Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas
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simplesmente que ele descesse <strong>do</strong> trono para implantarem uma<br />
república mas a grande maioria queria um governo monárquico<br />
mais liberal, com um ministério forma<strong>do</strong> sob indicação <strong>do</strong><br />
legislativo e aclamação <strong>do</strong> povo. Como já dissemos, para d. Pedro<br />
isso era inaceitável. Mesmo porque, a constituição lhe dava a<br />
prerrogativa de indicar o ministério como bem lhe aprouvesse.<br />
Mas é claro que essa era apenas a oportunidade pontual que surgiu<br />
para a surpreendente renúncia. O impera<strong>do</strong>r era corajoso e tenaz<br />
mas não teve ânimo para enfrentar a adversidade. Na verdade ele<br />
já estava desencanta<strong>do</strong> com seu trono americano e só queria<br />
mantê-lo se não tivesse que despender muito trabalho para isso,<br />
caso contrário, preferia ir ao encalço <strong>do</strong> irmão, tomar-lhe o trono<br />
usurpa<strong>do</strong> e devolvê-lo à filha. Não estava mais disposto a ficar<br />
meio que tolhi<strong>do</strong>, trocan<strong>do</strong> golpes com uma assembleia mais<br />
agressiva <strong>do</strong> que a anterior e uma imprensa cada vez mais<br />
insolente. Sentia-se muito mais um guer<strong>rei</strong>ro liberal <strong>do</strong> que um<br />
impera<strong>do</strong>r incompreendi<strong>do</strong> e mal ama<strong>do</strong> na nação a que tinha<br />
da<strong>do</strong> nascimento. Naquela altura uma epopeia liberta<strong>do</strong>ra nas<br />
plagas lusas lhe parecia muito mais interessante. Tanto que mais<br />
tarde escreveria ao filho:<br />
“Eu nasci muito livre e amigo da minha independência para gostar de ser<br />
soberano em uma crise em que eles têm ou de esmagar os povos que governam<br />
ou ser esmaga<strong>do</strong>s por eles”.<br />
Ao reunir o corpo diplomático para comunicar sua decisão<br />
de deixar o trono <strong>do</strong> Brasil, d. Pedro despertou naqueles homens<br />
frios surpresa e admiração. O diplomata francês M. Pontois<br />
comentou que ele soube melhor abdicar <strong>do</strong> que governar e que<br />
tinha mostra<strong>do</strong>, naquela hora, presença de espírito, firmeza e<br />
dignidades notáveis. Muitos quiseram convencê-lo a mudar de<br />
ideia, mas àquela altura a decisão já era irreversível e só o que<br />
pediu foi apoio para deixar o Rio de Janeiro imediatamente, no<br />
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