Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

prenunciavam um conflito difícil. Ele só viria explodir de fato
mais tarde. Naquela ocasião uma intervenção providencial do
general João Carlos Saldanha acomodou as coisas
provisoriamente. É que ele, do alto da sua condição de
governador militar da cidade do Porto, proclamou que a
constituição, a partir daquele momento, era a lei maior da
gente lusa. Saldanha tinha afinidades com d. Pedro e com o
Brasil, tendo sido governador do Rio Grande do Sul em 1821.
Mais tarde seria um dos principais generais da campanha de d.
Pedro para derrubar o irmão. De sorte que o imperador do
Brasil e novo rei de Portugal, pôde contar com esse
substancial apoio para outorgar sua carta aos portugueses.
Mas, no episódio, não bastou o brado de Saldanha e correu
algum sangue. Já estavam assentadas as sementes da guerra
civil portuguesa que tantas vidas custaria, alguns anos mais
tarde.
No meio de todo aquele clima delicado a constituição
portuguesa de d. Pedro só conseguiu vigorar de julho de 1826
a maio de 1828. Foi então que d. Miguel abjurou das juras que
tinha feito e resolveu governar absoluto como tantos
portugueses queriam, especialmente o clero e os rudes
camponeses que eles fanatizavam nos cantões. Como não
poderia deixar de ser, o palco principal da contenda foi, mais
uma vez, a cidade do Porto. Embora a cidade fosse e
continuasse sendo alguns anos depois uma cidadela liberal, os
portuenses receberam o general Pólvora e o exército
miguelista com o mesmo entusiasmo com que tinham
recebido a alta cúpula liberal poucas semanas antes. Isso, no
entanto, não evitou que um verdadeiro festival de horrores
caísse sobre os liberais que não puderam fugir ou que não o
fizeram porque acreditaram na justiça dos vencedores.
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