam no cinema com várias obras <strong>de</strong> fácil acesso no YouTube. Apesar <strong>de</strong> muita gente<br />

fingir que esquece, o TPM existe e trabalga <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1997, sem, parar. Em termos <strong>de</strong> teatro amador já<br />

gerou profissionais. Dentre milhares <strong>de</strong> obras em ví<strong>de</strong>o, no YouTube, produzidas em Mococa, <strong>de</strong>ntre<br />

formaturas, brinca<strong>de</strong>ira e coisa séria, 10% é produção nossa – INDÚSTRIA DO VÍDEO &<br />

CINEMAFATEC. Portanto, fazemos a diferença. Basta olhar.<br />

RAFAEL DE SOUZA: Po<strong>de</strong> parecer que um adolescente <strong>de</strong> 17 anos<br />

como eu não se importe muito com os problemas sociais, diga-se <strong>de</strong><br />

passagem, mas particularmente acho que o TEATRO e o CINEMA<br />

servem como uma gran<strong>de</strong> base para as mudanças na socieda<strong>de</strong> atual.<br />

E é claro que quanto mais peças e mais filmes nós produzirmos, maior fica a chance <strong>de</strong> cutucarmos<br />

a mente das pessoas. (ator, estuda na Eletrô em vários períodos).<br />

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<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

KARINA PEREIRA: O porque <strong>de</strong> fazer teatro e cinema nem se precisa <strong>de</strong> uma resposta: basta ver no<br />

rosto <strong>de</strong> cada ator quando é aplaudido no palco ou reconhecido por amigos e<br />

profissionais e assim, <strong>de</strong>stacado em jornais, reportagens, sites, escolas... não basta<br />

ter vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer para isso ocorrer, tem que ter <strong>de</strong>dicação, amor pelo que faz e<br />

confiança, pois você já estará fazendo o seu futuro, e <strong>de</strong>ssa forma, você também<br />

mudará a cabeça <strong>de</strong> muitas pessoas, fazendo-as pensar e ver o que REALMENTE<br />

acontece ao nosso redor, e se cada ator fizer sua parte, po<strong>de</strong>remos fazer a cultura<br />

voltar novamente a nossa cida<strong>de</strong>, transformando-a em lazer para todas as ida<strong>de</strong>s, e <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> lado<br />

essa moda contagiosa <strong>de</strong> aparelhos eletrônicos e a preguiça <strong>de</strong> realmente ver e participar da cultura <strong>de</strong><br />

nosso país ! (atriz, estuda na Eletrô).<br />

MARIA AUGUSTA: A arte por si só é inteira.<br />

Sendo a arte a exteriorização do sentimento, posso encontrar a<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressar as mais variadas vivencias, romper<br />

barreiras, preconceitos, trabalhar a timi<strong>de</strong>z, disciplinar-me<br />

emocionalmente e maior <strong>de</strong> todas as conquistas: encontrar o<br />

próprio "eu". A arte aguça a mente, provoca <strong>de</strong>safios e nos dá a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exercitar a criativida<strong>de</strong>,<br />

até então adormecida. (direto <strong>de</strong> Monte Santo <strong>de</strong> Minas)<br />

ALAN BALBINO: Na minha opinião, bem como na minha situação, acredito ser<br />

uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser eu mesmo, <strong>de</strong> uma forma que a socieda<strong>de</strong> não<br />

reconheceria. Ter a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>, através dos vários personagens<br />

interpretados, ser algo mais do que a civilização mo<strong>de</strong>rna suportaria, ou seja,<br />

po<strong>de</strong>r ser, ter, e fazer o que quiser sem ser tachado, <strong>de</strong>nominado como louco,<br />

esquisito, enfim, anormal. Mas no meu caso, não <strong>de</strong>u muito certo. Só passei a ser normal, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

iniciar nas artes cênicas - efeito reverso. Acho que é isso. (ator)<br />

ROSE TOMÉ: Por que [teatro] tem essa liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> te levar aos mais<br />

variados pontos do “eu”. Faz você enxergar coisas até então<br />

<strong>de</strong>sconhecidas. Ensina, na prática, sem teorias banais e ensinamentos<br />

patéticos. É vivo... faz viver. Muitas vezes faz cair a máscara da platéia<br />

que reage conforme suas afeições ao sentir que aquilo que foi dito sem<br />

nenhuma vergonha, em cima do palco, é aquilo que ela tenta ocultar<br />

<strong>de</strong> si mesma. Ver tudo isso acontecer na sua frente é emocionante. A<br />

67


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

arte é verda<strong>de</strong>ira; expressa em suas mais variadas formas o mais oculto dos sentimentos do ser<br />

humano. Gera conflitos, revoluciona, agri<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma intelectual, existe <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que a humanida<strong>de</strong><br />

existe... não quero ser radical mas artista é um ser aparte. (atriz, entrevista ao AKULTURA <strong>de</strong> 2003).<br />

É isso. Boa semana, vida longa e prosperida<strong>de</strong>.<br />

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<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

UMA CRÍTICA SOBRE TROIA<br />

Segundo os créditos, Tróia, o Filme, foi baseado na obra <strong>de</strong> Homero “A Ilíada”. Tróia é Ílion. Vemos<br />

claramente que é um filme <strong>de</strong> baixo orçamento, po<strong>de</strong>ndo facilmente ser classificado como Filme B.<br />

Diversão para a sessão da tar<strong>de</strong>. Filme simplório, dotado <strong>de</strong> texto básico e fútil, bem ao estilo<br />

Hollywood, apesar <strong>de</strong> algumas mensagens (torpedos?) na direção do velho e falecido Bush, como<br />

quando Aquiles fala para Agamêmnon <strong>de</strong> que um dia viria em que os Reis lutariam, por si mesmos,<br />

suas próprias guerras.<br />

Não se encontra isso em Homero. E, o Peleu, falou <strong>de</strong> bobeira pois nunca vai acontecer. Já foi.<br />

Meio faroeste é a cena em que Heitor manda que os exércitos levem seus mortos e o ajudante<br />

pergunta: “Será que fariam o mesmo conosco?”. A cara que Heitor faz – bom moço - leva-me a<br />

pensar que po<strong>de</strong>ria ter dito: “ E eu sei lá? Acho que não. Esses gregos são tão maus.”<br />

As liberda<strong>de</strong>s em relação à obra <strong>de</strong> Homero são várias e gritantes e aborrecidas. O livro original<br />

tem tanta violência e sangue e aventura que já basta. Dá bem para um filme <strong>de</strong> aventuras e nesse<br />

sentido é perfeito – e para isso nem seria necessário que o autor se servisse da obra do poeta<br />

cego. Inventaria outra, no mesmo mol<strong>de</strong> e estilo, como tantas já existentes. Talvez preten<strong>de</strong>sse<br />

69


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

uma justificativa intelectual para a obra. Mas, a cada canto – ou capítulo - Homero também é<br />

chegado a ganchos, como nas novelas.<br />

Por que subtrair Cassandra – a profetisa – se ela tem mais “panache”, maior carisma, pela mocinha<br />

Briseida? Além disso Cassandra é a mulher que tem tino para aconselhar que não levassem o tal<br />

cavalo para <strong>de</strong>ntro da cida<strong>de</strong>. Quem, em sã consciência, vendo um cavalo <strong>de</strong> pau parado em frente<br />

à sua casa o pega e o leva para <strong>de</strong>ntro, sem mais nem menos? E, olha que os Troianos achavam<br />

a Cassandra meio amalucada.<br />

Por que suprimir o sacrifício <strong>de</strong> Ifigênia – filha <strong>de</strong> Agamêmnon – sacrifício or<strong>de</strong>nado pelo próprio pai<br />

para aplacar a ira dos <strong>de</strong>uses e garantir vento para a gigantesca esquadra? Se mantivessem a<br />

cena do sacrifício, Agamêmnon se tornaria aos olhos do público como um terrível e sanguinário<br />

general, elevando o grau <strong>de</strong> horror em relação à ele. E todos torceríamos para que morresse no<br />

final. Mas, Agamêmnon é muito respeitado pelos seus seguidores. Só não topa muito o Aquiles<br />

Peleu, rapaz in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e arisco. E eu me pergunto: “Agamêmnon? Pra que a pressa? Ílion não<br />

sairia do lugar, mesmo”. Seria melhor diminuir o número <strong>de</strong> batalhas ou mesmo a cena do treino<br />

entre Aquiles e o íntimo primo e investir na cegueira política <strong>de</strong> Agamêmnon.<br />

Tirante o salário do Brad Pitt, que foi alto, vemos que tudo foi filmado em locação, numa praia, sem<br />

maiores adornos e construções além daquele já ruinoso templo a Apolo. O resto – a multiplicação<br />

<strong>de</strong> soldados e as construções em imagens virtuais, provavelmente, é hoje, um produto muito barato<br />

na indústria cinematográfica americana. A maior parte do orçamento, com certeza, estava<br />

relacionada com o processo <strong>de</strong> distribuição e divulgação do Filme Tróia.<br />

Um argumento usado pelos críticos era <strong>de</strong> que a ação se focalizava nos humanos, eliminando a<br />

participação dos <strong>de</strong>uses. Puro engano. Ledo e Ivo engano. Os <strong>de</strong>uses, na Ilíada <strong>de</strong> Homero, são<br />

virtu<strong>de</strong>s e qualida<strong>de</strong>s que os humanos tomam para si a cada momento. Nada mais. Hoje em dia<br />

fazemos o mesmo quando dizemos: “Ele escapou do aci<strong>de</strong>nte por um triz. Graças a São Cristóvão,<br />

nada lhe aconteceu!”. Da mesma forma os gregos já o faziam. Quando Paris – também chamado <strong>de</strong><br />

divino Alexandre - luta com Menelau, filho <strong>de</strong> Atreu e aluno <strong>de</strong> Apolo, Menelau o toma pelo<br />

capacete e o rapaz escapa por que a fita <strong>de</strong> couro arrebenta. No texto <strong>de</strong> Homero aparece como se<br />

Atena arrebentasse a tal fita. “Graças a Atena!”<br />

Como ninguém acreditaria que Aquiles, – o <strong>de</strong> pés rápidos, pois corria muito -, morreu com uma<br />

flechada no calcanhar, arranjaram um jeito <strong>de</strong> encher o peito do herói com outras flechas, <strong>de</strong>ixando<br />

<strong>de</strong> lado o fato <strong>de</strong> que Aquiles só era mortal no calcanhar por causa <strong>de</strong> uma proteção recebida dos<br />

<strong>de</strong>uses, durante banho na fonte sagrada. A culpa foi da mãe, que o segurou pelo calcanhar,<br />

enquanto o banhava. E que azar do rapaz me tomar uma flechada justo ali. Esses <strong>de</strong>uses! Esses<br />

banhos sagrados! Essas mães!<br />

70


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

Para a façanha da flechada trouxeram Páris - o antigo elfo do Senhor dos Anéis – já tarimbado<br />

nessas li<strong>de</strong>s <strong>de</strong> arco e flecha para <strong>de</strong>sferir o tal dardo letal que ninguém sabe mesmo <strong>de</strong> on<strong>de</strong> veio.<br />

Veio <strong>de</strong> alhures.<br />

Não contente com o resultado, o roteirista do filme elimina Agamêmnon no final, como se fosse um<br />

pobre rei babão qualquer, quando tenta agarrar a mocinha. Acontece que com esse “grand finale” o<br />

diretor <strong>de</strong> Tróia extermina com o resto da mitologia e, por conseguinte, das obras para o Teatro<br />

Grego. Sim, pois, no original Agamêmnon vence Tróia e retorna para suas terras, leva consigo<br />

Cassandra como espolio <strong>de</strong> guerra, e, lá, ele será, então, assassinado pela sua esposa infiel e o fiel<br />

amante Egisto. Ela, vingando a morte da filha Ifigênia, e, o outro pegando carona no po<strong>de</strong>r. Para<br />

vingar essa morte do pai – não a do filme – Orestes, o outro filho, retorna do exílio, e por aí vai, pois<br />

já é uma outra história.<br />

O filme é fraco. Uma aventura fraca. O texto é banal e tem coisas do tipo “Vamos fugir juntos <strong>de</strong><br />

