Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

por libra. Aliás, quando voltou para Portugal, passou também
este papagaio para o filho d. Pedro.
Dormindo com o inimigo
A vida de d. João VI, assim com seria a de seu filho
Pedro, é cheia de coisas inusitadas. Não tanto o casamento
com uma infanta espanhola pois isso era extremamente
comum, como vimos. Aliás, este hábito vinha desde os
tempos dos mouros quando os reinos de Castela, Aragon,
Leon e Portugal, de vez em quando, tinham que se entender
para garantir um pouco de descanso no meio daquelas
batalhas constantes. Mas, no caso do infante d. João, a noiva
escolhida para ele seria a última pessoa do mundo que poderia
fazê-lo minimamente feliz. Também pudera, além de muito
feia, vivia conspirando contra ele. Mas, enfim, coube-lhe a
mão de Carlota Joaquina Teresa Caytana de Bourbon e
Bourbon, filha do rei da Espanha e bisneta do rei da França.
Não obstante toda essa realeza, não ostentava mais do que
1,50 metros de altura para um corpo desajeitado, locomovido
por uma claudicante perna manca. Dizem que na toalete da
manhã tinha que raspar uma penugem preta que teimava em
lhe nascer no rosto todo dia e que, se não fosse essa
providência, agregariam uma barba ao seu queixo
proeminente e um bigode entremeado entre seus lábios finos
e seu nariz pontudo. Contudo, mesmo assim, o pobre d. João
teve que desposá-la quando ela tinha apenas dez anos de
idade. Aos quinze o casamento se consumou e d. João não se
fez de rogado foi em frente, engravidando d. Carlota nada
menos do que nove vezes. Do consórcio nasceram, entre
outros, d. Pedro, d. Miguel e Maria Isabel, a futura trágica
rainha da Espanha por casamento com seu tio Fernando VII,
54