Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

pego de surpresa. Sem apoio e sem ter como reagir submetese
facilmente. Assina um decreto jurando a dita constituição
espanhola, perjurando a constituição portuguesa que, aliás,
nem existia. A comissão volta triunfante à assembleia,
redobrando o entusiasmo dos mais exaltados. O clima vai
esquentando e o tom dos discursos vai se tornando
demasiadamente atrevido para o momento e a conjuntura,
quando os excessos se tornam perigosos.
Assim que fica sabendo daquele achaque ao pai e do
descontrole que o processo dos debates vai tomando, d.
Pedro tem uma reação enérgica, completamente diversa da
que tivera no episódio anterior pois, desta vez, não esperava
nada daquilo. Determina à tropa que dissolva a assembleia
tresloucada o que é feito com violência, produzindo um saldo
de mortos e feridos.
No rastro da indignação pela dissolução violenta da
assembleia, o edifício da praça do comércio, onde tinha
havido a infeliz repressão, passou a ser conhecido como “O
Açougue dos Bragança”. No dia seguinte o rei baixava novo
decreto anulando o anterior. Aproveitou e marcou sua volta
imediata para Portugal onde iria suportar situação muito pior e
continuaria driblando as pressões que o seu emprego lhe
impunha. D. Pedro ficaria no Brasil por enquanto,
administrando a imagem dúbia que a sua personalidade passou
à história: um coração autoritário numa mente liberal.
Alternaria momentos de gloriosa popularidade com surtos de
radical intolerância, tanto aquém como além mar. Os
brasileiros não confiaram nele porque o achavam demasiado
português e os portugueses não confiaram nele por achá-lo
demasiado brasileiro. Interessante observar que as primeiras
medidas de governo que o novo príncipe regente do Brasil
tomou foram de grande impacto popular. Mal seu pai tinha
deixado de avistar as costas brasileiras e ele já abolia o
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