Tróia, meu amor”. Só faltava dizer: “... e fundaremos Roma”.<br />

Da mesma forma, as cenas <strong>de</strong> nu<strong>de</strong>z – veladas por sombras e noites - são inúteis e po<strong>de</strong>m estar<br />

ali como não. Tão rápidas e furtivas que os atores levaram mais tempo tirando a roupa do que<br />

gravando.<br />

Na verda<strong>de</strong>, ou no sonho <strong>de</strong> Homero – a guerra <strong>de</strong> Tróia não dura dois dias. Dura <strong>de</strong>z anos, e,<br />

aquilo que vemos na telona correspon<strong>de</strong> ao décimo ano da guerra. Esse longo tempo é dramático,<br />

em si mesmo, on<strong>de</strong> teremos sítio, fome, doenças, <strong>de</strong>sesperos, sauda<strong>de</strong>s da terra natal e outras<br />

emoções que não passaram pela óptica dos autores <strong>de</strong> Tróia, o filme.<br />

Há que se sublinhar a inexistência da Grécia, naquele tempo. Temos sim uma Liga do Peloponeso.<br />

Temos atreus, argivos, micenenses, beócios, helenos, argólidas, espartanos e outros tantos juntos<br />

numa Liga. Dizer, apenas, Grécia, fica mais fácil?<br />

Tróia é um filme <strong>de</strong> puro senso comercial, sem nenhuma pretensão <strong>de</strong> outra coisa a não ser divertir.<br />

Per<strong>de</strong>ram, no entanto, a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> divertir e educar, sem per<strong>de</strong>r a mão e nem o sangue<br />

espirrado. Um paralelo positivo foi Brave Heart - Coração Valente – também na linha da lenda e da<br />

história; maior conteúdo veraz, apesar da mortanda<strong>de</strong> nas guerras. Aliás, alguns atores estiveram<br />

nos dois filmes. Talvez sejam especializados em filmes épicos-sanguíneos.<br />

A trilha sonora <strong>de</strong> Brave Heart é muito mais lírica, baseada em temas celtas, além <strong>de</strong> muito mais<br />

pujante. A <strong>de</strong> Tróia chama atenção a melodia do canto, logo no início, muito inspirada nas 18 vozes<br />

Búlgaras e nada mais. A música principal parece o tema do Thun<strong>de</strong>r Cats.<br />

Como última fala fica um pedido <strong>de</strong> atenção para que os responsáveis pelas máquinas do Cine<br />

Mococa corrijam as lentes que embaçam ou <strong>de</strong>sfocalizam o lado esquerdo das cenas na tela,<br />

71


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

mantendo o lado direito em foco. Haverá aí algum <strong>de</strong>feito e, isso já faz muito tempo. A mim parece<br />

que as lentes estão tortas, fora do eixo, alterando o centro focal.<br />

Fora <strong>de</strong> foco já basta a nossa consciência.<br />

72


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

A ESCOLA DE SAMBA<br />

Passado o carnaval e toda a ufania obrigatória resta alguma coisa para reflexão.<br />

As Escolas <strong>de</strong> Samba não têm o nome <strong>de</strong> Escola à toa. Devem ensinar e produzir<br />

sambas. Não é o que acontece em Mococa. Temos sim, mo<strong>de</strong>rnizados, cordões e blocos.<br />

Bloco carnavalesco como um conjunto <strong>de</strong> pessoas que <strong>de</strong>sfilam no Carnaval <strong>de</strong> forma semi-<br />

organizada, muitas vezes trajando mesma fantasia, ou vestidas do modo que mais lhes agradar.<br />

Conseguimos observar essa característica em muitas alas do último <strong>de</strong>sfile. Dos Cordões: o<br />

fato <strong>de</strong> serem formados por grupos <strong>de</strong> foliões mascarados com feições <strong>de</strong> velhos, palhaços,<br />

diabos, reis, rainhas, índios, baianas, entre outros, conduzidos por um mestre obe<strong>de</strong>cendo a<br />

um apito <strong>de</strong> comando. Seu conjunto instrumental costumava ser exclusivamete <strong>de</strong> percussão.<br />

E seguem outros <strong>de</strong>talhes e semelhanças.<br />

O Carnaval <strong>de</strong> Mocoa fun<strong>de</strong> as três vertentes. Para ser Escola <strong>de</strong> Samba há que<br />

evoluir, não só na avenida mas também na conduta e no aprendizado do samba,<br />

principalmente.<br />

As Escolas tradicionais do país começam imediatamente – março – e se preparam para<br />

2010. É isso o que acontece por aqui? Não. Quem é que ensina o samba? Ninguém. Uma<br />

possibilida<strong>de</strong> seria criar, <strong>de</strong> raíz, uma fonte <strong>de</strong> futuras tradições, e, nas Escolas comuns. A<br />

73


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

estória a ser contada, a música a ser criada, as fantasias e ensaios po<strong>de</strong>riam surgir <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

ensino fundamental, ao longo <strong>de</strong> todo ano, para <strong>de</strong>saguar na avenida em 2010. É tomo <strong>de</strong><br />

pesquisa da contribuição africana ao Brasil. Surgiriam aí tantas “escolinhas <strong>de</strong> samba” quanto<br />

escolas tivermos na cida<strong>de</strong>. Ou seja, um processo <strong>de</strong> plantar um Carnaval sustentável.<br />

para isso.<br />

No início po<strong>de</strong>mos importar o saber das Escolas <strong>de</strong> São Paulo. Algumas têm projeto<br />

Do jeito que é e está o Carnaval <strong>de</strong> Mococa sempre ficará à mercê dos foliões que<br />

moram fora; quando pu<strong>de</strong>rem, aparecerão na data marcada para <strong>de</strong>sfilar o mesmo <strong>de</strong> sempre,<br />

com os mesmos tropeços. E, por falar em tropeço, no geral, há um cantor principal - o tal<br />

puxador, termo que Jamelão nunca gostou <strong>de</strong> usar, pois para ele quem puxa puxa carro –<br />

então há o interprete principal, e, outros <strong>de</strong> apoio, em função do possível cansaço do primeiro<br />

e uma ou outra pequena harmonia. O que ouvi foi que em vez <strong>de</strong> dar apoio ao cantor, os tais<br />

“apoiadores” estavam atrapalhando o canto principal. É necessário afinação e noção espacial.<br />

Sonhar com a coisa é uma coisa. Saber fazer é outra. Querer fazer e atrapalhar é crime.<br />

Harmonia, no samba-enrêdo, <strong>de</strong>ve ajudar e não atrapalhar. Há que se atentar para isso.<br />

Além disso é necessário sambar, não marchar. Os <strong>de</strong>sfiles parecem aos <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong><br />

setembro com a diferença <strong>de</strong> que os braços ficam abertos como se pedissem alguma coisa ou<br />

oferecessem a alegria plástica e sorri<strong>de</strong>nte com data marcada - é um vício <strong>de</strong> interpretaçãpo <strong>de</strong><br />

quem canta ou está no “samba usando paraquedas <strong>de</strong> griffe”. Pouca gente mostra que tem<br />

samba para <strong>de</strong>monstrar.<br />

É isso. Nerm é preciso dizer que são avaliações críticas positivas.<br />

Deixo votos <strong>de</strong> sucesso, vida longa e prosperida<strong>de</strong>.<br />

Boa Semana.<br />

74


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA<br />

Dentro das linguagens artísticas que Mococa produz, há a linguagem<br />

cinematográfica. E hoje cinema não se faz mais, somente, com celulói<strong>de</strong> – fita –<br />

mas, também com ví<strong>de</strong>o <strong>de</strong> baixa ou alta <strong>de</strong>finição, por exemplo. No mundo<br />

existem milhares, isso mesmo, milhares <strong>de</strong> festivais <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>os que marcam a<br />

imagem e a sensibilida<strong>de</strong> do mundo inteiro. E Mococa? Além da produção<br />

heróica do Brás Machado – AMOR, PODER QUE TRANSFORMA, <strong>de</strong><br />

profundo apelo cristão ao estilo evangélico - Os irmãos evangélicos não lhe<br />

foram irmãos e não <strong>de</strong>ram muita trela para o filme e era <strong>de</strong> se contar que<br />

houvesse maior interesse por parte <strong>de</strong>sses grupos religiosos, já que a obra foi<br />

para eles direcionada - temos também o Maurício Miguel e suas tentativas e<br />

pesquisas e na maioria das vezes investidas concretas, mas também heróicas, na<br />

área do documentário que, a meus olhos, lhe é o viés mais propício. Opinião<br />

minha.<br />

75


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

Dentro das linguagens caricaturais que Mococa produz há uma, que se<br />

sobressai quase que diariamente, que é a <strong>de</strong> agentes <strong>de</strong> mídia sem pé nem cabeça.<br />

Sem falar nas gran<strong>de</strong>s coberturas a lojas familiares, nas gran<strong>de</strong>s entrevistas com<br />

políticos subservientes, nas gran<strong>de</strong>s coberturas a ruas asfaltadas que acabam ali e<br />

et coetera, temos também direcionamentos <strong>de</strong> reportagens que conduzem a uma<br />

auto-propaganda do nada, propaganda do inútil <strong>de</strong> plantão. Hiltons. Riltons.<br />

Depois <strong>de</strong> Paris Hilton os Riltons são aqueles que ficam famosos sem terem<br />

feito coisa alguma. Tem muito Rilton em Mococa. Voltemos ao cinema.<br />

Arte em construção. Além da memória d’O CABELEREIRA, lembrando<br />

sempre do Dr. José Olimpio – jovem ator naquela época <strong>de</strong> 62 - , já vimos<br />

nomes mocoquenses no elenco <strong>de</strong> outras obras: atores <strong>de</strong> nome como Josué<br />

Torres, Marília <strong>de</strong> <strong>Moraes</strong>, Bertolucci (ADÁGIO AO SOL, <strong>de</strong> Xavier <strong>de</strong><br />

Oliveira), e Sergio Spina (OBSESSÃO NEURÓTICA, AUTO DA BARCA DO<br />

INFERNO). Mais. Des<strong>de</strong> 1997 a INDÚSTRIA DO VÍDEO vem produzindo<br />

curtas metragens. Hoje aliada ao Núcleo <strong>de</strong> Cultura da FATECmococa parte<br />

para a criação <strong>de</strong> médias e longas em 2009. Dessa forma saliento os nomes <strong>de</strong><br />

Amanda Garcia, Rafael <strong>de</strong> Souza, Bruna Freire, Karina Pereira, Lucilda Andra<strong>de</strong>,<br />

que são jovens do núcleo <strong>de</strong> cinema da FATEC e contribuem efetivamente para<br />

a arte a cultura da cida<strong>de</strong>. Até 2010 quando um surto <strong>de</strong> bobeira atingiu como<br />

vendaval as estruturas.<br />

A cida<strong>de</strong> faz o que? Nada. Então eu digo. Devem ir atrás. Devem assistir a<br />

tudo. Devem ser testemunhas do que tais jovens fazem e seu potencial <strong>de</strong><br />

crescimento. Assim, se tornarão testemunhas do começo da carreira <strong>de</strong>stes<br />

jovens.<br />

É isso. Deixo votos <strong>de</strong> sucesso, vida longa e prosperida<strong>de</strong>.<br />

Boa semana!<br />

76


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

O AMOR NOS TEMPOS DO CÓLERA<br />

Produtores e Realizadores internacionais resolveram, por bem, oferecer<br />

aos cinéfilos <strong>de</strong> todo mundo uma obra baseada no livro <strong>de</strong> Gabriel Garcia<br />

Marques.<br />

O filme é bonito e bem adaptado, em que pese adaptar um romance, inda<br />

mais em se tratando <strong>de</strong> um Nobel <strong>de</strong> Literatura. Na imagem fílmica a história<br />

po<strong>de</strong> até ficar outra. No entanto, no caso <strong>de</strong>sse específico “CÓLERA” pesou<br />

mais o colonialismo. Os produtores escolheram atrizes e atores que ganharam<br />

ou foram indicados ao Oscar, sendo todos artistas latinos ou <strong>de</strong> língua latina.<br />

Todos excelentes. Fernanda Montenegro (Brasil), Javier Bar<strong>de</strong>m (Espanha),<br />

Giovanna Mezzogiorno (Itália), mexicanos, colombianos, tendo ainda a voz <strong>de</strong><br />

Shakira para completar a sonorida<strong>de</strong> latino-americana, com um cancioneiro<br />

lamentoso da América do Sul e Central. A paisagem caribenha dava sua cor<br />

lapidada em tons <strong>de</strong> sol e céu anilado. Porém, todos os artistas falavam no<br />

