Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

euforia e o clima de festas e luminárias dos primeiros
momentos, caiu sobre a população um duro decreto
desapropriando moradias para abrigar a nobresa portuguesa.
Essa penada absolutista do monarca, no meio do regozijo
carioca, causou irônicas reações da população e até pode ter
nascido daí parte da imagem negativa que d. João carrega na
memória histórica nacional, passando a figura de feio, baixo,
gordo, bonachão, comilão, corno, porco, preguiçoso, meio
bicha e indeciso.
Contudo, há de se reconhecer a situação crítica que o
então príncipe regente teve que enfrentar e a habilidade
paciente com que contornou muitos problemas cuja
confrontação pura e simples poderia ter levado a um fim
muito menos auspicioso do que aquele que a marcha da
história revelou. Afinal, foi esse príncipe travestido de tão
grotesca figura que abriu os portos brasileiros logo ao chegar e
revogou o alvará que sua mãe tinha baixado em 1785,
proibindo as atividades manufatureiras no Brasil. Estava
decretado, de fato, o fim do regime colonial na América
Portuguesa.
Mas, quando a família real aportou no Rio de Janeiro,
a cidade, apesar do caprichoso desenho do encontro da
montanha, com a floresta e o mar que a natureza colocou de
forma deslumbrante naquele canto do mundo, ainda não era
uma cidade maravilhosa, digna de abrigar um governo
metropolitano. Muito antes pelo contrário, urbanisticamente
falando, a cidade era uma verdadeira pocilga com esgoto e lixo
dominando as ruas apertadas e cheias de gente. Não estava
minimamente preparada para ser sede de um reino, mesmo de
caráter tropical. A má salubridade da cidade pode até ter
contribuido para o grande número de mortes que acabou
ocorrendo entre a nobreza em geral. Ali morreriam o infante
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