Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

o marquês tinha falseado a prestação de conta das suas
despesas na Europa, naquela missão de conseguir uma
segunda imperatriz para o Brasil. As contas já tinham sido
aprovadas sem ressalvas mas, com a instigação do Chalaça, d.
Pedro resolveu perseguir seu ministro como se fosse ele um
reles ladrão a fraudar contas públicas. Repetia-se assim, oitenta
anos depois, a mesma provável história de injustiça que já
tinha vitimado o avô do visconde de Barbacena. Estou me
referindo a Felisberto Caldeira Brant, o contratador dos
diamantes do Tijuco que, por intriga do ouvidor do Serro do
Frio e do Intendente dos Diamantes, acabou preso e privado
de todos os seus bens. Mais tarde o contratador injustiçado
seria reabilitado pelo marquês de Pombal que mandou soltálo.
Mas reparou só metade da injustiça pois Caldeira Brant – o
avô - teve de volta a liberdade mas não teve de volta seus
bens. Acabou morrendo em 1756 em Caldas da Rainha, onde
tentava recuperar a saúde, abalada pelas injustiças que sofreu.
Estabelecida a maledicência contra Barbacena, d.
Pedro mandou reabrir a prestação de contas do marquês e se
pôs a esmiuçar, ele mesmo, os recibos. O império estava
ruindo e d. Pedro se ocupando daquilo, como se não tivesse
mais nada o que fazer. Pedia esclarecimentos constrangedores,
achacando seu mais importante colaborador. Eis um lado
menor da personalidade complexa do imperador: tinha
dificuldades de colocar o rei à frente do homem, mostrandose
excessivamente vulnerável às influências das pessoas por
quem se afeiçoava. E assim, chalaças e domitilas foram
fazendo os seus estragos no glorioso trono do imperador do
Brasil. D. Pedro não teve a menor dificuldade de esquecer a
gratidão pétrea que tinha jurado a Barbacena. As lágrimas que
d. Pedro verteu ao beijar a filha são e salva e os efusivos
abraços que tinha dado a Caldeira Brant ainda a bordo do
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