77


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

idioma inglês, que mata o texto e, no caso, mata a interpretação. Para o ouvido<br />

limitado do americano do norte, atrizes e atores, falando em inglês, carregam no<br />

sotaque e, isso já será consi<strong>de</strong>rado outra língua lá para eles.<br />

Um bom exemplo é a mo<strong>de</strong>rnosa adaptação d’O CRIME DO PADRE<br />

AMARO, em espanhol-mexicano. Porém, no “CÓLERA”, a metrópole manda.<br />

A colônia obe<strong>de</strong>ce. Fala mais alto a voz do mercado. Fala mais baixo a língua<br />

castelhana, que, apesar disso, vem ganhando seu espaço no planeta.<br />

O treinamento mais intenso que precisamos ter é o <strong>de</strong> pensar<br />

originalmente, mas, frequentadores assíduos <strong>de</strong> novelas não terão essa<br />

oportunida<strong>de</strong>.<br />

Ler outros autores que não o mago <strong>Coelho</strong> também será obrigatório e,<br />

para quem gosta <strong>de</strong> andarilhagem e coisas <strong>de</strong> Santiago <strong>de</strong> Compostela existe um<br />

livro escrito aqui em Mococa, autor local, que conta, com realida<strong>de</strong>, como se faz<br />

aquele caminho. Autor: Itelberto Peres. É pegar e ler e se manifestar, pois,<br />

permanecer refestelado e contemplativo não faz a cida<strong>de</strong> andar.<br />

Mas, a peste colérica ganhou a parada e a plêia<strong>de</strong> <strong>de</strong> artistas passou a falar<br />

em falso inglês. Os latinos freqüentadores <strong>de</strong> cinema terão que se ater a legendas<br />

nos filmes importados da Metrópole, como sempre.<br />

Dessa forma fica uma sugestão para o artista mocoquense: bolar roteiros e<br />

enredos <strong>de</strong> peças teatrais sem texto algum. Assim todos enten<strong>de</strong>rão,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do país e do idioma, até mesmo no Japão. Será um produto <strong>de</strong><br />

exportação facilitada.<br />

A educação no país já é precária. As obras na tela gran<strong>de</strong> consomem o<br />

que nos resta da linguagem com péssima legendagem, e piora se não assistirmos<br />

os nossos produtos cinematográficos brasileiros. Valorizar a obra brasileira,<br />

então, é obrigação <strong>de</strong> todos e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> gostar ou não. É necessário apren<strong>de</strong>r<br />

que existem múltiplos olhares para se enxergar a realida<strong>de</strong>. Apren<strong>de</strong>r que o<br />

modo americano <strong>de</strong> fazer filmes é apenas um <strong>de</strong>les e não é, necessariamente, o<br />

78


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

melhor. Existe o italiano, o hindu, o francês, o alemão... cada um em sua linha,<br />

cada um com sua graça e peculiarida<strong>de</strong>.<br />

Para acompanhar o processo <strong>de</strong> adaptação leia o livro “O AMOR NOS<br />

TEMPOS DO CÓLERA”. Estu<strong>de</strong> as imagens que o diretor do filme criou e<br />

compare com a sua imagem <strong>de</strong> leitor. É, também esse, um exercício vigoroso<br />

para ganhar po<strong>de</strong>r crítico. Para ganhar distanciamento. Para ampliar o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

observação.<br />

Dá próxima vez em que for à locadora pegue somente filme brasileiro. Ou<br />

experimente os latino-americanos. Haverá muita surpresa. Exemplo: muito filme<br />

que já passou em nosso circuito – CARANDIRU ou PIXOTE – é produto<br />

brasileiro e foi dirigido por um artista argentino.<br />

É isso. Sucesso, vida longa e prosperida<strong>de</strong>. Boa semana!<br />

79


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

CULTURA E / OU LEGISLATIVO<br />

Não podia <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> participar ativamente da vida política da minha cida<strong>de</strong>, portanto, venho<br />

prestar apoio e auxilio enviando aulas importantes para que os atuais legisladores façam o <strong>de</strong>ver<br />

<strong>de</strong> casa, aquilo que <strong>de</strong>vem fazer <strong>de</strong> vero, pois ainda há tempo. E tudo baseado no mestre Platão.<br />

Para Platão, o filósofo <strong>de</strong>ve se ligar na polis – cida<strong>de</strong> - e cumprir missão moral e social, daí<br />

os confrontos entre a filosofia com hábitos estabelecidos na cida<strong>de</strong> – Mococa – em todas as<br />

épocas, que volta-e-meia, con<strong>de</strong>na alguém ao ostracismo, preferentemente alguém iluminado pela<br />

luz <strong>de</strong> Goethe. Seguem, a partir daí, algumas <strong>de</strong>finições e missões que serão encaradas como<br />

Or<strong>de</strong>ns a Cumprir, pois não caíram do céu e estão presentes em todo o mundo civilizado: a) O<br />

legislador mocoquense <strong>de</strong>ve purificar a alma e não temer a morte. Ser reto no seu pensamento e<br />

não dar atenção a negociatas e empreguinhos para maridos ou parentes, por exemplo; b) O<br />

legislador, ou vereador, no nosso caso, buscará, por obrigação, o conhecimento i<strong>de</strong>al do bem e do<br />

justo para a cida<strong>de</strong>, e não só para si ou sua imagem <strong>de</strong> falso bom-samaritano (on<strong>de</strong> predomina o<br />

samaritano nada bom) , que distribui nomes <strong>de</strong> ruas a torto e à direito e legisla em torno do umbigo;<br />

c) o vereador(a) <strong>de</strong>ve inquirir e purificar a alma dos cidadãos, com novos hábitos, novas idéias,<br />

80


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

novos caminhos, novos direcionamentos e não como vemos hoje (2009) com a repetição do óbvio<br />

instalada nas recâmaras da Câmara, numa Câmara igual a qualquer outra já vista; d) o legislador<br />

será o bom professor que se preocupa com a boa formação <strong>de</strong> seus discípulos na busca da<br />

verda<strong>de</strong> e não nas picuinhas e tolices que chamam política por serem ignorantes e copiadores dos<br />

maus exemplos <strong>de</strong> outros tempos. Por isso o Vereador <strong>de</strong>ve saber ler e escrever corretamente e<br />

não com a mão do gato.<br />

Dessa forma há que se superar o sensível, o particular, o prazer e buscar viver em<br />

consonância com a realida<strong>de</strong> supra-sensível <strong>de</strong>sconhecida, daí a importância <strong>de</strong>ssas aulas,<br />

dirigidas aos políticos. Construirão a cida<strong>de</strong> justa, criando espaços <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong> e mo<strong>de</strong>ração.<br />

Não digo que <strong>de</strong>vam se afastar do mundo, mas é necessário conhecer verda<strong>de</strong>s variadas,<br />

tornando-se sábio e justo, a partir do conhecimento do bem social e popular, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> po<strong>de</strong> instituir<br />

as mais belas e verda<strong>de</strong>iras leis. Não há somente um caminho, uma verda<strong>de</strong> e uma luz. Existem<br />

várias.<br />

Portanto todo ser humano sério evita escrever coisas sérias para não abandoná-las à<br />

aversão e à incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreensão <strong>de</strong> outros que nada enten<strong>de</strong>m. No entanto vemos que<br />

uma Câmara como a <strong>de</strong> Mococa congrega em si uma quantida<strong>de</strong> impar <strong>de</strong> vereadores inaptos ao<br />

bem pensar. O que fazer, então, se o século é 21 e a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> urge.<br />

É mister <strong>de</strong>senvolver amplas reflexões sobre os gran<strong>de</strong>s problemas da cida<strong>de</strong>, como<br />

também, convencer-se <strong>de</strong> que o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>ve estar sempre aliado ao saber. Não há como enten<strong>de</strong>r<br />

textos sem uma leitura fluente. Não entendo textos não se faz boa lei. Cida<strong>de</strong> e problemas são<br />

sinônimos.<br />

Pergunta: Quantos dos nossos insignes vereadores sabem ler e escrever corretamente e<br />

sabem li<strong>de</strong>rar algo? Levante a mão!<br />

A meu ver <strong>de</strong>vem ser imediatamente substituídos ou, para não <strong>de</strong>smerecer o voto daquele<br />

que votou em inaptos, <strong>de</strong>vem tais vereadores ter a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudar. Para compreen<strong>de</strong>r<br />

como ocorre a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m na alma, é preciso lembrar que os seres humanos não são iguais: uns têm<br />

ouro na alma - estes são os que po<strong>de</strong>m comandar e/ou legislar sobre a cida<strong>de</strong>, pois neles<br />

predomina a parte racional; outros têm prata na alma - estes serão os auxiliares dos chefes, pois<br />

estão aptos a <strong>de</strong>senvolver a coragem no mais alto ponto e a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> seus inimigos<br />

internos e externos; em sua alma predomina a parte irascível, mas são extremamente úteis e<br />

saudáveis. Outros, ainda, têm bronze e ferro na alma e, por enquanto, estes se limitam a votar –<br />

votando mau - em ape<strong>de</strong>utas e pessoas incompetentes para cargos <strong>de</strong> suma importancia para uma<br />

cida<strong>de</strong> que posa muito mas faz pouco.<br />

Boa semana! Não se acomo<strong>de</strong>.<br />

81


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

TPM – 13 ANOS<br />

A Indústria Cultural não é, ainda, uma realida<strong>de</strong>. Não é ativida<strong>de</strong>, ainda, completamente<br />

instalada. Há muito empecilho. Mas há sementes plantadas.<br />

O i<strong>de</strong>al seria que todos plantassem as sementes em vez <strong>de</strong> nela pisarem.<br />

Nós que plantamos as sementes oferecemos mais um ato da conferencia dos nossos trabalhos<br />

nas artes cênicas, conferência feita com quem nos acompanhar na jornada. Segue abaixo um<br />

pouco da obra e da história do<br />

TPM – Teatro Popular <strong>de</strong> Mococa “Rogério Cardoso”.<br />

1997 - Outubro, ao lado <strong>de</strong> atrizes e atores, monta o TPM - Teatro Popular <strong>de</strong> Mococa que<br />

foi buscar patrono em Rogério Cardoso. 1998 - TPM monta "PROMETEU", em Abril, e<br />

participa do Festival <strong>de</strong> Araras-SP – no Mapa Cultural Paulista. Trouxe o prêmio <strong>de</strong> melhor<br />

coadjuvante para o ator João Ramalho. Em seguida passa ler e produzir “O AUTO DA<br />

BARCA DO INFERNO”, (Gil Vicente). 1999 - Estréia do “AUTO DA BARCA” que faz<br />

turnê ou giro por Arceburgo, São João da Boa Vista, São José do Rio Pardo e Guaxupé, em<br />

Março e Abril, Maio e Junho. 2000 - Monta “LUA NEGRA” , estreando em São Jão da Boa<br />

82


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

Vista no mês <strong>de</strong> Maio. Mas, no mesmo ano monta “COMÉDIAS”, <strong>de</strong> Woody Allen, em<br />

Novembro. 2001 - ”SEXO É COISA SÉRIA” <strong>de</strong> Veríssimo e Woody Allen em Março;<br />

“DEUS” <strong>de</strong> Woody Allen em Abril, foram peças com recor<strong>de</strong> <strong>de</strong> público. E esse tipo <strong>de</strong> coisa<br />

nunca foi bem aceito pela inteligentzia artística da cida<strong>de</strong> na época. Mas, a casa cheia nada<br />

mais significa do que trabalho bem feito. Neste momento fecha-se o Teatro Municipal <strong>de</strong><br />

Mococa para reformas que duram 1 ano e meio. Reformas que nada reformam. O TPM se<br />

instala com ensaios e produções no Teatro Oscar Villares. De lá saem “COMPUTA,<br />

COMPUTADOR, COMPUTA <strong>de</strong> Millôr em Junho e o badalado “O TARADO” <strong>de</strong> Woody<br />

Allen em Julho e Setembro num festival em Belo Horizonte. 2002 - “A MORTE AO<br />

VIVO”, <strong>de</strong> Veríssimo, Fraga e Woody Allen em Abril; em seguida “O HOMEM DO<br />

PRINCÍPIO AO FIM” , <strong>de</strong> Millôr Fernan<strong>de</strong>s em Junho e a estréia em Outubro <strong>de</strong> “O<br />

SANTO INQUÉRITO”, <strong>de</strong> Dias Gomes. Marcos obrigatórios <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> fazer teatral na<br />

cida<strong>de</strong>. “O SANTO INQUÉRITO” faz turnê em Outubro: Guaranésia, Arceburgo,Monte<br />

