Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

evitando: “deixar-nos em mísera orfandade, arrancando do seio da
grande família brasileira o único pai comum que nos restava depois de
terem esbulhado o Brasil do benéfico fundador desde reino o augusto pai
de V. A. Real. E mais adiante: “Como ousam roubar a V.A. Real o
lugar-tenente que seu augusto pai, nosso rei, concedera-lhe.
A preocupação de José Bonifácio então, como dito,
não era a independência e sim a ameaça de recolonização. O
Brasil inteira fazia coro com a mesma indignação do paulista,
repudiando a grosseira e inábil manobra das cortes lisboetas.
Rio de Janeiro e Minas, também se manifestaram oficialmente
solidárias à permanência de d. Pedro no Brasil. Daí que, em 09
de janeiro de 1822, acontecia o “Fico”, primeiro passo efetivo
para a independência. A partir de então os acontecimentos se
precipitariam vertiginosamente. José Bonifácio iria assumir a
testa do ministério poucos dias depois mas, naquele
memorável dia, os irmãos Andrada estavam longe e, quem
organizou a representação simbólica do eloquente gesto com
notável maestria, foram os fluminenses, com o mineiro
Joaquim José da Rocha e o português José Clemente Pereira à
frente.
Parece que de início o próprio d. Pedro quis atenuar o
caráter rebelde do ato do “Fico”. Tanto que sua verdadeira
declaração aos representantes do senado da câmara na ocasião
foi:
“Convencido de que a presença da minha pessoa no Brasil interessa ao
bem de toda a nação portuguesa e, conhecido que a vontade de algumas
províncias assim o requer, demorei a minha saída até que as Cortes e
meu augusto pai e Senhor deliberem a este respeito com perfeito
conhecimento do que tem ocorrido”.
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