Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

abortada vinte e oito anos antes, não se ousava falar em
república. A transmigração da família real em 1808 tinha
reforçado ainda mais o espírito monarquista. Mas,
paralelamente, tinha também reforçado a convicção de que o
Brasil jamais poderia voltar a ser uma colônia portuguesa. O
país tinha ganhado um presente: habilitara-se a se tornar um
reino, assim sem mais nem menos. Presente tardio, todavia,
pois o espírito do século anunciava passos adiante. Juntando
as coisas, em cada canto do Brasil se começou a pensar
modelos a serem adotados para consolidar uma separação
definitiva com o velho reino luso; alguns mais avançados
outros menos, mas todos muito patrióticos.
Em 1810 as colônias espanholas da América se
rebelavam e corriam para os modelos republicanos, imitando
o que a América Inglesa já tinha feito há mais de trinta anos.
De sorte que muitos estavam convencidos e tentavam
convencer que o regime republicano era o que convinha aos
povos das Américas, quase uma vocação natural. Assim
também se pensava em Pernambuco em 1817. Além do
impulso natural provocado pelas ideias liberais, também
pesaram os interesses comerciais de produtores de algodão e
senhores de engenho escravagistas que temiam as pressões
que a Inglaterra vinha fazendo sobre Portugal para abolir o
tráfigo vil da mão-de-obra africana, dócil e competente. Assim
o movimento que então se deflagrou teve em juristas, padres e
fazendeiros, os seus quadros ativistas.
A suposta tomada do poder é clássica, monótona e
efêmera: um levante militar bem sucedido afugenta os
governantes legais, instala-se um governo provisório,
proclama-se a república, convoca-se uma constituinte,
glorifica-se a nacionalidade. Os patriotas pernambucanos
pensam à frente, mas Pernambuco é pequeno demais frente
ao tamanho da nacionalidade que irrompia em todos os
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