Santo <strong>de</strong> Minas , Itamogi , Escola Carlos Lima Dias, Teatro Municipal <strong>de</strong> Mococa, finalmente<br />

reaberto, porém <strong>de</strong>monstrando os mesmo problemas. Recuperamos “O HOMEM DOM<br />

PRINCÍPIO AO FIM” do repertório, para apresentações na escola Barão <strong>de</strong> Monte Santo ,<br />

São João da Boa Vista , Vargem Gran<strong>de</strong> do Sul, Teatro Municipal <strong>de</strong> Mococa , com retorno a<br />

Itamogi. 2003 - “TRIÂNGULOS AMOROSOS” – Albee e Silveira Sampaio, - Março<br />

“MULHERES DESESPERADAS” – <strong>de</strong> Edward Albee, - Abril “RAMA & SITA”, musical<br />

infantil baseado no Ramayana, - Maio “ATEUS, VAGABUNDOS E LOUCOS”, <strong>de</strong> Gordo<br />

Netto - Maio. Turnê <strong>de</strong> MULHERES DESESPERADAS pelo Sul, <strong>de</strong> Minas Gerais. JOSÉ<br />

DO EGITO, o musical, <strong>de</strong> Loyd Webber em Agosto, além <strong>de</strong> PROJETO ALFA – no SESC<br />

Campinas em Novembro. Sem per<strong>de</strong>r tempo fomos ao Mapa Cultural em Dezembro, com<br />

apresentação em Campinas. 2004 - Mapa Cultural Paulista – fase regional – melhor direção,<br />

peça e atriz – Janeiro. Sem <strong>de</strong>itar nos louros da glória seguimos com “O LIVRO DO<br />

GENESIS”, em Julho; “RELAÇÕES AMOROSAS”, <strong>de</strong> Allen, Jabor, Millôr e Veríssimo –<br />

Setembro e a terrível “A LIÇÃO”, <strong>de</strong> Ionesco – Outubro. 2005 - “JESUS CRISTO<br />

SUPERSTAR”, musical <strong>de</strong> Lloyd Webber – Março; “TRÊS HOMENS BAIXOS”, <strong>de</strong><br />

Rodrigo Murat, teatro – Maio; “VIDA PRIVADA”, <strong>de</strong> Mara Carvalho, teatro – Julho, que<br />

participou do Festival Cacilda Becker, em Pirassununga. 2006 - “MULHER, OBJETO DE<br />

CAMA E MESA”, <strong>de</strong> Heloneida Studart e vários autores, Maio; “CORRUPTOS E<br />

FELIZES”, <strong>de</strong> Jorge Dumarescq, em Dezembro. 2007 – “ANTROPOFAGIA”, baseado nos<br />

textos <strong>de</strong> Oswald <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> e “UM ESTUDO SOBRE NELSON RODRIGUES –<br />

TRAIÇÕES – Novembro. 2008 – “EU FAÇO A MINHA HISTÓRIA , baseado na obra <strong>de</strong><br />

83


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

Marilu Alvarez, - Maio. 2009 - NIETZSCHE NO PARAÍSO, sobre textos <strong>de</strong> autores variados<br />

– com estreia marcada para Março. 2010 – A MORTE BÊBADA DA MORTE, <strong>de</strong> Miranda<br />

Junior e Woody Allen, que estreou em Fevereiro.<br />

PRÊMIOS<br />

Mapa Cultural Paulista – regional – teatro - melhor direção, peça e atriz – Janeiro 2004<br />

TPM grupo Selecionado Festival Volkswagen, final em SP – Julho – 2003<br />

Mapa Cultural Paulista. Prêmio ator coadjuvante, 1998<br />

Festival <strong>de</strong> Varginha, MG – melhor direção, música e melhor peça – Setembro, 1997<br />

Vemos que a contribuição do TPM para a cultura mocoquense é ímpar e vemos que <strong>de</strong>fine<br />

uma escola <strong>de</strong> atuação e aprendizado e criação que merece ser copiada pelos grupos iniciantes.<br />

Há vários <strong>de</strong>les em Mococa, hoje.<br />

De qualquer forma fica o convite: Apóie a ação teatral <strong>de</strong> Mococa indo aos espetáculos. Dessa<br />

forma você <strong>de</strong>monstrará inteligência e sua cida<strong>de</strong> crescerá.<br />

Boa Semana!<br />

84


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

INDÚSTRIA DO VÍDEO<br />

O leitor que me acompanha perceberá que Produtores In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte – PI – é um grupo que produz<br />

teatro, cinema e música. Além <strong>de</strong> ser grupo capacitado, produz uma carga <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s invejável. E<br />

essa emoção transparece nas ações <strong>de</strong> muitos dos nossos seguidores, tomados entre platéia,<br />

alunos ou artistas que aqui <strong>de</strong>senvolvem sua arte. Ainda a título <strong>de</strong> conferência segue um “resumo<br />

da obra”, abaixo, da produção em curtas metragens que a INDÚSTRIA DO VÍDEO vem produzindo<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 97. Um e outro título está cadastrado no curtagora.com.Br ou no Curta Ví<strong>de</strong>o, ou ainda po<strong>de</strong><br />

ser acessado no YouTube ou Vi<strong>de</strong>oLog. Po<strong>de</strong> ser acessado a qualquer momento. Um e outro título<br />

já se mostrou no formato <strong>de</strong> treiler.<br />

À medida que produzimos, os curtas vão direcionados para festivais e mostras do país e do mundo.<br />

Mococa, então, participa do mundo com suas imagens e isso ajuda a alicerçar o turismo. É<br />

escusado dizer que para a produção <strong>de</strong>ssas obras há a pesquisa, o ócio criador, os ensaios, as<br />

tomadas, as locações, a edição, disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> artistas. Tudo isso com custos <strong>de</strong> produção, que<br />

para bom enten<strong>de</strong>dor são palavras que bastam, mas, que para alguns ouvidos da cida<strong>de</strong> nada<br />

significam.<br />

Para mal enten<strong>de</strong>dor, nem adianta per<strong>de</strong>r o tempo. Mas, conheçam as recentes produções Quem<br />

85


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

sabe uma outra moral? Outro olhar? Outra audição? Preparar Mococa para sair do seu estado pré-<br />

histórico, através da arte. INDÚSTRIA DO VÍDEO.<br />

Seguem indicativos: produção P / direção D / edição E / trilha T/ narração N / atuação A / roteiro R<br />

1997 "SONHOS", P/D/E/R, Agosto-Novembro. / 1998 I Mostra <strong>de</strong> Ví<strong>de</strong>o na antiga Industrial (Curtas<br />

e Médias), P, Mococa – Janeiro. "PROMETEU", D/P, Abril. "O CASARÃO AMARELO", P/D/E/R,<br />

entre Setembro e Dezembro. / 1999 II Mostra <strong>de</strong> Ví<strong>de</strong>o na antiga Industrial (Curtas e Médias), P,<br />

Mococa – Janeiro. "O ZELADOR " , P/D/E/R, Março e Abril. “AS BRUXAS”, P/D/E/R, Maio. “O<br />

ZELADOR II”, P/D/E/R, Junho. / 2000 A TESTEMUNHA, A, Março, direção Sergio Spina / 2001 III<br />

Mostra <strong>de</strong> Ví<strong>de</strong>o na antiga Industrial, P, Mococa – Março. “SANTIFICAR AS FESTAS”, P/D/E/R,<br />

Março.“COMPUTA, COMPUTADOR, COMPUTA”, <strong>de</strong> Millor Fernan<strong>de</strong>s, P/D/E, Junho.<br />

INTERFERÊNCIAS”, P/D/E/R, Ví<strong>de</strong>o. / 2002 O SANTO INQUÉRITO, Dias Gomes, P/D/E/, Maio.<br />

O HOMEM DO PRINCÍPIO AO FIM, Millor Fernan<strong>de</strong>s, P/D/E, Junho. AUTO DA BARCA DO<br />

INFERNO, Gil Vicente, P/D/E, Julho. SITIADOS - P/D/E/R, Julho / 2003 RAMA & SITA, P/D/E/R,<br />

Maio. ATEUS, VAGABUNDOS E LOUCOS, Gordo Netto, P/D/E, Maio / 2004 A LIÇÃO, Ionesco,<br />

P/D/E, Outubro. / 2005 MOSTRA UNIOESTE DE VIDEO, com O FIM, Setembro. DIÁLOGOS,<br />

P/D/E/T/R, Setembro. Projeto VíDEO_VESTIBULAR, fase um - <strong>de</strong> Setembro a Dezembro. / 2006<br />

Projeto VíDEO_VESTIBULAR, fase dois - <strong>de</strong> Janeiro a Setembro. BUFUNFA NO MUNDO DAS<br />

CORES, <strong>de</strong> Daniel Azulay, P/D/E/N, Janeiro. MISSA DO GALO, <strong>de</strong> Machado <strong>de</strong> Assis, P/D/E/R,<br />

Janeiro. LEITURAS E VISÕES, sobre Mario Quintana, P/D/E/R, Janeiro. INSÔNIA, <strong>de</strong> Graciliano<br />

Ramos, P/D/E/N/R, Março. MOSTRA UNIOESTE DE VIDEO, várias obras em horário especial,<br />

Março. IRA, <strong>de</strong> Guilherme Giordano, P/E/N, vi<strong>de</strong>o para TV, Abril. CERTA ENTIDADE , <strong>de</strong> Qorpo<br />

Santo, P/D/E/R, Julho. REINO FRANCO, <strong>de</strong> Guilherme Giordano, P/E, Maio. LEPHANTE,<br />

animação, P/D/E/R , <strong>de</strong> CDM, Julho. ENSAIOS SOBRE A MORTE, <strong>de</strong> Woody Allen, Millôr e Fraga,<br />

P/D/E/N/R, Agosto. O DUENDE DA MARCIA, animação, P/D/E/N, CDM, Setembro. ENCONTROS E<br />

DESENCONTROS, <strong>de</strong> David Ives e CDM, P/D/E/R - Novembro. QUEM TEM BOCA NÃO MANDA<br />

ASSOPRAR, <strong>de</strong> Arthur Azevedo, P/D/E/R , Novembro. NA PELE DE SÓCRATES, <strong>de</strong> Woody Allen,<br />

P/D/E/R Novembro. / 2007 A CASA, baseado em Borges, P/D/E/N/R – Janeiro. AS ESPOSAS DE<br />

LOVBORG, <strong>de</strong> Woody Allen, P/D/E/R – Junho. LEITURAS E VISÕES, sobre Getúlio Cardoso,<br />

P/T/D/E/R - Junho. EDEN, um estudo, texto coletivo /P/D/E/T - Julho. ENIGMAS?, <strong>de</strong> <strong>Coelho</strong> De<br />

<strong>Moraes</strong> /P/D/E/T/R - Outubro. O MOCHILEIRO, <strong>de</strong> <strong>Coelho</strong> De <strong>Moraes</strong> /D/E/P/R – Novembro. /<br />

2008 “A MÁQUINA DO BEM E DO MAL”, <strong>de</strong> Rodolpho Walsh, P/D/E/R, reedição Fevereiro. A<br />

CARTOMANTE, <strong>de</strong> Machado <strong>de</strong> Assis P/D/E/T/R – Maio. LEITURAS E VISÕES, sobre Affonso<br />

Romano <strong>de</strong> Sant’Anna, P/D/E/R, Junho. I FESTIVAL RATOEIRA - Ulrica e Interferências -<br />

86


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

selecionados – RJ – Julho. O MENINO DA BOLINHA AMARELA – D/E/A/P – Julho. UM OLHAR<br />

SOBRE CAPITU – D/E/P/A/T – Setembro. 2009 HONRAR PAI E MÃE – D/E/P/R – Janeiro.<br />

NOTÍCIAS DO FUTURO - P / D / E / T/ A / R – Abril. O FANTASMA DA CASA VELHA – P / D / E /<br />

T/ A / R / Maio - O O LOBO E O CORDERIO – P / D / E / T / R Setembro. OSWALD DE ANDRADE<br />

- P / D / E / T / R. Outubro. 2010 – O LEÃO E O COIRDEIRO - P / D / E / T/ A / R – Janeiro.<br />

Eis a lista <strong>de</strong> produções que vão pelo mundo levando a arte mocoquense.<br />

