Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

navio que tinha trazido ela e d. Amélia ao Brasil, já tinham
ficado sob a laje do esquecimento. E o imperador partiu para
a Europa, em abril de 1831, chamando Barbacena de ladrão
para quem quisesse ouvir.
O ministério Barbacena foi o último ministério efetivo
que d. Pedro formou. A partir daí, se sucederam nomeações e
demissões sem sentido, numa série frenética, tangida pela
agitação da assembleia, das ruas e da inquietude dos militares.
Ao sair, Barbacena enviou uma carta ao imperador,
seu antigo amo e amigo, onde se pode ler estas palavras
proféticas:“Ainda há tempo, senhor, de manter-se V.M.I no trono
como o deseja a maioria dos brasileiros, mas se V.M., indeciso, continuar
com as palavras de Constituição e brasileirismo na boca, a ser português e
absoluto de coração, neste caso a sua desgraça será inevitável, e a
catástrofe que praza a Deus não seja geral, parecerá em poucos meses,
talvez não chegue a seis”. 48
Em sua carta, Barbacena evitou mencionar as
perseguições pessoais que estava sofrendo da parte do
imperador, embora não hesitasse em chamá-lo de louco.
Procurava mostrar-se sóbrio e sincero, ilustre herdeiro da
tradição mineira dos Caldeira Brant. Era 15 de dezembro de
1830. Poucos mais de três meses depois, d. Pedro era
obrigado a abdicar em favor de seu filho d. Pedro II, então
48 Neil Macaulay afirma que não há evidência de que a carta
de Barbacena tenha sido de fato enviada a d. Pedro. O que existiria,
na verdade, seria um rascunho da mesma, descoberto entre os
documentos do marquês, depois da sua morte. Isso sugere que a tal
profecia possa ser uma miserável fraude. Se isso é verdade, afinal
Barbacena e Chalaça não eram tão diferentes assim.
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