Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

a presidir a nova junta de governo, mas não aceitou. Quer
dizer, naquela altura ninguém queria uma mudança
verdadeiramente radical. O rei deveria governar, mas deveria
ampliar os direitos do povo e governar balizado pelas regras
de uma constituição a ser feita em Portugal. Nada além.
República ficava para outra ocasião. Também, no meio
daquele entusiasmo, poucos estavam preocupados com o fato
de que um novo modelo teria que ser criado para regular as
relações lusobrasileiras. Assim, muitas vezes, o moto que
levava a formação das juntas provisórias de governo nas
províncias era a simples necessidade de acomodação de
vaidades locais. Também contribuía a ambição de militares de
alta e média patente que viam então uma oportunidade de
ascensão na carreira, por força de meras aclamações ou
decretos das juntas. Assim aconteceu na Bahia onde o
tenente-coronel Manuel Pedro de Freitas Guimarães, por
graça da junta provisória, virou brigadeiro e assumiu o
governo das armas. O mesmo acontecendo em Minas com
José Maria Pinto Peixoto que chefiou a rebelião para
instalação da junta de governo e passou de sargento-mor a
brigadeiro, numa ascensão espetacular.
A notícia do movimento baiano chegou a Lisboa em
15 de abril de 1821 e causou ainda mais sensação do que a
notícia da adesão do Pará pois a Bahia era uma das mais
importantes províncias do Brasil. De sorte que as Cortes
entenderam que agora sim, estava definitivamente assentada
sua cabeça de praia para impor seu constitucionalismo ao
Brasil. Assim, tratou de despachar tropas para lá, garantindo
competitividade num eventual confronto com a corte do Rio
de Janeiro pois, àquela altura, a volta de d. João VI para a
pátria mãe ainda era uma incógnita.
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