Tendo um tempo acesse: http://www.youtube.com/profile?user=COELHODEMORAESVIDEOS;<br />

http://www.youtube.com/profile?user=COELHODEMORAESDIRECT;<br />

http://www.youtube.com/user/INDUSTRIADOVIDEO?gl=BR&hl=pt;<br />

http://vi<strong>de</strong>olog.uol.com.br/vi<strong>de</strong>os.php?or<strong>de</strong>m=1&periodo=1&id_usuario=309665; e encontrará muita<br />

gente boa por lá.<br />

É isso.<br />

Boa semana!<br />

87


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

CULTURA POLUI?<br />

A prática <strong>de</strong> ignorar ou fingir-se <strong>de</strong> morto é mato em Mococa.<br />

Quantos pobres ignaros <strong>de</strong>sconhecem que um artista <strong>de</strong>ve ser pago pelo alto valor <strong>de</strong><br />

suas horas <strong>de</strong> trabalho? Principalmente, as <strong>de</strong> ócio criativo? Um artista que fica à disposição <strong>de</strong><br />

uma comunida<strong>de</strong> já <strong>de</strong>ve ser pago, a priori. A presença do artista em uma cida<strong>de</strong> já faz a<br />

diferença.<br />

Há os que não ignoram isso e fazem todo o esforço para que a sua cida<strong>de</strong> tenha<br />

cultura real, em tempo real. Cultura Crônica e Contemporânea. Tatuí, São João, Nova O<strong>de</strong>ssa,<br />

são exemplos. Mas, tivemos nossos bons exemplos e vale lembrar: Em 1996 - governo Naufel<br />

(Profa. Vera Sandoval e Prof, Paladini) - a Escola Municipal <strong>de</strong> Música “Eucli<strong>de</strong>s Motta”.<br />

Eucli<strong>de</strong>s Motta era vereador versado nos interesses educacionais e culturais. Serve <strong>de</strong><br />

referência para a nova safra <strong>de</strong> legisladores. Existe em Mococa uma escola <strong>de</strong> música pronta<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 82. Inativa graças aos (<strong>de</strong>s) governantes posteriores. Nos doze anos <strong>de</strong> vácuo cultural<br />

que se seguiu - só mesmo rindo ou ruindo para crer que houve ato <strong>de</strong>cente e programático.<br />

Olhem bem: São José do Rio Pardo é braço do Conservatório <strong>de</strong> Tatuí. São João montou<br />

uma Incubadora Cultural. Mococa cumpriu a sina <strong>de</strong> ver o “trem da cultura” passar.<br />

Em 97 fundou-se o EMADMA - Escola Municipal <strong>de</strong> Artes Dramáticas e Musicais <strong>de</strong><br />

88


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

Arceburgo. Surgiram os Coros Adultos e Infanto-Juvenil. Surgiu o GRADA, premiado cinco<br />

vezes em Varginha – Teatro - logo nos primeiros seis meses <strong>de</strong> vida. Tais escolas foram<br />

<strong>de</strong>sativadas por questões da política local, canhestra e sinistra. O Coro da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mococa,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> Lu Amato, com 22 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> foi <strong>de</strong>sativado. Em Outubro <strong>de</strong> 97 surgia o grupo <strong>de</strong><br />

Teatro que veio a ser o TPM – Teatro Popular <strong>de</strong> Mococa “Rogério Cardoso”, por iniciativa<br />

particular, e, a Indústria do Ví<strong>de</strong>o, para a produção <strong>de</strong> curtas e médias metragens: Um pólo <strong>de</strong><br />

cinema.<br />

Entre 97 e 98 o Kuarteto Mokoka (música para cinema), saiu em turnê brasileira,<br />

sendo primeira página em vários jornais do Brasil – do Arroio ao Chuí, digamos assim. Mas,<br />

como se produzirá tudo isso? Com dinheiro celeste? Na verda<strong>de</strong>, os grupos vivem com o<br />

problema crônico da falta <strong>de</strong> espaço, falta <strong>de</strong> transporte, falta <strong>de</strong> mídia. Mas, eu sei, isso é<br />

problema nosso. Sempre foi. As manifestações da cultura são necessárias e obrigatórias ou<br />

pa<strong>de</strong>ceremos <strong>de</strong> barbárie.<br />

Os artistas correm atrás da profissão, enfim. Quando aparecem na mídia aparecem<br />

sozinhos, sem papagaio <strong>de</strong> pirata pegando carona na foto. O artista tem luz própria.<br />

Em 2001, Braz Machado gravou o longa “Amor, po<strong>de</strong>r que transforma” <strong>de</strong> forte apelo<br />

didático contra as drogas. Sem apoio efetivo a não ser o dos jovens e <strong>de</strong>terminados artistas<br />

que mantiveram a chama acesa. O folclorista João Ramalho foi ator revelação na fase regional<br />

do Mapa Cultural <strong>de</strong> 1998, em Julho, Araras. O TPM, no Mapa 2003, fase regional, teve com<br />

Rose Tomé melhor atriz, incluindo melhor peça e melhor direção.<br />

Cadê o apoiador cultural, que <strong>de</strong>ve oferecer apoio e não esperar o pires mendicante?<br />

Há uma agenda para 2009, mas on<strong>de</strong> estão os espaços? Tomo a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> citar alguns<br />

nomes que atuantes hoje na frente da arte cênica: Amanda Garcia, Rafael <strong>de</strong> Souza, Karina<br />

Pereira, Fabyo Vyeyra. Tiago Pereira, Alan Balbino... anotem esses nomes, por favor.<br />

É isso. Deixo votos <strong>de</strong> sucesso, vida longa e prosperida<strong>de</strong>. Boa semana.<br />

89


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

DIÁRIO DE PIRATAS EXCERPTOS III<br />

Dia Um, como se nascesse<br />

Perdidos entre beijos e abraços nostálgicos eu e RoseBraga resolvemos comer a<br />

pizza do sábado. Assim se começa um conto comum e vulgar. Terá começo meio<br />

e fim?<br />

Com quantos dígitos veremos no ar as aves <strong>de</strong> arribação? Como se conheceram<br />

a América e o jovem melindroso perseguido pelo <strong>de</strong>stino? O episódio foi <strong>de</strong> uma<br />

banalida<strong>de</strong> comovedora, e envolveu uma pulseira perdida e um mal-entendido.<br />

Menos irrelevante será talvez relatar como suce<strong>de</strong>u a revelação <strong>de</strong> que eles<br />

partilhavam algo mais do que a vonta<strong>de</strong> indomável <strong>de</strong> transformar a Mogiana (<strong>de</strong><br />

Pinhal a Mococa) num imenso palco para os trânsitos e brados <strong>de</strong> Pentesiléia e<br />

<strong>de</strong> Aquiles e <strong>de</strong> toda fauna <strong>de</strong> Vereadores que já ocuparam, e ocupam, as<br />

ca<strong>de</strong>iras da Câmara, sonhando um dia serem Deputados Estaduais... tais<br />

ca<strong>de</strong>iras aceitam quaisquer tipos <strong>de</strong> bundas... bundas dorminhocas, bundas<br />

vagais, vagabundas, bundas perdulárias, bundas <strong>de</strong> futuros prefeitos e não há<br />

nada que tenham construído a não ser a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> observar o tempo passar<br />

90


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

– verda<strong>de</strong>iros Fiscais da Natureza - pois tudo o que preten<strong>de</strong>m haver construído<br />

existiria assim mesmo, sem interferência dos tais (geniais) parlamentares. Mas a<br />

história é feita <strong>de</strong>sses equívocos, e <strong>de</strong>ssas bundas vazias, ou <strong>de</strong>ssas estórias.<br />

Valha-me Alexandre, o Herculano, que propunha uma bunda como predicado,<br />

como cousa vulgar e nada mais.<br />

Foi quando o povo da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Muganga, tendo eleito por duas vezes ou três<br />

vezes padres e analfabetos, fissos isso e aquilos, pró-rogos e vicariato sem<br />

vergonha para um projeto Cura cuja eternida<strong>de</strong> se <strong>de</strong>sdobra além <strong>de</strong> nossa<br />

luci<strong>de</strong>z e cuja dívida avança pelo século 21, em piscinas inúteis e adulteradas, em<br />

clubinhos populares para agrado da multidão faminta e alienada... tardia também,<br />

tal turba, revelou que não saberia o que escolher, caso houvesse escolha: a<br />

felicida<strong>de</strong> ignorante e feia ou a luci<strong>de</strong>z feliz e <strong>de</strong>savergonhada, profunda e<br />

permanente sobre as razões e timbres da infelicida<strong>de</strong>. COELHO, não o do<br />

Updike, sentia o mesmo, e estas coisas criam um vínculo menos quebradiço do<br />

que um passado <strong>de</strong> banco <strong>de</strong> escola ou <strong>de</strong> caserna partilhada. Mas as cousas<br />

não se ficam por aqui, há também a paixão comum pela gastronomia do sul <strong>de</strong><br />

minas, o "segredo mais bem guardado da cozinha mineira”, talvez. Perdições<br />

entre pamonhas e curaus... literatura e um sauda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Arceburgo, talvez...<br />

Dia dois, e Kafka na panela<br />

Terça-feira e é dia marcado para o cinema. Eu e RoseBraga, vinte horas pouco<br />

mais sairemos do Jardim São Luiz, rumo ao quinquagenário Cine Mococa. A<br />

marcar em todas as agendas e datas <strong>de</strong> passagem: Ver e rever “O Cozinheiro, o<br />

Ladrão, a mulher e o amante”, mas não se <strong>de</strong>ve passar sem o “Bebê Santo <strong>de</strong><br />

Macon”, ou ainda “A Tempesta<strong>de</strong>”, já que falamos sempre <strong>de</strong> um Pedro<br />

CaminhoVer<strong>de</strong>, autor <strong>de</strong> obras primas. Todas suas obras serão primas? Nada<br />

disso porém passa pela cabeça <strong>de</strong> muitos mocoquenses que estão aquém dos<br />

símbolos e das abstrações. A eles se permite dormir em música que dizem ser<br />

sertanejas (guarânias, na verda<strong>de</strong>) ... mas, limitam-se a nos <strong>de</strong>ixar Zen – Zen<br />

paciência. A saga das testas cobertas <strong>de</strong> galhos, as dores <strong>de</strong> cotovelo, a<br />

chora<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> trouxas alcoólicos esparramados nos bares do Descanso, por<br />

exemplo, enquanto as vacas mugem ao longe e <strong>de</strong> longe se vê um por-<strong>de</strong>-sol<br />

flagrado entre cambiante <strong>de</strong> violenta e um sulferino dormido <strong>de</strong> épocas. Isso<br />

antes. Agora, hora noturna e pouco fria, nos sentiremos aquecidos no cinema.<br />

91


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

Enquanto não chega o momento <strong>de</strong> <strong>de</strong>spejar do trono ou seja lá quem nada fizer<br />

<strong>de</strong> programado ou planejado, a corja <strong>de</strong> lambões e lambe-sacos; enquanto a saga<br />

do senhor sem anéis não se <strong>de</strong>r à mostra, contentemo-nos com as glórias<br />

passadas, idas e <strong>de</strong>sguarnecidas <strong>de</strong> qualquer atavio.<br />

Dia três, enquanto as chuvas disparam<br />

Excelente.<br />

Por favor, tentem compreen<strong>de</strong>r. Ou não! Não julgamos, sim julguemos como<br />

cousa <strong>de</strong> puro oiro, mas, não con<strong>de</strong>namos, sim, sim, con<strong>de</strong>nemos, enfim para<br />

outras terras e exclusões maravilhosas, porém, não pratiquemos o ostracismo,<br />

entre estranhos em terras estranhas, contudo enviemos para o exílio as piores <strong>de</strong><br />

nossas malfadadas idéias. Em Muganga, Macondo e outras terras, idéias não<br />

servem para nada. Não é uma questão <strong>de</strong> fundamentalismo, nem islamismo,<br />

nem alcoranismo, nem xiitismo, po<strong>de</strong>ndo ser shiitismo dos ingleses em que tudo<br />

se transforma em porcaria ou (s)crap, como por exemplo a cultura <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong><br />

como a nossa – como orgulhosa cida<strong>de</strong> do interior mogiano – mugiante - , tudo se<br />

transforma em nihilismos; não é uma questão <strong>de</strong> atropelo a qualquer direito<br />

natural. Apenas pedimos respeito e consi<strong>de</strong>ração. Reclamamos somente o direito<br />

ao nosso quinhão quotidiano <strong>de</strong> ar relativamente puro. É só isto. Há espaço para<br />

todo mundo, porém, você po<strong>de</strong>, até, ficar bem <strong>de</strong> ver<strong>de</strong>, quando engolir sua<br />

fumaça e se transformar em um saco podre <strong>de</strong> câncer. Você merece.<br />

