Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

assim tão simples. Luis Felipe teve dezoito anos para dizer a
que veio. Em 1848 o prazo se esgota, quero dizer, se esgota
novamente a paciência dos franceses e eles proclamam a
república novamente, achando que um rei constitucional e
bonzinho já não era suficiente pois o poder emana do povo,
não era uma dádiva de Deus. E quem é o primeiro presidente
eleito? Um descendente de Danton, um neto de Marat? Não, é
um sobrinho de Napoleão Bonaparte, justamente o cônsul
republicano que tinha colocado a coroa dos Bourbon em sua
própria cabeça. Encantou o povo prometendo restaurar a
antiga glória do tio. Foi eleito com espantosos 73% dos votos.
Ato contínuo, fechou a assembleia e assumiu como ditador. O
povo pegou em armas novamente? Desta vez não, preferiu
votar. Ratificou o golpe de estado com grande entusiasmo.
Luis Napoleão seguiu fielmente os passos políticos do tio:
virou cônsul e em 1852 virava imperador. Pasmem, tudo isso
escorado no voto popular!
Mas em 1870 as coisas voltavam aos seus devidos
lugares, com quase um século de atraso: era proclamada
definitivamente a república francesa. Napoleão III, o sobrinho
do I, tinha sido ao mesmo tempo o primeiro presidente e o
último rei dos franceses, nessa ordem absolutamente
esdrúxula.
Retrocessos e avanços, avanços e retrocessos haveria
não só na França mas na Europa em geral. Os reis voltaram a
engolir as pequenas repúblicas e limpar as bocas com as
constituições mais atrevidas.
E no Brasil? Como o espírito do século das revoluções
afetou nosso país? Começou de forma bastante agitada,
partindo logo para uma revolução republicana. Falo da
revolução pernambucana de 1817. Aliás, ela é muito ilustrativa
do potencial revolucionário dos brasileiros naquela época de
grandes mudanças políticas. Desde a Inconfidência Mineira,
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