Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

da regeneração política que se anunciava com enorme
entusiasmo. Como inserir o Brasil nesse novo contexto? Havia
uma incógnita pedindo cautela aos parlamentares reunidos em
Lisboa. Desde que d. João instalara a Corte no Rio de Janeiro,
há mais de treze anos, que os brasileiros se mostravam
deslumbrados com o fato do seu país ter deixado de ser uma
colônia passando a centro do império português. Além disso,
as Cortes sabiam da enorme simpatia que a bonomia natural
do rei costumava despertar nos seus súditos. Não tinha sido
diferente no reino americano. Com relação às restrições ao
poder do rei os parlamentares lusos não tinham dúvidas, mas
em relação ao status político do Brasil era necessária toda a
delicadeza do mundo. O problema maior é que poucos
deputados lusos estavam preparados para serem delicados.
Mas, felizmente para eles, naquela altura do debate eles não
tinham nada o que temer. Mesmo porque, passada a euforia
do Brasil ter virado um reino, os brasileiros já estavam
pensando em outra coisa, pois as ideias revolucionárias já
vinham cativando o país desde o século passado. Agora havia
ideias até muito mais palatáveis que admitiam que era possível
garantir os interesses dos deserdados sem ter que matar os
reis. De sorte que, no princípio, o povo esqueceu um pouco
da alegria despreocupada que d. João tinha trazido e passou a
desacreditar um pouco nele. Pois ninguém duvidava que ele
era muito bonzinho mas um tanto malandro, fingindo de
bobo. Aliás, essa desconfiança, salvo em alguns intervalos
relativamente curtos, seria legada a seu filho e só estancaria em
seu neto, afinal um imperador genuinamente brasileiro e que
só tinha um reino com que se preocupar.
Assim, o raiar do ano de 1821, com todas aquelas
maravilhosas novidades chegadas de Lisboa, viu a confiança
dos brasileiros, que até então vinha sendo reservada para o rei,
desviada para as Cortes. Muita gente se mostrou eufórica
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