Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

que ele fosse um separatista histórico, detalhe que passa longe
da biografia do ilustre santista. Suas ligações com Portugal
eram muito fortes. Ele até tinha sido herói de guerra,
comandando o batalhão dos acadêmicos de Coimbra contra as
forças de Napoleão. Viveu em Portugal durante trinta e seis
anos, debaixo de muito prestígio junto ao mundo científico,
político e acadêmico luso. Andou por toda a Europa por
conta de bolsas de estudo e pesquisa concedidas pelo governo
português. Pertenceu à Academia de Ciências de Lisboa, deu
aulas em Coimbra, ocupou cargos importantes como agente
da Coroa Portuguesa, especialmente na área mineralógica.
Quer dizer, tinha um funda dívida de gratidão para com a mãe
pátria pois ela tinha sido muito gentil com ele. Voltou ao
Brasil só depois de aposentado e com uma pensão do estado.
Então d. João já tinha criado o Reino Unido, os laços entre
Brasil e Portugal estavam fortes e amenos como nunca e ele já
podia viver na sua própria terra, em pé de igualdade cívica
com os irmãos portugueses. Aliás, até melhor do que isso,
pois o centro do reino era então o Rio de Janeiro e não Lisboa
e era ali que se podia viver próximo ao poder. Voltou
aposentado, ou jubilado, como também se dizia então. Mas
ficar parado não era mesmo com José Bonifácio. Assim,
retomou as pesquisas científicas nas cercanias da cidade de
São Paulo e, ativo como era, logo se meteu na política paulista,
exercendo papel de combativa liderança, como era do seu
feitio. Uniu, com habilidade e autoridade, os paulistas em
torno do príncipe regente e lhe deu o respaldo político que o
Rio de Janeiro e Minas vieram completar, segurando a
regência do príncipe que as Cortes queriam cassar. À frente do
ministério mostrou esperteza, visão e energia. Foi muito, mas
não foi tudo.
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