Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

trazido de Portugal, parte tinha sido destinada exatamente à
livraria do infantado. Assim, desde menino ele sempre teve
farta coleção de boas obras à sua disposição. De qualquer
forma, só um pouco mais tarde é que teria aparecido gente lhe
ditando as leituras mais interessantes. Mas não teria sido só
isso. Segundo Melo Morais, d. Pedro tinha uma espécie de sala
secreta abaixo da Sala dos Pássaros - no Palácio de São
Cristovão - onde gostava de se reunir informalmente com o
conde dos Arcos e o padre Macamboa - constitucionalistas
entusiasmados - para discutir as ideias políticas do tempo.
Mais tarde o conde de Palmela se juntou a eles e, embora
tivesse pouco tempo para influenciar d. Pedro, tinha o
predicado de ter visto de perto o impacto que as ideias liberais
provocavam sobre a Europa pós Napoleão, ainda mais sendo
ele freqüentador dos salões e da alcova de madame de Stael.
Pode ser até que Francisco Gomes da Silva – o
Chalaça – tenha participado das reuniões políticas do príncipe
e também se sentisse atraído, quando menos, para ficar do
mesmo lado do precioso amigo. De mais a mais, com certeza,
com sua vivacidade intelectual e tirocínio político inegáveis, d.
Pedro já devia ter percebido que os reis absolutos já não
tinham mais meios de governar, num tempo tão efervescente
de ideias sobre direitos do cidadão. Assim, aderiu gostoso às
inovações do seu século.
Sabemos que ele gostava de buscar nos livros
ilustração para entender e cumprir melhor suas necessidades
pragmáticas. Assim foi no exílio em Paris, quando andou
lendo muito tratado militar enquanto se preparava para a
expedição restauradora que lançaria sobre o irmão d. Miguel
para recuperar o reino da filha.
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