Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

assistir aos acontecimentos de perto. A imprensa mundial
ainda engatinhava, mas não deixava de dar destaque à
efervescência francesa. A agitação logo transborda as
fronteiras e atinge os países vizinhos. Há agitações no Sacro
Império, na Bélgica, na Holanda. Paralelamente vem o
expansionismo militar da revolução, mesmo porque era
preciso conter o reacionarismo dos reis da Europa que
achavam que aquela balbúrdia já estava indo longe demais.
Juntou a fome dos deserdados europeus com a vontade de
comer dos revolucionários franceses. O país pode formar
exércitos formidáveis já que tem vinte e sete milhões de
habitantes e precisa arranjar ocupação para eles, pois a
república tem que zelar pela dignidade de seus cidadãos. Nada
mais digno do que a guerra do novo contra o velho regime.
São os tentáculos da revolução abraçando a Europa. A guerra
começada em 1792 se amplia. Surgem grandes generais. Entre
eles, Napoleão Bonaparte com espetaculares vitórias na Itália
e no Egito. O general sanguinário é também um grande
político. Tem um método esperto de alimentar a guerra: com
o dinheiro dos saques de hoje equipa os exércitos das
conquistas de amanhã. Forma um exército republicano cheio
de novas e poderosas motivações pois cada um luta por si
mesmo e não por um rei preguiçoso e distante. À frente da
armada francesa iam generais competentes e ambiciosos,
misto de patriotas e mercenários aos quais Napoleão perdoava
pequenos saques silenciosos. Muitos deles, como prêmio por
seu desempenho militar, viravam embaixadores que, não raro,
cultivavam o hábito de achacar os reis das pequenas nações
buscando levar vantagens pessoais.
Foi o caso de Leannes embaixador francês em Lisboa.
Mais de uma vez ele se envolveu com contrabando em
Portugal. Até tentou roubar d. João, exigindo indenização pelo
suposto furto de uma baixela de prata que teria acontecido em
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