Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

“Fico ciente da vontade do povo do Rio e tão depressa saiba a das mais
províncias (...) me conformarei com o voto dos povos deste grande, fértil e
riquíssimo reino”.
Na mesma carta, anexa ainda, uma cópia do decreto de
três de junho de 1822 convocando a assembleia geral
constituinte e legislativa do Brasil. Ainda em junho – dia 22 –
o príncipe regente, ao tomar posse como membro de uma
entidade maçônica, jurava defender a independência do Brasil.
De tudo isso, é lícito entender que, pelo menos quatro
meses antes da proclamação do Ipiranga, as condições
deflagradoras da separação já estavam inteiramente postas,
faltando apenas um ou outro alinhavo. Vale dizer, de um lado,
a situação do ano anterior estava inteiramente mudada e o
povo já estava inteiramente desencantado com o
constitucionalismo das Cortes de Lisboa, certos de que o que
os deputados portugueses queriam de fato era reimplantar o
regime colonial. Portanto, o Brasil devia buscar sua própria
fórmula constitucional. Do outro lado, estava d. Pedro cheio
de vaidade com sua popularidade, entusiasmando com o seu
papel de defensor perpétuo do Brasil e preocupado com a
possibilidade dos brasileiros resolverem fazer do império uma
federação de repúblicas. Também, sentimental como era,
temia ofender o pai, tomando-lhe o pedaço mais rico dos seus
domínios. Mas tentava atenuar esse caroço justificando
previamente o que, talvez, já estivesse convencido do que teria
que fazer. Aliás, outra não era a intenção da carta de dezenove
de junho. No meio desses precedentes, não se falava
oficialmente em separação mais sim em buscar uma saída
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