Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

novamente Espanha e Portugal sob a mesma coroa, e mais,
colocar essa coroa sobre sua própria cabeça.
A primeira conspiração de Carlota Joaquina contra o
marido foi em 1805 quando ela tinha apenas dezoito anos.
Aquele não vinha sendo um bom ano para d. João. Ele estava
meio deprimido, choramingando pelos cantos e buscando
consolo na companhia dos padres. Privou-se das agitações da
corte, das formalidades do trono, da tensão dos gabinetes, da
algazarra das caçadas e foi viver recluso em Vila Viçosa, a sede
do ducado de Bragança. Era a oportunidade que ela queria
para declará-lo mentalmente incapaz e pleitear a regência.
Formou um partido e começou a urdir a deposição do marido
nos recônditos do palácio. Alertado para o golpe iminente o
príncipe voltou apressado a Lisboa, sufocou o golpe e
reassumiu o governo. O conde de Vila Verde chegou a propor
uma punição exemplar para d. Carlota, mas d. João, vendo aí
uma boa chance de justificar sua intenção de se afastar
definitivamente dela mas sem provocar um drama diplomático
e familiar, mandou apenas que ela se mudasse de Queluz para
a quinta do Ramalhão. Para ela acabou não sendo uma pena
muito cruel pois ficou longe da obrigação de cuidar da sogra
que, naquela altura, andava tresloucada pelos corredores de
Queluz com mania de estar sendo perseguida por demônios.
Além disso d. Carlota gostou muito do jeitão do jardineiro do
Ramalhão e, dizem, acabou tendo uma filha com ele. D. João
não engoliu essa muito bem e levou um ano para reconhecer a
menina o que, certamente, só fez por conta de algum acordo
com sua perigosa mulher. Aliás, paira dúvida sobre a
contribuição de d. João para que Carlota Joaquina pudesse dar
à luz seus três últimos filhos, inclusive d. Miguel, de quem se
suspeita ser filho do marques de Marialva. Fato é que a rainha
tinha fama consolidada de não ser nem um pouco fiel, quer
no trono, quer na cama. Dizem que suas diversões favoritas
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