Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

para o lado dos franceses. 10 Todos os navios disponíveis
foram integrados ao cortejo real, ficando fundeados no Tejo
apenas nove ambarcações, verdadeiras banheiras sem qualquer
condição de se fazerem ao mar e que, certamente, não
interessariam aos franceses.
Mas a insistência dos ingleses com a fuga para a
América também tinha um bela motivação comercial. É que
eles ansiavam por estabelecer relações privilegiadas com o
mercado da rica colonia americana, gozando, não só de
tarifário especial como também usufruindo da grande
vantagem de ficar livre das restrições impostas pelo
monopólio colonial metropolitano e seus tortuosos caminhos.
Quer dizer, ganhavam por todos os lados.
Mesmo antes da conquista de Lisboa, Napoleão já
tinha pensado em lotear Portugal criando três pequenos reinos
a serem entregues a aliados diletos. Estou falando do tratado
secreto de Fontainebleau. Tratava-se de uma partilha de terras
de natureza absolutamente medieval. Por ele uma parte de
Portugal ficaria com Manuel de Godoy, o ministro todo
poderoso da Espanha, que assim sairia de cima da rainha e iria
tratar de seu próprio negócio, deixando o rei em paz debaixo
da manumental galhada de seus cornos. O norte de Portugal
seria barganhado com a rainha da Etrúria que cederia a
Toscana para ser anexada ao reino da Italia cujo rei, àquela
altura, era o próprio Napoleão. A terceira parte das terras lusas
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Lord Strangford tinha mandado um bilhete meio ameaçador a d.
João dizendo que se ele não se dispusesse a partir para o Brasil que
pelo menos retirasse sua frota para a ilha da Madeira ou para Cádiz
a fim de evitar que ela caísse nas mãos de Napoleão. Arrematava
dizendo que se isso não fosse feito a Inglaterra poderia tomar
“qualquer providência que julgasse apropriada”.
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