Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

dos serviçais, tomava-lhes o lugar com a maior sem-cerimônia.
As vezes escandalizava os diplomatas estrangeiros com seus
hábitos pois eles, alheios às fundas diferenças entre a velha
Europa e a nova América, julgavam que ele se preocupava
demais com coisas miúdas indignas de um rei. 49 Sua
sinceridade também assustava. E ele até se divertia com isso
pois gostava de ironizar os taciturnos e trágicos e quase
sempre estava de bom humor. Gostava de mandar bilhetes
atrevidos carregados de fina ironia. Como daquela fez em que
o ministro Caula alegou doença para não participar de uma
reunião ministerial delicada, onde o Regente queria discutir
quem deveria ou não permanecer no ministério depois que ele
decidira desobedecer às Cortes e não voltar para Portugal.
“Caula, mande me dizer como está de saúde e se está disposto a
melhorar e se, depois, também o está para seguir no seu emprego deste
novo modo em que se vai isto arranjando. Responda já porque a não lhe
fazer conta será demitido”.
Na mesma linha da ironia, para demonstrar sua
contrariedade com os resultados dos trabalhos da primeira
legislatura brasileira, no discurso de encerramento do período
legislativo d. Pedro disse simplesmente: “Augustos e Digníssimos
Senhores Representantes da Nação Brasileira – Está fechada a sessão”.
É o mais breve discurso de que se tem notícia,
proferido por um chefe de estado, numa situação tão solene.
Essa ironia, aliás, lhe custaria ácidas críticas da imprensa que
julgava que o próprio ministério não havia colaborado para
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Apos a abdicação, d. Pedro se exilou numa fragata inglesa
fundeada na baia do Rio de Janeiro. Ao embarcar ele fez questão de
carregar sua própria bagagem o que escandalizou a marinhagem
britânica. O memorialista de bordo acabou registrando notas
desairosas sobre o ex-imperador do Brasil, achando-o
excessivamente cidadão para quem até então tinha sido imperador.
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