Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

vencer a força das sementes genéticas e o fez da melhor
maneira que pôde, com altos e baixos, pois sua mente liberal
brigava continuamente com seu coração autoritário sem que
ele pudesse moderar essas divergências. Às vezes a mente
ganhava, às vezes perdia, pois o coração sempre soprou muito
forte nas velas da nau do destino de d. Pedro. O caso é que
ele, embora se preocupasse com os direitos civis e a
representatividade do povo, não admitia intervenções no seu
direito de governar. Tinha ojeriza de qualquer tipo de
intervenção no seu direito constitucional de nomear seu
ministério e, se observarmos bem, esse fator esteve presente
em todas as grandes crises políticas que enfrentou no Brasil,
direta ou indiretamente.
Num registro pessoal, escreveu a respeito da abdicação
do trono do Brasil:
“Naquela ocasião não havia remédio senão ou ceder aos rogos
das forças armadas e de uma população em anarquia que queria o
ministério que eu tinha demitido por incapaz e por desconfiança que fosse
traidor, ou então abdicar para salvar a honra e não ferir a constituição
naquela parte em que me era concedido nomear e demitir livremente os
ministros de estado. Tomei o expediente de abdicar e deste modo, pondo
de parte todas as considerações, salvei a minha honra que prezo mais que
tudo”.
Embora nunca abrisse mão da sua dignidade imperial,
era relativamente simples em seus hábitos. Um rei no meio de
colonos rudes e iletrados que estavam apenas, e tragicamente,
aprendendo a exercer a liberdade que seu próprio imperador
havia propiciado. Aprendera sem dificuldades a ser brasileiro e
não se furtava a pequenas tarefas braçais impelido, sem saber,
pela realidade de que, no fundo, os brasileiros nunca tiveram
vocação para serem reis. Impaciente às vezes com a lerdeza
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