Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

queimar. Seus generais primam pela incompetência, perdendo
sucessivas batalhas mesmo contando com efetivos dez vezes
maiores do que os do inimigo. A 09 de agosto a Inglaterra
reconhece a coroa de d. Maria II e a 10 de outubro a França
faz o mesmo. A 22 de setembro d. Maria II chega a Lisboa e
se põe diretamente sobre a proteção do pai. O sucesso da
armada de d. Pedro continua e d. Miguel é obrigado a se
deslocar para Santarém, seu último reduto. Suas derrotas vão
se acumulando e a guerra caminha para o fim. A 18 de maio d.
Pedro dá entrada em Santarém, obrigando o irmão a se
refugiar em Évora. A vitória se consuma com mais uma
espetacular campanha do duque da Terceira. A 26 é assinada a
rendição incondicional dos exércitos de d. Miguel. D. Pedro
IV - o Rei Soldado – tinha restabelecido o trono que havia
legado à filha. Poucos dias depois de ser aclamado
triunfalmente pelo povo nas ruas, seria vaiado no teatro.
Manteve o mesmo sangue frio que tinha demonstrado nos
descontentamentos do Rio de Janeiro e nas vicissitudes das
batalhas do Porto e de Lisboa. Morreria poucos meses depois
de múltipla falência física, deixando em vigor a constituição
que tinha outorgado a Portugal, oito anos antes. Mesmo
sucesso teria no Brasil, país que tinha escolhido para reinar e
que tinha deixado de confiar nele e nas suas regras. Mas,
mesmo morto não teria sossego. Muitos dos liberais que o
tinham apoiado acabaram estranhando as práticas
constitucionalistas que tinham defendido, mesmo antes delas
se tornarem plenas. Os soldados que tinham batalhado sob
suas ordens queriam mais vantagens e os generais queriam
mais poder, assim como os políticos. O corpo de d. Pedro
nem tinha esfriado e ele já passava a ser visto pelos
portugueses como um ditador, excessivamente generoso com
o irmão vencido e sovina com os vencedores. Também pelos
portugueses não seria amado. Eles jamais o perdoariam por
182