Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas
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<strong>Os</strong> historia<strong>do</strong>res lusos mais sarcásticos gostam de<br />
dizer que, naqueles tempos confusos, os portugueses não<br />
sabiam se queriam ser liberais ou absolutistas. A mesma<br />
reversão se veria quan<strong>do</strong> d. Pedro anos, mais tarde, entraria<br />
no Porto e em Lisboa. Essa indefinição decorre, sem dúvida,<br />
das manobras <strong>do</strong>s atores mais importantes que atuavam<br />
naquele jogo cheio de lances imprevistos. Falo principalmente<br />
da nobreza e <strong>do</strong> exército, ambos cheios de gente assustada,<br />
ávida por conquistar ou não perder títulos, cargos e riquezas.<br />
Por outro la<strong>do</strong>, o povo queria tu<strong>do</strong>, menos passar de novo<br />
pelas misérias que as guerras napoleônicas espalharam nas<br />
cidades, nas vilas e nos campos. Por outro la<strong>do</strong>, ninguém<br />
queria ficar novamente órfão de seus <strong>rei</strong>s. Enfim, é possível<br />
que as guerras peninsulares tenham desnortean<strong>do</strong> a<br />
nacionalidade portuguesa por uns tempos.<br />
Com a fuga <strong>do</strong>s principais líderes liberais, Palmela,<br />
Saldanha e Vila Flor - que aban<strong>do</strong>naram a cidade <strong>do</strong> Porto em<br />
02 de julho de 1828 - a carta que d. Pedro tinha da<strong>do</strong> aos<br />
portugueses estava morta e restaurava-se o absolutismo em<br />
Portugal. Depois da perda <strong>do</strong> Brasil era mais um efeito<br />
colateral da desastrada experiência liberal, começada com a<br />
revolução de 1820. A constituição de d. Pedro foi reabilitada<br />
em agosto de 1834, após sua espetacular vitória militar sobre<br />
d. Miguel. Mas aqueles eram tempos turbulentos e ela só<br />
vigorou até setembro de 1836. Foi quan<strong>do</strong> os liberais<br />
portugueses resolveram radicalizar e voltar à constituição de<br />
1822, depois suavizada por uma nova constituição. Mas como<br />
a turbulência continuava acesa, em janeiro de 1848 Costa<br />
Cabral voltou a reabilitar a velha carta de d. Pedro. Está certo<br />
que ela passaria por várias reformas mas, em sua essência, iria<br />
vigorar até 1910; tornan<strong>do</strong>-se letra morta e sepultada apenas<br />
com o advento da república.<br />
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