Dia quatro, um momento no viés<br />

REPÚBLICA 70 RIACHUELO: Por lá passaram SemiDeus, Bado, Preto,<br />

Mandrake, Pancada, o caro CDF, o Zize, o Vasconcelos <strong>de</strong> São José do Rio<br />

Pardo – cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> muita gente grada ia mijar nos bailes, e na <strong>de</strong>volução, o mijo<br />

<strong>de</strong> SanZé vinha em retorno na AEM - além da quebra<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> copos, corpos e<br />

vidros e janelas... bailes e brigas... esses, entre outros. Indicaram-me<br />

recentemente dois fatos com relevância republicana assinalável.<br />

Eu e RoseBraga, na manhã, ouvíamos tais histórias, comendo muito requeijão e<br />

pão preto.<br />

No sítio <strong>de</strong> não sei que pessoa duas amigas, íntimas amigas, amantes amigas da<br />

mais pura socieda<strong>de</strong> mocoquense se mataram pois seu amor não era permitido<br />

pela socieda<strong>de</strong> da época... Seria agora?... isso, entre outras cousas... entre<br />

92


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

outras coisas, leio textos cujo teor <strong>de</strong>nota uma das mais louváveis ativida<strong>de</strong>s que<br />

conheço: hoje vejo que os partidos políticos se misturam como iguais e, aqueles<br />

que são tidos como radicais - cá <strong>de</strong> fora - se mostram anacrônicos, bem démodè,<br />

bem nulos, na verda<strong>de</strong>, esperando aposentadoria... Culpa minha? por que fomos<br />

tão cegos? Já não se misturavam antes? Não vimos? Éramos coniventes?...<br />

concordata!<br />

Para além <strong>de</strong>stes temas <strong>de</strong> óbvia e lamentável atualida<strong>de</strong>, muitos outros são<br />

abordados, investido <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> e magnífica opulência. Falece o comediante<br />

mas a piada continua com a laicida<strong>de</strong> e os valores republicanos (ou as suas<br />

violações) como <strong>de</strong>nominador comum.<br />

Há certo <strong>de</strong>sconforto, muita vez, se exprimir o vocábulo "partidários" e <strong>de</strong>rivados.<br />

Assistimos a lógica da negação partidária, re-fundação <strong>de</strong> outra vertente,<br />

mudando o nome da estrela, ou no mais, nomeado a estrela para outros sóis; a<br />

contestação que está implícita parece-me, em certas ocasiões, po<strong>de</strong>r tornar-se<br />

contraproducente; no entanto há um barco para se navegar. Talvez com mais<br />

espaço, para <strong>de</strong>satinos e <strong>de</strong>svarios e <strong>de</strong>vaneios... Prestemos atenção às aves <strong>de</strong><br />

alta plumagem.<br />

Dia 5, enquanto a água não me chega aos pés no Descanso<br />

Excelente domingo para nós.<br />

TV a satélite e tudo mais. Muito filme bobo, mas algumas relíquias.<br />

ANÚNCIOS <strong>de</strong> outros tempos: Este é velho como muita gente da cida<strong>de</strong>... Parada<br />

no tempo antigo como muita gente da cida<strong>de</strong>... Tem muitos que ainda choram por<br />

uma fonte dos Amores que nunca conheceram corretamente... Teriam sauda<strong>de</strong>s<br />

dos pernilongos? Ou do mal cheiro? Ou ainda dos lacerdinhas que infestavam<br />

nossos cabelos? Vá saber!!... antiguinhos, antiquados, antiqualha. Dado Histórico:<br />

A antiga Fonte dos Amores vinha da décda <strong>de</strong> 30. Em meados dos anos 60 já era<br />

sujeira. Foi remo<strong>de</strong>lada em 70 e durou, normal em funcionamento, até 2008,<br />

quando foi remo<strong>de</strong>lada, tentando voltar ao que era.<br />

Se contarmos bem a Segunda fonte durou <strong>de</strong>, 70 a 2008, mais que a primeira,<br />

portanto, esta <strong>de</strong>ve receber o galardão <strong>de</strong> tradicional. Homessa!<br />

Mas, o filme continua: Inseticida Banzé, cuidado para não matar o cão também:<br />

E a velha tinha moscas... e as moscas orbitavam... sobre a velha volitavam... lá<br />

na casa suja e limpa... Morriam as moscas, matavam a velha... A velha dizia...<br />

93


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

bradava... ninguém ouvia... banzé, banzai! Flavinho corria no quintal, acorria<br />

atrás dos balões e gritava banzai! banzé... Contras as moscas bato o pé! Festa<br />

Junina! Balõezinhos a subir. Os chinesinhos.<br />

Sabem, aquela velha que dá um pontapé no bal<strong>de</strong>?<br />

Esquece, tal velha não existe... velhos se acomodam... comodistas... raros os<br />

ativos. Em geral se entregam ao ficcional céu empírico. Com direito a nuvem e<br />

lua.<br />

É noite.<br />

Assim acaba nossa história <strong>de</strong> amor.<br />

94


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

NÓS TEMOS TANTO EM QUE PENSAR<br />

Mas, não se iluda, somos só nós. O resto do mundo pensa em mais nada. Vive <strong>de</strong> inércia, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

um padrão pré-estabelecido. Mesmo que vivamos esse padrão em muita coisa que fazemos,<br />

também fazemos a diferença por que rompemos o padrão. E, essa diferença não quer dizer que<br />

seja para melhor. Po<strong>de</strong> ser a diferença que esculhamba o normal – padrão – do dia a dia; e as<br />

pessoas não querem saber <strong>de</strong>sses caras. Vi<strong>de</strong> Jesus. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> ser ou não filho <strong>de</strong> Deus -<br />

provavelmente não – ele escangalhou – tirou a cangalha, a opressão, tirou o jugo – das autorida<strong>de</strong>s<br />

locais e foi parar aon<strong>de</strong>?<br />

Todo mundo fala nele e não segue nenhum dos seus ensinamentos e preceitos, mesmo por que a<br />

socieda<strong>de</strong> ficaria inviável e talvez seja essa a verda<strong>de</strong>, para que ninguém lucre com a realida<strong>de</strong> -<br />

mas mantêm a pose <strong>de</strong> que são da turma da paróquia. Beatos e bentos.<br />

Vá seguir tais ensinamentos!! Sai pra rua com 12 caras sem lar ou dinheiro e vê no que dá.<br />

Vamos ver se há uma Igreja que não cobre dízimos; <strong>de</strong> que seus representantes sejam<br />

maltrapilhos e nem usem roupa <strong>de</strong> grife; vamos ver quem é que vai querer receber conselhos <strong>de</strong><br />

uns caras <strong>de</strong>sses?<br />

Utopias. Mentiras ditas mil vezes.<br />

95


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

Na verda<strong>de</strong> foram valores usados por inescrupulosos que montaram suas igrejas e clubinhos<br />

religiosos munidos <strong>de</strong> CNPJ pago em dia a aproveitaram da carência afetiva <strong>de</strong> cada pessoa.<br />

Peixes que caíram nas re<strong>de</strong>s.<br />

Enfim.<br />

Nossa arte não para.<br />

Quero ir para o Globo? Po<strong>de</strong> ser, mas eu – <strong>Coelho</strong> - não fui quando lançaram meu CD <strong>de</strong> Natal ao<br />

programa da Xuxa. Os princípios permanecem. A base da luta é essa e não tem prêmio algum no<br />

final pois as pessoas dirão: “Como você é bobo... que que tem ir na Xuxa?”<br />

A dona Susan Boyle – para quem acompanha o que vai pelo mundo, mas, para quem não<br />

acompanha não faz diferença - faz pensar e faz chorar por que ela é o símbolo <strong>de</strong> bilhões <strong>de</strong> outras<br />

pessoas, tanto ou mais criativas, que nós dois – <strong>Coelho</strong> e Spina – e elas nunca terão voz. Nós,<br />

quando não nos <strong>de</strong>ixam falar inventamos um blog ou gritamos na rua.<br />

Acabou a eletricida<strong>de</strong> e acabou o blog? Subo no palco.<br />

Nosso diferencial é ir atrás do auto-falante para gritar e fazer que nos ouçam: teatro, música,<br />

ví<strong>de</strong>o... são nossas armas. Mesmo assim muitas vezes nos <strong>de</strong>sconvidam pela impertinência. Nossa<br />

expressão corporal na rua (pose?) é nossa arma e ban<strong>de</strong>ira fincada no solo. Jesus era impertinente<br />

e chatonildo. Nossa cabeça erguida po<strong>de</strong> ser arrogância – e nada mais é do que uma maneira <strong>de</strong><br />

olhar mais longe.<br />

O CD <strong>de</strong> Natal ven<strong>de</strong>. É pop. Minhas outras obras no sitio www.jamendo.com.br – dá um pulo lá e<br />

escreve <strong>Coelho</strong> De <strong>Moraes</strong> – e você ouvirá álbuns que ninguém <strong>de</strong>seja comprar – se é esse o caso,<br />

ven<strong>de</strong>r – mas, no entanto, são expressões.<br />

Mas, será esse mesmo o caso. Fazer arte e ven<strong>de</strong>r e sofrer se não compram? Cada um compra o<br />

que quiser.<br />

E pra que servirá tudo isso se não passa <strong>de</strong> mera arte?<br />

Por isso estou fazendo Filosofia. Quero entrar numa sala <strong>de</strong> aula com 45 alunos para escangalhar<br />

45 cabeças <strong>de</strong> uma vez.<br />

Estarei me repetindo?<br />

96


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

TREM DA CULTURA E ACESSÓRIOS<br />

Dentro da conferência geral que empreen<strong>de</strong>mos durante essas<br />

semanas, abusando da paciência do leitor, a título <strong>de</strong> apresentações e<br />

trabalhos executados no âmbito da cultura, apresentamos mais um<br />

sucedâneos <strong>de</strong> ações. Aquilo que é ou que foi – sempre surpreen<strong>de</strong>nte<br />

– o TREM DA CULTURA, jornal <strong>de</strong>vezenquandário, nascido em<br />

Arceburgo nos idos <strong>de</strong> 97 e que <strong>de</strong>pois ganhou ares mocoquenses.<br />

A idéia era formatar um periódico que falasse sobre filosofia e literatura<br />

em geral, palpitasse e criticasse à vonta<strong>de</strong>, em textos curtos, sem<br />

esquecer da crítica e da agenda cultural. Foi em 1997, junto aos jovens<br />

do GRADA - Grupo <strong>de</strong> Artes Dramáticas <strong>de</strong> Arceburgo, que tudo nasceu.<br />

O GRADA entrou na caverna em 1999.<br />

97


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

Os grupos não param. Hibernam, mas não param. Mesmo por que são<br />

muitos os trabalhos e nós somos poucos empreen<strong>de</strong>dores. Se a<br />

ativida<strong>de</strong> se limitasse a teatro apenas, talvez ficasse mais fácil.<br />

O TREM DA CULTURA teve poucos números, se dando ao, luxo <strong>de</strong> até<br />

<strong>de</strong> pular o número 5. Não conseguindo ser periódico, pois teve vida<br />

curta em sua terra natal graças à burrice crônica da política local da<br />

época – estamos efetuando pesquisas sobre a atual -, uma vez que<br />

estava em 97 atrelado à Escola Municipal <strong>de</strong> Artes Dramática e Musicais<br />

<strong>de</strong> Arceburgo. Fechadas tais portas O TREM se mudou para Mococa e se<br />

<strong>de</strong>senvolveu com a criativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Scarparo Maciel.<br />

Graças ao estudo dos métodos e da geração <strong>de</strong> diagramas que o TREM<br />

tomou sua forma final, doze ou treze números <strong>de</strong>pois. Temos dúvida<br />

pois, como já disse, o número cinco nunca saiu. Esquecemo-nos <strong>de</strong>le.<br />

