Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas
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nenhuma traição. Governou durante seis anos à espera de que<br />
seu filho d. Afonso – herdeiro casual da coroa lusa - podesse<br />
atingir a maioridade e virar <strong>rei</strong>, o que se deu em 1662. O novo<br />
<strong>rei</strong> - segun<strong>do</strong> da dinastia bragantina - tinha nasci<strong>do</strong> em 1634 e<br />
era o sexto filho <strong>do</strong> real casal, mas pela morte prematura <strong>do</strong>s<br />
irmãos mais velhos acabou herdan<strong>do</strong> a coroa paterna.<br />
Assumiu com o nome de d. Afonso VI e o seu <strong>rei</strong>na<strong>do</strong>, <strong>do</strong><br />
ponto de vista pessoal, foi particularmente trágico. Foi<br />
cognomina<strong>do</strong> “O Vitorioso” mas sua vida foi um festival de<br />
derrotas e decepções que o levaram a encerrar seus dias preso<br />
num cômo<strong>do</strong> acanha<strong>do</strong> e lúgubre <strong>do</strong> Palácio de Sintra,<br />
afasta<strong>do</strong> <strong>do</strong> trono. To<strong>do</strong> o seu infortúnio começou quan<strong>do</strong> ele<br />
ainda era criança e contraiu uma <strong>do</strong>ença que lhe paralizou o<br />
la<strong>do</strong> di<strong>rei</strong>to <strong>do</strong> corpo e o deixou com uma dificuldade motora<br />
indisfarçável. Seu mo<strong>do</strong> grotesco de se locomover logo foi<br />
atribui<strong>do</strong> a uma certa debilidade mental. Foi aclama<strong>do</strong> <strong>rei</strong> aos<br />
treze anos e coroa<strong>do</strong> em junho de 1662, aos dezenove anos.<br />
Sua coroação, porém, dependeu de um golpe palaciano que<br />
asfastou sua mãe da regência. Ninguém conhecia o filho<br />
melhor <strong>do</strong> que ela e ninguém mais <strong>do</strong> que ela queria continuar<br />
na regência pois tinha acentua<strong>do</strong> receio de que ele não tivesse<br />
condições de governar. É que, além daquela deficiência que<br />
lhe dava um ar meio imbecil, d. Afonso era também adepto<br />
de uma vida de badernas e orgias, especialmente no convento<br />
de Odivelas onde mantinha alegre amizade com Ana de<br />
Moura e Feliciana de Milão, duas f<strong>rei</strong>rinhas verdadeiramente<br />
encapetadas. Mas no seu <strong>rei</strong>na<strong>do</strong>, graças a competência <strong>do</strong>s<br />
marechais portugueses, o país obteve sucessivas vitórias sobre<br />
os exércitos espanhóis, o que veio consolidar defintivamente o<br />
processo da restauração. Daí o cognome de “O Vitorioso”<br />
que d. Afonso recebeu por ironia <strong>do</strong> destino.<br />
Ten<strong>do</strong> começa<strong>do</strong> já aos três anos com aquela terrível<br />
<strong>do</strong>ença que o aleijou para sempre, as vicissitudes de d. Afonso<br />
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