Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas
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A outra carta que d. Pedro tirou da manga, quer dizer<br />
aquela outorgada aos portugueses, era baseada na carta<br />
brasileira e foi escrita de uma assentada com a ajuda <strong>do</strong><br />
Chalaça em competente trabalho de secretaria<strong>do</strong>.<br />
D. João VI morreu no dia 10 de março de 1826.<br />
Quarenta e cinco dias depois uma delegação portuguesa<br />
chegava ao Rio de Janeiro trazen<strong>do</strong> a infausta notícia. A morte<br />
<strong>do</strong> pai causou grande <strong>do</strong>r ao impera<strong>do</strong>r. Ele ficou cinco dias<br />
recluso, sem falar com ninguém, cumprin<strong>do</strong> o luto oficial que<br />
tinha decreta<strong>do</strong>. Mas dizem que foi nesse perío<strong>do</strong> de reclusão<br />
que ele, muito mais <strong>do</strong> que lamentan<strong>do</strong> a morte <strong>do</strong> pai, se<br />
aplicou com afinco a redigir a constituição que queria dar a<br />
Portugal, o quanto antes. Pronta a carta, encarregou sir<br />
Charles Stendard de levá-la a Portugal. Era uma missão<br />
delicada pois, justo então, surgia a oportunidade de ouro que<br />
os absolutistas portugueses estavam esperan<strong>do</strong>, com d.<br />
Carlota Joaquina à frente, tenaz e combativa, partidária de que<br />
o país luso voltasse a ser uma monarquia absolutista como nos<br />
velhos tempos, com d. Miguel no trono. Por isso mesmo é<br />
que d. Pedro tinha pensa<strong>do</strong> em casar o irmão com d. Maria II,<br />
tentan<strong>do</strong> acomodar as diferenças uterinas. A constituição era<br />
peça chave nesse arranjo e era fundamental que d. Miguel a<br />
jurasse. Isso não foi problema e ele o fez sem nenhum<br />
condicionante, mas perjuran<strong>do</strong> logo depois na maior cara de<br />
pau. Para o Impera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Brasil era preciso que a nação<br />
portuguesa aceitasse a carta pois ela era a base da difícil<br />
aliança. E essa não foi uma questão simples. Ainda mais que<br />
d. Pedro queria lhes dar uma constituição mas não queria<br />
colocar a coroa de Portugal na própria cabeça, transferin<strong>do</strong>-a<br />
à filha que, para complicar um pouco mais, era brasileira.<br />
Imaginem se d. Carlota Joaquina iria engolir isso? Assim, os<br />
planos de d. Pedro para Portugal, logo de princípio, já<br />
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