Compilações, História da Arte, pequenos contos, um Concurso Nacional<br />

<strong>de</strong> Poesia, críticas, textos crípticos (quer dizer, textos cujos assuntos<br />

estão sob código ou escritos <strong>de</strong> maneira bem arquitetada, própria para<br />

a compreensão <strong>de</strong> poucos), piadas enfadonhas, pensamentos em geral,<br />

resumos, foram matéria constante do TREM DA CULTURA. Hoje a<br />

abordagem será diferente.<br />

Há computadores por todo lado e os gatilhos da Internet nos levam a<br />

bolar um TREM DA CULTURA online, ou, pelo menos, enviado para cada<br />

e-mail, na forma <strong>de</strong> um bom SPAM, pois foi para o SPAM que a internet<br />

foi feita, por que se for para ser lerdo eu mando carta.<br />

Os internautas, sábios jovens da informática e da re<strong>de</strong> – mesmo que só<br />

para uso <strong>de</strong> chats chatos e pesquisas escolares – estão com a faca, o<br />

queijo e a goiabada na mão. Além do TREM, surgiram o NUNCA LEIA!, o<br />

PRODUÇÃO DE ARTE e mais recentemente o KULTURA?; todos, com<br />

intuito <strong>de</strong> promover o trabalho cultural. E hoje? Vamos conferir e fazer<br />

a chamada. É isso!<br />

Boa semana para todos!<br />

98


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

DA HISTÓRIA COMO PASSE<br />

PARA UMA NOVA MÁSCARA<br />

com amigas muito íntimas - musas célebres e convidativas - sobre leitos quentes, relendo Nietzsche, sem ser, necessariamente, nesta or<strong>de</strong>m, passamos a refletir sobre a arte da cópia. Fazia isso enquanto enrolava meus <strong>de</strong>dos em cachos <strong>de</strong> Conversando<br />

notáveis. - Não sendo arte <strong>de</strong> alta envergadura, - disse-me Kleio, - os povos chamados mo<strong>de</strong>rnos a praticam diariamente. cabelos<br />

ponto, sou obrigado a intervir, centramos em Muganga – cida<strong>de</strong> que Kleio bem conhece, nossa amadamarga terra-cida<strong>de</strong> do café-com-leite – on<strong>de</strong> encontramos Nesse<br />

contingente enorme <strong>de</strong> entediados, emburrescentes crônicos e, aptos incansáveis<br />

copiadores. Ela disse: - Seres, que ainda consi<strong>de</strong>rados humanos, pararam no tempo, concluindo que o tempo melhor era sempre o tempo <strong>de</strong> ontem, - ela o disse, folheando seus papiros,<br />

99<br />

os textos <strong>de</strong> seu interminável pergaminho.<br />

proclamando


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

Tais seres muganguenses – disse-o eu, lembrando do cheiro <strong>de</strong> goiaba, aos modos <strong>de</strong> Macondo, - eles praticam tudo aquilo já foi, sempre, sem perceber que o futuro é o novo que <strong>de</strong>ve espantar a todos. Mesmo espantar a quem pratica o novo. -<br />

A prática do futuro requer têmpera e coragem, - a musa concluiu, balançando sua cabeça <strong>de</strong> cabelos ruivos. Os cacheados aqueles. E fechou seu livro: - Requer tempo, na verda<strong>de</strong>. Ousadia. Audácia. Sem audácia não se faz uma Revolução -<br />

Sem audácia burguesa. Audácia e a fome do outro. Sim, pois o pobre faminto não tem audácia. Francesa.<br />

para os dois lados para ver se alguém nos observava. - Acho que você exagera, Clio... - Kleio. Não gosto que me chamam assim... não é Clio... é Kleio... Olhei<br />

Desculpa sempre me esqueço que você é quem confere a fiama... a musa da História... - Se não a fama, disse ela, pelo menos o crédito <strong>de</strong> algum feito. -<br />

pestenejar ela tomou do clarim heróico e obrigou os céus a se elevarem durante bem uns cinco mintuos. Quando ela parou perguntei, para puzar qualquer Sem<br />

- O que é que você está lendo? - Tucíddi<strong>de</strong>s... – e, mostrou-me o livro, - o livro é muito antigo, confeccionado num assunto...:<br />

frrágil, mas eu tomo muiuto cuidado com ele. Eu amo os livros... e aqui diz, - abriu repentinamente as páginas amareladas e apontou num verbete, - aqui diz que os muganguenses atuais não praticam o caminho que vai para a frente, porém, pensam que material<br />

- Sei, - disse eu, - in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> romancear futuros frutos e COSMicida<strong>de</strong> por- sim.<br />

Temem, na verda<strong>de</strong>, a CAOScida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>vir e se escon<strong>de</strong>m sob capas duras dos livros já escritos. Muganguenses da estirpe Átila-café dão passos para trás e posam <strong>de</strong> cultos. Estátuas <strong>de</strong> sal. vir.<br />

Há que passar esta geração, - disse ela - Muganguenses, aqui nascidos ou não, pensam na repetição do óbvio e tratam disso como novida<strong>de</strong>. São mímicos e cegos ao mesmo tempo e cada passo representa retorno ao que há <strong>de</strong> pior a uma era romana da -<br />

dos imperadores. Todos loucos, aliás. É necessário reafirmar a burrice pois <strong>de</strong>cadência<br />

impérios on<strong>de</strong> se estabelecem novelas e sopóperas, dizquediz <strong>de</strong> esquinas e papo político do leva e traz inter-bares, sopapos literários e prolapsos <strong>de</strong> úteros tardiamente estéreis, não po<strong>de</strong> merecer epíteto outro que não seja o da limitada capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reflexão.<br />

100 falou como se vento fosse. Brisa macia. Na verda<strong>de</strong> nem estava aí.<br />

Kleio


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

Esta é uma terra em que fumantes inveterados se tornam Secretários <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. - O que? – Kleio perguntou, - não entendi. Na época do canelone o argumento da retrógrada cultura estabelecida era que o -<br />

<strong>de</strong>stas mal traçadas linhas estava com inveja cujo cotovelo doía. Na atualida<strong>de</strong> o que se preten<strong>de</strong>rá? Que tipo <strong>de</strong> inveja ou ciúme terá este autor agora? Aquela em que se sabe que graça a inoperância e prevalece o sonho? O leitor dirá. escritor<br />

é uma cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> se fala <strong>de</strong> tudo sem saber a fonte. Quando o profeta João-O-Não dizia que o “Sonho Acabou”, também <strong>de</strong>sejava Esta<br />

– “Vivamos a realida<strong>de</strong>. Mesmo que sejam muitas e que cada um tenha a sua. Ou, no mínimo, a realida<strong>de</strong> possível. Ou ainda, a realida<strong>de</strong> que pu<strong>de</strong>rmos criar a cada momento. dizer<br />

que isso é a esquizofrenia no po<strong>de</strong>r. Esta é uma cida<strong>de</strong> em que as pessoas têm medo das múltiplas realida<strong>de</strong> e nem se olha ao espelho. Pior<br />

um reino por um sonho. Trocaram resultados satisfatórios por período <strong>de</strong> aprendizado e <strong>de</strong> espera. Marcam passo como bons militares sem caminhos. Trocaram<br />

ações reais por tentativas no estilo “eu-acho-que-é-assim’. E a cida<strong>de</strong>, como boa Muganga que é, excetuando, um número <strong>de</strong> pessoas e pensadores que cabe na mão direita ou esquerda – hoje tanto faz - não reage a nada, Trocaram<br />

morta está. Onírica. Deitados no louro da história antiga – se é que os há – vivem com exemplos do passado e cortam as sementes do futuro. Vivem com as enchentes do passado/hoje. pois,<br />

que esperar que <strong>de</strong>sapareçam – morram - e levem consigo o carma, ai será hora <strong>de</strong> retirar dos obeliscos os nomes <strong>de</strong>ssa gente toda e dar fim a uma era. Temos<br />

seus atributos acrescentam-se ainda o globo terrestre sobre o qual ela <strong>de</strong>scansa, e o tempo que se vê ao seu lado, para mostrar que a história alcança todos os lugares e todas as épocas.<br />

Aos<br />

101


ENTREVISTA<br />

<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

cedida ao Jornal Linha-Direta, online<br />

Lançamento do MARCUS, O IMORTAL, em PDF.<br />

LD – Do que trata MARCUS, o imortal?<br />

CDM – É uma ficção localizada na Ida<strong>de</strong> Média, na época da escolástica, séculos<br />

12 e 13 e lá eu invento uma estória baseada em fatos reais, como é o caso do<br />

<strong>de</strong>bate sobre a filosofia da época. Debate entre doutores e mestres da Igreja.<br />

LD – Por que o interesse pela Filosofia da Ida<strong>de</strong> Média?<br />

CDM – Não só da Ida<strong>de</strong> Média. Mas meu interesse pela Filosofia é geral. Junto à<br />

Sociologia, a Filosofia foi uma das ca<strong>de</strong>iras cortadas pela Ditadura Militar. A<br />

idéia dos que não pensavam – os militares – era fazer tabula rasa das cabeças <strong>de</strong><br />

todos. Conseguiram. A Filosofia só volta ao currículo do ensino médio neste ano<br />

que vem. Uma geração <strong>de</strong> servos e vassalos foi criada. A partir <strong>de</strong> 2010 os alunos<br />

começarão a apren<strong>de</strong>r a pensar, novamente. Prevejo gran<strong>de</strong> revolução lá pelo<br />

ano 2016. Além disso, eu me formo em Filosofia ano que vem – 2010 - e<br />

participarei <strong>de</strong>sta revolução.<br />

LD – Mas, nem só <strong>de</strong> Filosofia trata “MARCUS, o imortal”.<br />

102


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

CDM – Não. MARCUS levanta o esoterismo da época. As lutas entre sarracenos<br />

e cristãos, também, e traz uma figura inesperada que é o aba<strong>de</strong> <strong>de</strong> Clairvaux, São<br />

Bernardo, i<strong>de</strong>alizador do movimento Cruzado. Há citações da sabedoria oriental.<br />

Há muita citação e muita invenção também.<br />

LD – Que importância po<strong>de</strong> ter uma obra como esta, em Mococa, ou no Brasil?<br />

CDM – Sendo ficção e dada a liberda<strong>de</strong>s amplas, a obra MARCUS serve como<br />

introdutora do leitor no universo da reflexão filosófica. No universo da alquimia.<br />

No mundo das cruzadas e da perseguição religiosa. Além disso o Brasil só<br />

aparece na cena em 1500. Há proposta <strong>de</strong> trazer MARCUS para o Brasil quando<br />

chegar o momento.<br />

LD – MARCUS, o imortal: o livro termina em aberto. Terá continuida<strong>de</strong>?<br />

CDM – Terá. Mantendo o espírito ficcional. A idéia é trazer o estudante Marcus<br />

até os dias <strong>de</strong> hoje, <strong>de</strong>batendo a Filosofia mo<strong>de</strong>rna. Preservando o que há <strong>de</strong><br />

busca da verda<strong>de</strong> e a busca do imaginário.<br />

LD – Por que foi lançado no formato PDF?<br />

CDM – Temos que caminhar com as novas mídias. Além disso, o custo para se<br />

editar em papel é muito alto. Sem necessida<strong>de</strong>. As editoras e gráficas <strong>de</strong>sejam<br />

ganhar muito, mas importante mesmo é o escritor, não a editora. Seria muita<br />

presunção querer ven<strong>de</strong>r o livro, então, eu, mero <strong>de</strong>sconhecido. No fim<br />

guardamos nossos originais e nunca os editamos. Vão para a gaveta. Acabamos<br />

por per<strong>de</strong>r o bon<strong>de</strong> da História. Como eu fui o i<strong>de</strong>alizador do antigo TREM DA<br />

CULTURA, não posso me dar ao luxo <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r bon<strong>de</strong> algum. Daí a idéia <strong>de</strong><br />

editar no formato PDF e espalhar para todos os interessados mais uma obra <strong>de</strong><br />

literatura construída em Mococa. Lerá quem quiser. Trata-se <strong>de</strong> um presente.<br />

LD – Há mais livros?<br />

CDM – Há. Quero buscar os formatos <strong>de</strong> e-book. Talvez livros falados. Cheguei<br />

a fazer duas coletâneas <strong>de</strong> livros falados. Poesias recitadas com fundo musical<br />

próprio. A FATEC mesmo editará o resultado <strong>de</strong> seus concursos <strong>de</strong> contos e<br />

poesia, neste ano <strong>de</strong> 2010, no formato <strong>de</strong> novas mídias. Acredito que o livrofetiche<br />

(o <strong>de</strong> papel) está com seus dias contados. Este “MARCUS, o imortal”<br />

saiu através do que chamo <strong>de</strong> Selo Editorial FATECmococa, projetado na<br />

Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Cultura da FATEC. Eu sou o coor<strong>de</strong>nador. E, o sistema está<br />

aberto para todos os interessados, sabendo <strong>de</strong> antemão que não há fim comercial<br />

na coisa. É espalhar cultura. E, <strong>de</strong> repente, iluminar a sua obra com algum olhar.<br />

LD – Há um subtítulo que é UM ENCONTRO COM ALBERTO MAGNUS.<br />

Por que?<br />

CDM – Alberto Magnus e Tomas Aquinas são figuraças da Ida<strong>de</strong> Média.<br />

Trouxeram o conhecimento grego via Aristóteles para o seio da Igreja. Os árabes<br />

já conheciam Aristóteles e o traduziram. É o mesmo que o lançamento do<br />

103


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

Sputinik. Não se po<strong>de</strong> ficar para trás. E ambos eram dados à alquimia. Outra<br />

figura é o Siger <strong>de</strong> Brabant, filósofo averroísta. Vale dizer que Dante Alighieri<br />

citou os três na Divina Comédia capítulo Paraíso. Sugiro que os mocoquenses<br />

leiam a Divina Comédia pois muita família daqui é citada lá.<br />

LD – E o futuro da literatura?<br />

CDM – Nada sei disso. Mas sei que as mídias mudam os formatos e mudam a<br />

abordagem do leitor com o material lido. Existe um livro digital que tem o<br />

mesmo formato do livro tradicional só que mais leve. Você po<strong>de</strong> mudar o<br />

tamanho da letra, a cor, iluminar se estiver no escuro, mudar a cor <strong>de</strong> fundo e tal.<br />

Hoje custa 600 dólares, e, lá cabem 200 livros. Não tem papel. Se eu tivesse uns<br />

10 <strong>de</strong>sses teria toda a minha biblioteca pessoal –2000 títulos - <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>le.<br />

Caberia numa prateleira pequena. Se a Biblioteca <strong>de</strong> Mococa tiver uns 30.000<br />

títulos caberiam todos em 100 livros. Umas <strong>de</strong>z prateleiras. Po<strong>de</strong>ndo ser lido em<br />

telão ou TV. Po<strong>de</strong>ndo ser lido coletivamente. É o mesmo que a BARSA em um<br />

DVD. Isso é a revolução. Essa é a mudança. O ganho do espaço. O resto é<br />

tradicionalismo e viver no passado. Como diz Santo Agostinho: Passado e<br />

Futuro não existem. Só o hoje. A nova linguagem e a nova mídia são o hoje.<br />

Quem for contemporâneo e cosmopolita verá.<br />

104


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

IMPRESSÕES SOBRE UM FESTIVAL DE MÚSICAS<br />

O longo período <strong>de</strong> inanição – em termos <strong>de</strong> festivais carnavalescos - <strong>de</strong> uma<br />

cida<strong>de</strong> “monteirolobato” como Mococa po<strong>de</strong> ter chegado ao fim graças à iniciativa<br />

<strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> pessoas e mais a ação <strong>de</strong> Luis Romão. Que isso fique bem<br />

entendido.<br />

Com a participação <strong>de</strong> última hora da BANDA ZÉ PEREIRA houve a preocupação<br />

<strong>de</strong> levar a montagem do festival a um topo <strong>de</strong> importância: a importância que a<br />

cida<strong>de</strong> e música merecem. Assim, o que se espera é que a Banda esteja conjunta<br />

nos próximos pois ganharão a experiência necessária e que seja uma Banda<br />

muito bem paga. É preciso mais tempo. Patrícia, Guilherme, John e trupe<br />

precisam <strong>de</strong> tempo para trabalhar nos arranjos, precisam <strong>de</strong> ensaios; arranjos e<br />

ensaios consomem tempo e os organizadores <strong>de</strong>vem pensar em valores do tipo<br />

650 reais por três horas <strong>de</strong> trabalho (que é um cachê mínimo, para cada um).<br />

Na questão da organização do FEMUC, não digo comercialização, mas em<br />

termos <strong>de</strong> criativida<strong>de</strong> da montagem, que são coisas muito diferentes, muita gente<br />

espera favores do po<strong>de</strong>r público e fica a reclamar pelas esquinas. Isso é cômodo.<br />

No caso do FEMUC é evi<strong>de</strong>nte que esses novos são poucos uma vez que a velha<br />

guarda, digamos assim, venceu mais uma vez o festival. É coisa da tradição?<br />

Não. É coisa da incompetência dos outros, dos menores, dos novos, dos que<br />

nunca se preocuparam em estudar nada, termos <strong>de</strong>ssas questões e<br />

marchas/marcha-rancho e frevo. Prevalece o formato Silvio Santos <strong>de</strong> produzir<br />

marchinhas.<br />

É possível que as últimas gran<strong>de</strong>s música <strong>de</strong> carnaval que foram à gran<strong>de</strong> mídia,<br />

morreram com Blecaute e Zé Kéti. Fica um abraço nas vozes que fazem nossa<br />

105


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

memória: Bertholucci e Luis Henrique. Os apresentadores magnos que dirigiram e<br />

ligaram as pontas soltas. Um pelo profundo estar profissional e outro pela sua<br />

espontaneida<strong>de</strong> e naturalida<strong>de</strong>. Escolham o adjetivo para cada um <strong>de</strong>les.<br />

Atenção! Não quero aqui dizer que a velha guarda não é competente. Claro que<br />

é. Kico Zamarian venceu com méritos e sua técnica <strong>de</strong> composição funcionou<br />

novamente. Letra inclusa. Zé Wagner honrou seu trabalho na música com uma<br />

balada interessante e saudosista, já <strong>de</strong>ntro da letra chorosa e piegas, mas esteve<br />

lá com melodias e variações. José “Teia” Mônaco, o mais tradicional dos<br />

tradicionais também por lá venceu mostrando a sua verve.<br />

Valeu a novida<strong>de</strong> com a música do Bálico, muito mais por causa do intérprete,<br />

Júnior Bálico. Não é que fizeram a diferença mas <strong>de</strong>ram o tom do futuro, talvez.<br />

Música ainda simples em estilo silviosantos mas teve uma preocupação a mais na<br />

construção harmônica. Coisa que as outras – as não selecionadas – não tiveram.<br />

A maioria das músicas se mostrou monótona na melodia e monótona na<br />

construção harmônica se estamos aqui, sim, falando <strong>de</strong> purismo e excelência em<br />

música. Se é para ser qualquer coisa não há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> festival.<br />

Seguindo sabiamente a previsão do jurado Scarparo Maciel a música com<br />

inspiração no DÚ levou a melhor em relação ao público.<br />

Sendo assim o resultado final, agraciado pelos jurados em total concordância e<br />

critério, fez merecer o que havia <strong>de</strong> melhor. Quando juntarmos alegria e marcha e<br />

brinca<strong>de</strong>ira, no futuro, talvez haja lugar para o argumento <strong>de</strong> Carnaval é alegria.<br />

Bem, não é. Para muitos, <strong>de</strong> acordo com as letras choramingas, o carnaval é<br />

lembrança do passado e melancolia da lembrança do velho que chora as pitangas<br />

<strong>de</strong> sua juventu<strong>de</strong>. Pena. Mas é assim. Do trio <strong>de</strong> repórteres e jornalistas (sic)<br />

nada sei pois nenhumas <strong>de</strong>las se aproximou dos jurados, engaiolados em suas<br />

plásticas ca<strong>de</strong>iras brahmânicas.<br />

Brâmanes por excelência a <strong>de</strong>cidirem sobre o os <strong>de</strong>stinos da humanida<strong>de</strong><br />

momesca.<br />

Apesar das (<strong>de</strong>s) conversações sobre o jornalista hodierno ainda é o repórter<br />

quem vai à notícia, não é? Ou mudou? Isenta-se o jornalista <strong>de</strong> vitrine e <strong>de</strong><br />

celebrida<strong>de</strong>s. Jornalismo menor. A impressão que dá é que <strong>de</strong>ntro das artes vale<br />

mais a paixão, o coração, do que a técnica e o pensamento. Pois não é e nem<br />

po<strong>de</strong> ser assim. Essa balela <strong>de</strong> paixão, coração e subjetivismo serve muito bem<br />

para texto <strong>de</strong> filme americano e para arranjar uma <strong>de</strong>sculpa para explicar o<br />

inexplicável. É um tipo <strong>de</strong> pensamento arcaico, romântico, coisa do século 12,<br />

que está em voga ainda hoje. Coisas do tipo Mensagem do Yoda: - “A força está<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> você. Confie na força”. Convenhamos, coisa pueril. É necessário um<br />

trabalho árduo. São pensamentos assim que subjazem nas pessoas que pe<strong>de</strong>m<br />

para que você trabalhe por amor à arte. Um ultraje sem rigor.<br />

Faltou mulher no carnaval – cantantes e compositoras. Parabéns para Beta Melo.<br />

Reina solitária. Sugiro a seguinte coisa, para o ano que vem. Os três campeões<br />

<strong>de</strong>vem ser chamados para jurados e impedidos <strong>de</strong> participar com qualquer<br />

composição, pulando sempre um ano. Ou seja, os campeões <strong>de</strong> uma série não<br />

participarão da série seguinte. E, argumento, sendo então jurados, tudo farão<br />

para eleger o realmente melhores compositor e música, para que no ano seguinte<br />

não venham competir com eles. A coisa é simples e previsível. Se estiverem no<br />

106


<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

palco em 2011 é bem provável que voltem a vencer e não será culpa <strong>de</strong>les.<br />

Aos outros eu peço estudos: <strong>de</strong> voz, <strong>de</strong> afinação, <strong>de</strong> busca da melhor letra, <strong>de</strong><br />

história dos carnavais. Evitem plágio, pois houve muito disso. É assim que a arte<br />

se torna uma representante cultural, <strong>de</strong> outra forma se torna lixo.<br />

Havia letra sem pé nem cabeça e isso escrito por gente <strong>de</strong> letras. Muito erro <strong>de</strong><br />

prosódia (o correto batimento do verso – a tônica - coincidir com o batimento - o<br />

ritmo <strong>de</strong> acordo com a força <strong>de</strong> seus pulsos - da música. Os sertanejos das rádios<br />

cometem o erro o tempo todo, são uns ignorantes, claro, e, isso passa por normal,<br />

mas, não é. É erro mesmo. Basta pesquisar e perceberá que as gran<strong>de</strong>s obras <strong>de</strong><br />

todos os tempos são preciosas construções artísticas em letra e música). Depois<br />

não sabem por que é que existe mais cacique do que índio.<br />

Sugiro revisitar a máxima <strong>de</strong> Sócrates. O FEMUC po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve continuar a existir<br />

e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> iniciativas várias. Não precisa, necessariamente, <strong>de</strong> obter apoio<br />

público. Tendo, ótimo, gasta-se o dinheiro. Soube já que ano que vem teremos<br />

TRIO ELÉTRICO; assim, a popularização daquilo que em si tem que ser <strong>de</strong> cunho<br />

popular, cairá nas ruas da cida<strong>de</strong>. Espero que o Zé Pereira esteja por lá.<br />

A coisa toda po<strong>de</strong> rolar por iniciativa particular, privada, também, para não ficar<br />

parecendo favor. Assim sendo o FEMUC acontecerá com ou sem tais apoios pois,<br />

apenas os artistas interessados já resolverão o caso. Se não houver interessados,<br />

daqui 12 anos teremos outro FEMUC, obe<strong>de</strong>cendo o aparecimento das explosões<br />

e manchas solares. Se se mantiver o espírito <strong>de</strong> Cida<strong>de</strong>s Mortas do Monteiro<br />

Lobato, os gran<strong>de</strong>s gênios da civitas revolverão suas entranhas e meterão o<br />

malho em <strong>de</strong>bates loquazes em cada bar ou esquina sem se envolver ou resolver<br />

nada, que já é uma prática comum. Assim, esperamos uma Mococa acordada.<br />

Lendo, porém, o que foi publicado como Diário Oficial do Município, notei que os<br />

prêmios eram distribuídos diferentemente do que rolou no Coreto e os<br />

homenageados seriam outros três. Pra que se publicou aquilo então, já que<br />

mudou tudo? Não era ato oficial?<br />

Mistérios da polis.<br />

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<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

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<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />

EDITORA EDITORA ALTER ALTERNATIVAMENTE<br />

ALTER MENTE<br />

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