Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

sua autoridade. Capaz de caprichos mórbidos. Dizem que,
quando se soube que Noémi Thierry estava grávida de d.
Pedro, a família se apressou a fazer um acordo para que a
namorada descuidada se afastasse do Rio de Janeiro. Mesmo
porque d. Leopoldina já estava atravessando o Atlântico para
se juntar ao marido, depois do casório por procuração. O
arranjo do casamento tinha custado uma fortuna a d. João e,
alguns milhares de cruzados a mais para fazê-lo dar certo, não
tinha a menor importância. Foi formado um pacote
persuasivo no qual, além de uma dezena de contos de reis e
joias, a ofendida teria um bom casamento e uma boa vida em
Pernambuco, sob a proteção direta do governador. Assim foi
feito e a futura mãe se instalou magnificamente no Recife,
amparada e com um belo de um marido do lado. Acontece,
porém, que a criança – do sexo feminino - nasceu morta.
Alguém, talvez temendo algum distrato no lucrativo negócio,
teve a ideia de embalsamar o corpo da criança. Ao saber disso
o príncipe herdeiro pediu que o corpo lhe fosse enviado,
tarefa de que se encarregou o próprio governador Luiz do
Rego, pessoalmente. D. Pedro teria mantido o cadáver da
própria filha guardado em seu gabinete da Boa Vista por mais
de dez anos. Até que, depois da abdicação e partida para a
Europa, o macabro relicário foi encontrado e recebeu o
enterro cristão que merecia 50 . Ninguém conseguiu entender
muito bem a motivação do imperador, mesmo se sabendo ser
ele um pai extremadamente amoroso. Maria Graham, garante
que Noemi Thierry foi a primeira grande paixão de d. Pedro e
aquela seria sua primeira filha, bastarda mas, enfim,
primogênita.
50 Pedro Calmon afirma que essa história não tem o menor
fundamento.
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