Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

do assunto eram privados, nas horas e locais mais impróprios
e cheios de risinhos maliciosos. Ninguém acreditava mesmo
que eles estivessem conspirando, a não ser, claro, contra a
honra do marido.
Outras tentativas de golpes contra d. João ocorreriam
mas, a partir daí, ele ficou muito mais atento. Isso, contudo,
não impediu que ele viesse a morrer provavelmente
envenenado. Há quem diga que d. Carlota Joaquina estava por
trás desse trágico desfecho. Mas essa não é a única suspeita de
assassinato que paira sobre ela. Conta-se que d. Gertrude
Angélica Pedra Carneiro Leão casada com José Fernando
Carneiro Leão, diretor do Banco do Brasil e suposto amante
de d. Carlota, foi assassinada no Rio de Janeiro a mando da
rainha e que o inquérito tinha sido arquivado a mando de d.
João. Parece que ele preferiu que a mulher ficasse na posição
de suspeita de assassinato do que ele na posição de corno
comprovado. Era mais um dos tantos aborrecimentos que ela
trazia ao marido, inclusive instigando o filho d. Miguel a
também conspirar contra o pai, o que ele fez com absurdo
entusiasmo e que, aliás, faria também contra o irmão d. Pedro.
Mas d. Carlota morreu feliz pois, quando deixou este
mundo cruel, d. Miguel tinha usurpado o trono portugues e
reinava absoluto, aterrorizando os liberais, apoiado pelos
padres, pelos camponeses e pelos nobres conservadores
portugueses em geral. Então o marido tinha sido assassinado,
o filho mais velho tinha sido traído, as Cortes de Lisboa
estavam desfeitas e a constituição liberal portuguesa tinha sido
jogada no lixo. D. Carlota, claro, finalmente, tinha conseguido
o que queria. Mas dizem que ela morreu meio maluca,
vagando em andrajos pelo Palácio de Queluz, debaixo de uma
cabeleira branca vasta e desgrenhada. Logo ela que, no Brasil
gostava de se vestir como uma verdadeira Carmem Miranda
oitocentista coberta de plumas e de joias. É fato que essa
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