Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

manobrar naquele campo delicado onde a política e a emoção
se chocavam com frequência, inclusive as suas próprias.
Heytor Lira defende a ideia de que nem José
Bonifácio, nem d. Pedro queriam, de fato, a separação do
Brasil de Portugal. Tanto que, mesmo depois do grito de sete
de setembro, nos documentos assinados por d. Pedro ele se
intitulava ainda “príncipe regente”, assinando em nome de d.
João VI, rei de Portugal. Lyra especula que, na época, a
palavra “independência” admitia também a conotação de
“autonomia” e não necessariamente de “separação” ou
“ruptura”. Assim, o que José Bonifácio incentivava era a
autonomia do Brasil em relação às Cortes de Lisboa e não
propriamente em relação à coroa de d. João VI. Há um grande
exagero na interpretação proposta pelo principal biógrafo de
d. Pedro II. Ninguém tinha dúvida, não só quanto ao
significado correto da palavra independência, como também
em relação a forma capaz de concretizá-la. Tanto que, que em
outubro de 1821, diante dos boatos de que estava em curso
um movimento marginal para proclamá-lo imperador; ele se
apressava a escrever ao pai aquela carta, já citada, em que
dizia:
“A independência, tem-se querido cobrir comigo e com a tropa; com
nenhum conseguiu ou conseguirá, porque – minha honra e a dela é maior
que todo o Brasil. Queriam me dizer que querem me aclamar imperador.
Protesto a Vossa Majestade que nunca serei perjuro.”
Apesar das juras, deu no que deu e em 12 de outubro
do ano seguinte d. Pedro era aclamado imperador o que,
inequivocamente, selava e carimbava a independência. É
provável que, nesse precípuo episódio, a turma de Gonçalves
Ledo tenha dado um ligeiro empurrão em José Bonifácio e
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