Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

apressado a formalização do processo de separação. Apelaram
para a vaidade de d. Pedro mais uma vez e o lembraram de
que o Brasil era um grande império, livre e soberano. Assim,
ele tinha que parar já com aquele hábito de ser prínciperegente
governando em nome do pai e assumir seu próprio
trono, como um verdadeiro imperador. Teria sido, então, o
ato de sagração definitiva de um Brasil independente, até
porque, o povo não admitiria qualquer atenuante de bolso de
colete. Era, enfim, o ato indispensável para entusiasmar o
povo e a tropa para enfrentar a reação mais radical que viria
de Portugal e das províncias mais lusófilas.
Mas foi aí, quer dizer, depois da consolidação do
processo, que José Bonifácio despiu a simpatia e passou a
mostrar a face mais crua da sua personalidade: a falta de
escrúpulos e a perseguição tenaz de seus desafetos políticos.
É difícil atribuir juízos de valor para tais características, em se
tratando de um político da estatura de José Bonifácio, às
voltas com a tarefa, nada singela, de ajudar a construir uma
nação. Mas fato é que, assim que se viu fortalecido à sombra
do novo poder imperial, ele passou a infernizar a vida de seus
opositores. Mandou prender Gonçalves Ledo que, no
entanto, conseguiu escapar e se refugiar na Argentina. A
pendenga entre os Andradas e os maçons do Grande Oriente,
contudo, continuaria cheia de intrigas e maldades. Até que em
julho de 1823 d. Pedro acabou perdendo a confiança nos
Andradas e os afastou definitivamente do ministério 41 . Eles,
41 Como se recorda, em 28 de outubro de 1822 os Andradas
pediram demissão do ministério, mas foram reconduzidos logo
depois nos braços do povo. Segundo alguns autores esse episódio
foi uma farsa perpetrada pelos partidários dos Andradas com a
concordância do próprio d. Pedro. Foi então que José Bonifácio se
142