Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

decididamente, não deve ter engolido. Ao contrário, a desfeita
deve ter ouriçado de verdade seus brios de soldado. Ainda
mais estando ele convencido que o pai tinha sido assassinado
e que d. Miguel podia estar por trás desse hediondo parricídio.
De sorte que ele mastigou o caroço, engoliu, mas guardou a
digestão para depois. Tinha que esperar momento propício.
Não podia invadir Portugal simplesmente como imperador do
Brasil e restaurar o trono da filha. Arrebatada loucura. Teria a
ira de todas as cortes da Europa sobre si. Logo, compreendeu
que tinha que fortalecer os liberais portugueses de alguma
forma. Aglutinar e prover gente com grande traquejo político
e diplomático como Palmela ou grande competência militar
como Saldanha e especialmente como Vila Flor.
A história do visconde de Vila Flor, futuro duque da
Terceira, é a própria história do triunfo militar do liberalismo
em Portugal. Com certeza, ele foi um dos maiores generais
europeus do século XIX e conseguiu uma proeza semelhante
a do general soviético Georgi Zukov que barrou as tropas de
Hitler nas portas de Moscou e as empurrou até Berlim,
tomando a capital do III Reich.
António José de Sousa Manuel de Meneses Severim de
Noronha, 7.º conde, 1.º marquês de Vila Flor e 1.º duque da
Terceira, serviu a cinco gerações de monarcas da Dinastia de
Bragança. Começou como fidalgo de d. Maria I. Serviu a d.
João VI, d. Pedro IV, d. Maria II e d. Pedro V. Apesar de
herdeiro dos mais ricos e tradicionais ramos da nobreza
portuguesa, o traço mais marcante da sua biografia é o seu
engajamento nas campanhas liberais, ao lado do conde de
Saldanha e do marquês de Palmela. Ingressou na carreira
militar com dez anos de idade e sempre se destacou pela
bravura e pela astúcia nos campos de batalha. Aos vinte e dois
de idade, depois de se destacar nas campanhas napoleônicas,
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