Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

disfarçado de diplomata, deveria sondar as possibilidades de
um movimento contra as Cortes. Mas o enviado nem chegou
a assumir o encargo e o próprio rei abortou a simplória missão
assim que desembarcou em Lisboa.
No dia 24 de janeiro de 1821 as Cortes se investiam de
papel constituinte e se instalavam no Convento das
Necessidades em Lisboa com o nome de Cortes
Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa. Seis dias
depois tomavam a deliberação de destituir o governo
nomeado por d. João VI e instituíam uma regência constituída
de cinco membros. Estava inaugurada a fase do domínio
absoluto das Cortes de Lisboa que tanto humilharia d. João e
tumultuaria a vida de d. Pedro.
Mas quando o rei chegou a Lisboa de volta do Brasil
foi recebido por uma simpática deputação comandada pelo
Arcebispo da Bahia, presidente e representante brasileiro nas
Cortes, embora estivesse residindo em Lisboa e fosse de
inteira confiança da bancada portuguesa. Muitos integrantes
da comitiva do rei foram simplesmente impedidos de
desembarcar, entre eles o conde de Palmela, tido como
simpático à causa brasileira. Mas o arcebispo, mui
respeitosamente, foi logo falando em amor e veneração o que
deixou o rei meio desconfiado. Mais desconfiado ainda ficaria
quando o orador o chamou de dócil e pacífico e pediu sua
cooperação “na majestosa obra da regeneração política”. Ao final d.
João agradeceu e, como não podia deixar de ser, jurou
cooperação. Em seguida mandou uma mensagem à
assembléia, mensagem essa escrita com o maior cuidado para
não ofender as susceptibilidades liberais. Mas não adiantou o
no Brasil.
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