Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

Logo os reflexos da revolução liberal portuguesa
ecoaram no Brasil, ou seja, se d. João VI não quis ir atrás dela,
ela veio atrás de d. João. Assim que chegaram as primeiras
notícias da situação lusa a província do Pará declarou apoio à
causa constitucionalista portuguesa e formou uma junta
provisória de governo. A Bahia seguiu-lhe o exemplo. O clima
é o mesmo no país inteiro. Sopram os ventos do
constitucionalismo peninsular iniciado em Cádiz e
consolidado no Porto. D. João oscila entre ouvir os conselhos
liberais do conde de Palmela e os conselhos conservadores de
Tomaz Antônio Vila Nova Portugal. Breve o fluxo
constitucionalista chega também ao Rio de Janeiro, batendo às
portas do rei que ainda guardava esperanças de ficar longe
dele e, por isso mesmo, retardava sua volta a Lisboa. Naquele
momento Sua Majestade só tinha ouvidos para seu ministro
conservador e a política era distribuir balinhas para enganar a
velha fome constitucional que grassava voraz no meio do
povo. Se necessário seriam feitas mais concessões, mas só se
estritamente necessário. Jogo perigoso, pois é difícil dosar
remédios nesses casos.
No dia 23 de fevereiro de 1821 d. João havia mandado
publicar dois decretos convocando os procuradores das vilas
para tratar da questão constitucional à luz dos trabalhos das
Cortes de Lisboa. Também criava uma comissão de onze
membros para produzir um documento que servisse de base
para as discussões dos procuradores. Essa meia medida urdida
por Tomaz Antônio causou grande insatisfação na tropa e na
população, dada sua notória inspiração absolutista e
indisfarçável carga de embromação. A tal comissão se reuniu
pela primeira e ultima vez no dia 25 de maio, meio que
timidamente, nas dependências da residência do conde de
Palmela, quer dizer, justamente na casa de quem era
inteiramente contra aquelas meias medidas. Não deve ter
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