Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

foi encarregado de apresentar a conta a d. João. Na verdade o
domínio comercial inglês já estava estabelecido,
independentemente do que se ia pôr no papel. O Rio de
Janeiro se encontrava entupido por produtos ingleses trazidos
pelas levas de embarcações que aportavam com as
mercadorias que não estavam sendo vendidas na Europa,
conturbada pela guerra. Tinha de tudo que não nos servia:
desde espartilhos e tecidos de veludo até sapatos para
patinação no gelo ou aquecedores para invernos rigorosos. O
tratado comercial, no entanto, foi muito além de disciplinar as
transações comercias. Além das tarifas privilegiadas para os
produtos ingleses encalhados no velho mundo chegava a
determinar que os cidadãos ingleses no Brasil só podia ser
julgados por juízes ingleses, estabelecendo um verdadeiro
enclave pretorial britânico na América Portuguesa. Liberava as
costas brasileiras a livre navegação dos navios britânicos e
ainda lhes dava o direito de usar madeiras brasileiras para
construção e reparos navais, como lhes aprouvesse. Havia
direitos de propriedade que igualavam os ingleses aos lusos e
aos brasileiros. O pior de tudo é que o decreto não garantia
nenhum tipo de vantagem para produtos ou cidadãos
brasileiros ou portugueses na Inglaterra. D. João VI chegou a
pensar em não asssinar o acordo tal o desequilíbrio que
continha, mas recebeu ameaças veladas e teve que recuar. Por
ter que engolir aquele sapo o paciente rei multiplicou seu ódio
por Strangford e mais tarde até conseguiria que ele deixasse a
representação britânica no Brasil 15 , mas pagou a conta libra
15
D. João não gostou nem um pouco de lord Strangford ter se
dirigido a ele de forma insolente pedindo satisfações por ele ter
nomeado o conde da Barca para o seu ministério. Escreveu ao
regente da Inglaterra se queixando e foi essa a causa imediata do
afastamento do embaixador inglês.
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