Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

aos mineiros e à nação que arrancou bocejos impacientes. De
sorte que ele desistiu e voltou muito desanimado, certo de que
tinha perdido o amor e a confiança dos brasileiros. No dia 11 de
março de 1831 retornava ao Rio de Janeiro e certamente já trazia
na cabeça a ideia da abdicação ao trono. Naquela altura os
brasileiros só se lembravam que ele era português de nascimento e
que estava envolvido demais com o problema da usurpação do
trono de sua filha, esquecendo-se dos problemas do Brasil. Na
verdade todo tipo de acusação vinha sendo lançada sobre ele: era
português demais, era autoritário demais, era intransigente demais,
era alcoviteiro demais. Em resumo, ele tinha razão: os brasileiros
já não o amavam mais.
O que levou, de verdade, d. Pedro a abdicar da coroa do
império do Brasil? De fato, cada um dos pontos que vinha
alimentando seus detratores e agitando o povo, teve um peso no
desfecho. Havia temor quanto ao futuro da monarquia no Brasil e
isso ele jamais gostaria de ver anexado à sua biografia. Por outro
lado não se sentia confortável em ter que engolir o crescimento de
uma xenofobia em relação à presença lusitana na administração
pública e nos negócios do Brasil, detalhe que cada vez mais
colocaria em relevo sua condição de português. Sobretudo havia o
temor do povo quanto a um golpe autoritário, coisa que ele
teimava em desacreditar mas não convencia. Enfim, sua
legitimidade para governar se complicava cada vez mais. Também
tem grande peso a irritação crescente que vinha sentindo com os
desmandos do irmão. O ânimo que os generais liberais
portugueses vinham mostrando em encarar o absolutismo que
reinava em Portugal o fizeram voltar os olhos para a antiga pátria
como há muito tempo não fazia. Somando-se ainda a toda essa
conjuntura objetiva, havia a impaciência e o orgulho naturais de d.
Pedro. É provável que a abdicação tenha pego a maioria de seus
inimigos de surpresa. Os mais radicais queriam pura e
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