Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

Dentre as várias desconfianças que d. Pedro
despertou nos brasileiros uma das mais contundentes foi a
suspeita, ou melhor, a desagradável sensação de que o tratado
de reconhecimento da independência, celebrado entre Brasil e
Portugal, não passava de um contrato de compra e venda,
onde o Brasil fez um mau negócio econômico e político,
pagando um preço absurdo por algo que já tinha sido
legitimamente conquistado e não precisava custar tanto.
Negócio de filho para pai, enfim. E as suspeitas tinham razão
de ser, mesmo porque, o imperador sempre mostrou
inequívoco respeito pelo pai e se esforçava por não arranharlhe
a claudicante majestade, tarefa delicada para quem lhe
subtraia a maior e mais preciosa parte da Coroa.
O processo começou em março de 1825 quando,
como não poderia deixar de ser, a Inglaterra - onipresente
fada madrinha - se ofereceu para intermediar a transação.
Destacou sir Charles Stuart, um de seus mais ilustres
diplomatas, para chefiar a missão. Na parte mais reservada da
maleta levava ele instruções para negociar acordos comerciais
com o Brasil, celebrados no tempo de d. João e que estavam
para expirar jogando no incerto os negócios dos súditos de
Sua Majestade britânica no reino brasileiro. Os termos iniciais,
exigidos por Portugal para reconhecer o Império do Brasil,
chegavam a ser hilários pelo lado político e imorais pelo lado
econômico. D João, vaidoso e simplório, solicitava para si o
título de imperador do Brasil, o que não agregava nada ao seu
poder mas, quem sabe, pudesse florear sua biografia, agora
grandemente ameaçada pela perda da sua colônia mais rica,
depois de mais de trezentos anos de domínio, pautado pelo
bom e leal comportamento dos súditos da América. Pelo lado
sonante, a coroa lusa pedia que o Brasil assumisse metade da
dívida pública de Portugal acumulada até 1817, mais
indenizações correspondentes a todos os bens deixados no
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