Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas
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momento particularmente delica<strong>do</strong>. Gomes da Silva - filho<br />
bastar<strong>do</strong> <strong>do</strong> visconde de Vila Nova da Rainha – era um<br />
aventu<strong>rei</strong>ro esperto e sedutor, especialista na espionagem e na<br />
intriga palaciana. Então fazia o que sempre fez desde os<br />
tempos de d. João VI, ou seja, serviços de alcova, espionagem<br />
e puxa-saquismo. Quan<strong>do</strong> d. Pedro foi buscá-lo, ele já tinha<br />
si<strong>do</strong> expulso <strong>do</strong> palácio por d. João, havia tenta<strong>do</strong> ganhar a<br />
vida como barbeiro, dentista e sangra<strong>do</strong>r e estava pelejan<strong>do</strong><br />
para manter um botequim de má fama no centro <strong>do</strong> Rio de<br />
Janeiro. Era boêmio e grosseiro, intrigante e dissimula<strong>do</strong>. Mas<br />
tinha pelo menos um mérito: não tinha ambições pecuniárias e<br />
era de fato um colabora<strong>do</strong>r <strong>do</strong> seu imperial amigo, servin<strong>do</strong>-o<br />
como um dedica<strong>do</strong> e aplica<strong>do</strong> lacaio, pau para toda obra. Seria<br />
incapaz de prejudicar deliberadamente o amigo, o que incluía<br />
não roubá-lo. Além disso era inteligente e consciencioso <strong>do</strong><br />
projeto político liberal. Quer dizer era o secretário particular<br />
ideal.<br />
Barbacena era chefe <strong>do</strong> chama<strong>do</strong> “ministério<br />
Barbacena” e o Chalaça era chefe <strong>do</strong> chama<strong>do</strong> “ministério<br />
secreto”. É provável que haja um certo exagero na<br />
caracterização “ministerial” da influência <strong>do</strong> “gabinete”<br />
Chalaça, mesmo porque, os demais componentes <strong>do</strong> círculo<br />
palaciano não tinham capacidade para nenhuma incumbência<br />
de maior responsabilidade e seria temerário confiar-lhes<br />
qualquer missão mais complexa <strong>do</strong> que a entrega de um<br />
reca<strong>do</strong> ou uma pequena espionagem pelo buraco da<br />
fechadura. De sorte que muitos deles eram meros<br />
companheiros de folgue<strong>do</strong>s e de conferências picantes.<br />
Outros eram simples serviçais <strong>do</strong>mésticos espirituosos como<br />
João Carlota. Outros tinham como principal talento intimidar<br />
jornalistas e falastrões. Havia ainda aqueles que se dedicavam<br />
com afinco a roubar d. Pedro. É o caso de Pláci<strong>do</strong> Pe<strong>rei</strong>ra de<br />
Abreu. Tinha ele si<strong>do</strong> barbeiro de d. João VI e acabou sen<strong>do</strong><br />
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