Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

precisou, pois parece que já tinha tudo preparado e pode ser
até que seu cavalo já estivesse selado à sua espera,
resfolegando e batendo os cascos na laje. Não gastou mais do
que alguns quartos de hora para estar bem no meio do
tumulto levando um decreto do pai. O documento já estava
pronto de véspera pois, independentemente das artimanhas,
tudo já era mais ou menos esperado para o caso da
convocação anterior não dar certo. Nele o rei abria o leque do
debate constitucional e ratificava a necessidade de ser
constituída uma comissão para examinar as propostas que
estavam sendo elaboradas em Lisboa, visando adaptá-las às
necessidades do Brasil. Era um singelo atenuante dos decretos
divulgados no dia 23, produzido ao estilo dos remédios do rei,
ou seja, uma gota de cada vez. Mas o povo, que conhecia bem
a fama de enrolador do rei, no meio da leitura do decreto,
interrompeu o príncipe herdeiro e exigiu mais. Exigiu que d.
João VI jurasse a constituição portuguesa sem qualquer
condicionante e que, além disto, destituísse o ministério. E
mais ainda, apresentou a d. Pedro a lista pronta dos novos
ministros que deviam ser nomeados. Anos mais tarde, uma
exigência semelhante a essa é que faria com que ele abdicasse
do trono do Brasil mas, naquele instante, ele ficou calmo,
ouviu atentamente o pleito do povo e da tropa, anotou tudo
direitinho e correu para São Cristóvão deixando a assembleia
suspensa. Contou ao pai o que tinha visto e o que era pedido e
recomendou um retorno imediato. Claro que Sua Majestade
preferia deixar a resposta para depois, mas foi alertado que se
ela não fosse dada imediatamente, certamente a multidão viria
buscá-la. D. João, muito assustado, induzido pelo filho e
escorado agora nos bons conselhos de Palmela, concordou em
atender as reivindicações: juraria as bases da constituição
portuguesa ainda em gestação e trocaria o ministério. Deve ter
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