Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

com cinco anos de idade. Mas tinha deixado seu velho e leal
companheiro-José Bonifácio - como tutor do imperadormenino.
A assembleia, por sua vez, fez sua parte nomeando
uma junta governativa com o senador Vergueiro à frente. A
Dinastia de Bragança ainda sobreviveria no Brasil por mais
cinqüenta e sete anos, tempo em que durou o reinando do
imperador brasileiro d. Pedro II, um dos mais longevos da
história do mundo.
Coração e mente
Um império ocupando um quarto de todo o
território da América era uma aberração. Aliás, Portugal
ocupando um quarto da Península Ibérica, resistindo à
indefectível união de Castela, Leon e Aragon, também era. E é
até hoje. Belo enclave a honrar a nossa origem. Mas no
primeiro quarto do século XIX, à milhares de léguas oceano à
fora, na América, pululavam repúblicas, oportunas mas
claudicantes. O Brasil era único, mais ainda o era seu
imperador, nascido no Palácio de Queluz, a meio caminho
entre Lisboa e Sintra e que se dizia brasileiro por amor e
opção. E tinha direito de pensar assim. Educado longe da
Europa, sem parâmetros de referência, d. Pedro era um
autêntico rei tropical, único e espelhado em si mesmo.
Embora seu pai tivesse criado esse inusitado reino, como bom
bonachão que era, nele foi tudo menos rei. De sorte que d.
Pedro, embora recebendo um império de herança, não herdou
regras de majestade. Construiu a própria dignidade,
respaldado nas sementes da sua própria digníssima origem e
no seu próprio senso inato de honradez. Felizmente foi assim,
pois foi isso que fez dele um notável constitucionalista num
ninho de ferrenhos absolutistas: pai, mãe e irmão. Teve que
163