Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

conforme aquela história que contamos quando tratamos dos
infortúnios dos Bragança.
Está certo que d. João - até para fazer juz ao seu
codinome de O Magnânimo - cumpria com denodo e
resignação seu dever conjugal, mas seria um exagero dizer que
ele prezava a companhia da esposa. Aliás, a recíproca era
verdadeira. De sorte que cada um procurava viver em um
canto, longe do outro. Em Portugal ele preferia viver no
Palácio de Mafra enquanto d. Carlota ficava no Palácio de
Queluz, com os filhos e a sogra. Na chegada ao Rio de
Janeiro, o príncipe regente foi morar em São Cristovão e sua
mulher foi para Botafogo. Claro que o isolamento do marido
em relação à mulher, e vice-versa, não implicava em
comportada abstinência das delícias do sexo pelo
descombinado casal. Mas, mesmo nesse particular, d. Carlota
era muito mais ativa do que o marido. Enquanto ela tinha
fama de ser uma espanhola quente e inquieta, parece que d.
João – fazendo juz a sua notória timidez - só teve uma única
amante em toda a sua vida. Trata-se de uma brasileira filha de
d. Rodrigo José de Menezes e que nasceu em Vila Rica
quando seu pai era governador da capitania de Minas Gerais.
Não faltam aqueles que suspeitam que d. João tivesse
certas tendências homossexuais e que o visconde de Vila
Nova da Rainha fosse seu companheiro inseparável nessas
horas heterodoxas. Está certo que eles trocavam cartas um
tanto amorosas, mas pode haver um certo exagero na
interpretação da extensão daquelas delicadezas.
Mas o maior aborrecimento que d. Carlota causava ao
marido não era sua proximidade física e sim sua desmedida
ambição política. É que ela tinha o hábito de conspirar contra
ele. Pobre d. João, longe sua mulher podia causar ainda mais
aborrecimentos. Parece que ela tinha ambições de reunir
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