Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas
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Na verdade, o processo de desate das amarras entre o<br />
Brasil e Portugal não teve patriarcas, nem mentores, nem<br />
patronos, nem musas. Foi um processo histórico de evolução<br />
autopropelida, onde várias pessoas assumiram, com<br />
competência, papéis que as próprias circunstâncias lhes<br />
ofereciam assumir. Maçons, estadistas, o príncipe e a<br />
arquiduquesa Leopoldina se uniram e, impulsiona<strong>do</strong>s pelos<br />
anseios <strong>do</strong> povo e pela obtusidade política das cortes<br />
portuguesas, acabaram atingin<strong>do</strong> um objetivo comum e nobre.<br />
É claro<br />
que José Bonifácio e Gonçalves Le<strong>do</strong>, na sua condição de<br />
líderes naturais das suas respectivas facções, tiveram papel de<br />
destaque. Mas há de se lembrar também <strong>do</strong>s demais irmãos<br />
Andrada, de Joaquim José da Rocha, de José Clemente Pe<strong>rei</strong>ra<br />
e tantos outros patriotas. Mas nenhum deles foi<br />
verdadeiramente um precursor ou tutor e não há dúvida que,<br />
até mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> ano de 1822, ninguém queria a separação de<br />
Brasil e Portugal. Bastava-lhes que as Cortes produzissem uma<br />
constituição em que os <strong>do</strong>is <strong>rei</strong>nos tivessem situação política<br />
equivalente, dentro de uma mesma nação e debaixo <strong>do</strong> cetro<br />
magnânimo de d. João VI e de seus herdeiros. Então, bastaria<br />
a nós um príncipe regente com autonomia para tratar das<br />
coisas <strong>do</strong> Brasil ao mo<strong>do</strong> brasileiro. Até seria bom se d. João<br />
VI voltasse, mas isso não era fundamental.<br />
A análise mais detida <strong>do</strong> papel de José Bonifácio no<br />
processo da independência requer o indispensável exame de<br />
<strong>do</strong>is <strong>do</strong>cumentos de sua autoria, marcantes como indicativos<br />
da sua posição nos meses críticos de gestação da<br />
independência. O primeiro deles contém as instruções para<br />
atuação da deputação paulista às Cortes de Lisboa. O<br />
<strong>do</strong>cumento está data<strong>do</strong> de 09 de outubro de 1821. Portanto,<br />
foi produzi<strong>do</strong> apenas onze meses antes da proclamação<br />
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