Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas
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com desenvoltura legitima<strong>do</strong> de forma imoral pelo fato de ser<br />
representante <strong>do</strong> governo de Sua Majestade Britânica. Ainda<br />
mais em se tratan<strong>do</strong> de alguém como F<strong>rei</strong>re de Andrade que<br />
tinha ti<strong>do</strong> a infeliz ideia de lutar ao la<strong>do</strong> de Napoleão o que,<br />
certamente não seria facilmente esqueci<strong>do</strong> pelo general inglês.<br />
Assim, Beresford achou por bem acusar F<strong>rei</strong>re de Andrade de<br />
ter conspira<strong>do</strong> contra a sua preciosa vida. O resulta<strong>do</strong>, porém,<br />
ao contrário <strong>do</strong> que o truculento sargentão inglês esperava,<br />
revoltou ainda mais os liberais portugueses aninha<strong>do</strong>s na<br />
magistratura e nas forças armadas, pois as sementeiras <strong>do</strong><br />
liberalismo já estavam prontas em Portugal. Em 24 de agosto<br />
de 1820 vinha o refluxo na cidade <strong>do</strong> Porto, berço e acalanto<br />
<strong>do</strong> liberalismo em Portugal. Primeiro foram discursos<br />
inflama<strong>do</strong>s dizen<strong>do</strong> o que o povo ansiava ouvir, depois<br />
proclamações <strong>do</strong>s comandantes militares garantin<strong>do</strong> as<br />
ousadias <strong>do</strong>s ora<strong>do</strong>res e os aplausos <strong>do</strong> povo e, finalmente, a<br />
destituição <strong>do</strong> governo e eleição de uma junta provisória.<br />
Estava lançada a famosa revolução liberal <strong>do</strong> Porto. Era um<br />
modelo que seria amplamente a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> no Brasil no ano<br />
seguinte para formação de juntas provisórias de governo,<br />
permitin<strong>do</strong> o eclodir de um crucial perío<strong>do</strong> de transição com<br />
pouco derramamento de sangue, pois já era tempo de<br />
mudança e não havia porque teimar e brigar. Logo depois o<br />
movimento <strong>do</strong> Porto se estenderia até Lisboa com a<br />
convocação das Cortes Gerais.<br />
Como d. João VI e d. Carlota receberam a notícia da<br />
revolução em Portugal? Não é difícil imaginar. Ela deve ter<br />
vocifera<strong>do</strong> alguns dias, recorren<strong>do</strong> a sonoros palavrões em<br />
Espanhol. Deve ter jura<strong>do</strong> acabar com aquela indecência<br />
liberal, promessa que, aliás, cumpriria de certa forma através<br />
de seu filho d. Miguel. D. João, fiel aos seus impulsos, deve ter<br />
corri<strong>do</strong> à Capela Real e solfeja<strong>do</strong> alguns cânticos pedin<strong>do</strong><br />
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