Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

chamou o arquiteto Johann Friedrich Ludwig e o encarregou
de planejar a obra sem se preocupar muito com a bolsa.
Dizem que no pico do entusiasmo o canteiro de obras chegou
a ocupar 52 mil trabalhadores.
A basílica do complexo de Mafra foi inaugurada em
1730 e, desde então, d. João V cultivou o hábito de utilizar o
palácio para promover magníficas festividades religiosas que
costumavam durar vários dias, combinando contrição com
muita comilança e vinhos de boa safra.
D. José e sua filha d. Maria I não eram muito chegados
ao Palácio de Mafra. No tempo deles a família real só
costumava ir lá em curtas temporadas de caça, com muito
exercício e apetite, guardando uma certa distância da
magnífica biblioteca do palácio com seus 60 mil volumes,
encardernados em couro e gravados a ouro.
Depois de d. João V, só d. João VI adquiriu o hábito
de frequentar o Palácio de Mafra, onde constumava passar
temporadas de surto religioso, deprimido, cantando no coro
da basilica ou chorando pelos cantos.
Apesar da sua magnificência o Palácio de Mafra nunca
chegou a ser residência oficial da família real. Ou servia para
retiros espirituais ou para esportes reais. Também nunca
chegou a trazer glória para a dinastia dos Bragança como
imaginara d. João V no seu delírio de grandesa. Ao contrário,
foi lá que o último rei portugues d. Manuel II passou a noite
antes de partir para o exílio, dispensado dos seus serviços pois
os portugueses já estavam fartos dos reis e queria partir para a
república.
Depois do desastre que o terremoto impôs ao paço da
Ribeira a família real resolveu morar pelos lados de Belém, já
que, supostamente, ali era mais protegido dos abalos e foi em
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