Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

D. Pedro ficava no Brasil como príncipe regente. A
intenção inicial do rei era mandar o filho negociar com as
Cortes uma constituição mais amena, mas acabou ficando
com medo do que d. Pedro pudesse fazer, sendo ele próprio
um liberal constitucionalista. Assim, mudou de ideia e resolver
voltar ele mesmo. A última recomendação que d. João deixou
ao filho foi que ficasse atento e que, se necessário, tomasse a
frente da independência do Brasil, antes que algum
aventureiro o fizesse. Eis o rei como de fato era: cauteloso e
sagaz.
A demora de d. João VI em retornar a Portugal não
era, de fato, só questão de preguiça e fascínio tropical.
Conduzido por aquela arguta percepção de que era dotado,
buscou aproveitar-se das circunstâncias de poder estar tão
longe do caldeirão fervente da política europeia pós furacão
napoleônico É que no Brasil d. João VI teria muito melhores
condições de resistir às pressões britânicas, num mundo
recém saído de uma guerra geral onde a pequena ilha
confirmara sua posição de senhora dos mares e candidata a
dona do mundo. Para não se tornar definitivamente um mero
quintal do império britânico, o rei tentava trazer para Portugal
o apoio da Áustria e da França restaurada. Na América do Sul
esmagaria Artigas e conquistaria o Uruguai. Desmancharia a
estrutura colonial do Brasil e, tanto quanto possível, faria do
Rio de Janeiro uma cidade em condições de hospedar um
reino. Remodelaria a cidade, ampliaria o Palácio da Quinta da
Boa Vista e tentaria cercar a corte de arte e fineza.
De alguma forma a Europa tinha ficado mais perto.
Portugal, contudo, ia ficar cada vez mais distante. Mas o doce
reino tropical ficaria para sempre no coração de d. João VI.
Ele devia adorar o jeitinho brasileiro e em especial aquele
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