Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

Joaquim Gonçalves Ledo, neutralizando o empenho do grupo
em obter uma independência completa e rápida.
Há um certo exagero nas críticas que elenquei acima e
não há de se esquecer que elas vieram basicamente dos
inimigos de José Bonifácio, agrupados na facção que lhe era
hostil dentro da maçonaria carioca. Tudo não passava de mera
disputa de espaço junto ao ouvido precioso de d. Pedro pois,
no fundo, todos queriam a mesma coisa e todos abominavam
os movimentos republicanos que pipocavam nas províncias
mais distantes.
Não é correto imaginar-se que Gonçalves Ledo
pensava diferente de José Bonifácio e quisesse uma
independência imediata e radical. Isso está evidenciado numa
proclamação feita por ele a d. Pedro em junho de 1822: “O
Brasil quer ter o mesmo rei, mas não quer (ter) senhores nos Deputados
do congresso de Lisboa. O Brasil quer independência, mas firmada sobre
a união bem entendida com Portugal; quer, enfim, apresentar duas
grandes famílias regidas pelas suas leis, presas pelos seus interesses,
obedientes ao mesmo chefe.”
Até pode ser que José Bonifácio tenha tido algum
melindre em desfechar o golpe final do processo da
independência, mas é inegável que foi ele quem efetivamente
o fez. Sabe-se, com toda a certeza, que ele e a princesa
Leopoldina coordenaram uma reunião do ministério onde foi
aprovada a proclamação da independência. Foi logo depois
dela que Emílio Bregaro partiu com as cartas que encontraram
d. Pedro nas cercanias do Ipiranga e o instigaram a proclamar,
finalmente, a separação. Ninguém sabe o conteúdo exato das
ditas cartas mas nelas, muito provavelmente, o ministro dava
ciência ao regente do conteúdo dos decretos das Cortes de 23
139