Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

mas aqui como em todo o mundo, nada seria mais como antes
e os reinos absolutistas principiaram a morrer e ideias como
liberdade, democracia e república não puderam mais ser
caladas nos cadafalsos e nas fogueiras tardias da inquisição. O
homem assumiu a plena potencialidade da sua razão, nasceu a
ciência moderna e começou a maravilhosa aventura do
conhecimento humano e da busca da felicidade. Esta, uma
dádiva que Deus, enfim, não tinha reservado apenas àqueles
que nasceram com o sangue azul.
Uma das coisas mais fantástica que o iluminismo criou
foi o sentido de moral pública, essa coisa singela que nos
ensina que é o direito dos outros que dá sentido ao meu
direito e que a consciência disso é que garante a realização da
dignidade das pessoas. Paralelamente se entendeu que essa
moral estava lastreada em valores comuns a um grupo de
pessoas que faziam com que elas se identificassem pela
comunhão desses valores e, com base nisso, formassem uma
nação. Empurrados por essas novas formas de ver o mundo
uma gente deserdada, reprimida há século, partiu para encarar
os reis e exigir mais espaço no cenário das decisões que
afetavam de forma crucial a sua vida.
Grosso modo, o moto da mudança política dos
tempos modernos começou com a Revolução Francesa, no
final do século XVIII. Mas o movimento batizado no sangue
derramado no assalto às masmorras da Bastilha no
inesquecível dia 14 de julho de 1789 produziu estrondos que
ecoaram por todo o século XIX e fizeram dele a era das
revoluções.
Mas o modelo não foi o mesmo em todos os lugares.
Pelo menos no que diz respeito aos projetos políticos, aos
anseios populares e à ação das novas lideranças que surgiam.
Na revolução francesa faltaram projetos políticos consistentes
e sobrou oportunismo demagógico das novas lideranças. Vai
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