Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

a conquistar ficaria reservada para Bonaparte fazer algum
arranjo futuro, quem sabe até com algum herdeiro dos
próprios Bragança.
Mas o mais interessante do infame tratado é seu artigo
12º. Diz ele: “Sua Majestade o Imperador dos franceses e Rei da Itália
obriga-se a reconhecer a Sua Majestade Católica o Rei da Espanha
como Imperador das Duas Américas quando tudo estiver
pronto para assumir este título ao tempo da paz geral, ou o mais tardar
três anos após aquela época”.
Ou seja, pelo famigerado tratado Napoleão Bonaparte
estava não só retalhando o país luso mas também entregando
o Brasil à Espanha! Claro que se tratava de mera esperteza
diplomática ou delírio megalomaníaco do corso pois ele jamais
teria condição de conquistar a América. Mesmo porque, não
teria como furar o domínio britânico sobre o Atlântico. Aliás
ele não teve condição de conquistar sequer Portugal.
De qualquer forma, para cumprir esse projeto imoral,
em novembro de 1807 o general Junot entrava em Portugal à
frente de vinte e sete mil soldados. Ele já vinha aborrecendo
d. João desde o tempo em que era embaixador em Lisboa
quando, além de dizer que a família real portuguesa era a mais
feia da Europa, ainda vivia batendo esporas e arrastando sua
espada egípcia arrogantemente nas antessalas do regente.
Agora Junot voltava para aborrecê-lo outra vez e com a
espada na mão e as esporas picando a montaria, apressando a
marcha forçada sobre a capital do reino luso. Avançou sem
grandes percalços pois a população ainda estava meio
atordoada com aquela notícia de que a família real e grande
parte da nobresa tinham fugido para o Brasil, do outro lado
do mundo. Além disso, o próprio príncipe regente tinha
pedido que não houvesse resistência aos invasores,
tardiamente fiel à sua política de neutralidade.
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