Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

longe da Europa. Mas não faltou nem coroa e nem cetro para
entronar o primeiro e único reino da América 37 .
Mas a separação de Portugal não foi feita só de
oportunidades e entusiasmos. Havia focos de resistência
lusófona na Bahia, no Maranhão, no Piauí, no Pará e em
Montevidéu. D. Pedro correu a fortalecer o exército brasileiro
para enfrentar o perigo, correndo contra o fato de que nossa
armada levou algum tempo para absorver um mínimo de jeito
militar. Isso não seria conseguido senão depois de incorporar
oficiais e soldados estrangeiros, conforme uma política
colocada em prática por d. Pedro logo após a independência.
Dela fazia parte a absorção de portugueses que quisessem
servir ao Brasil, colonos e mercenários alemães e irlandeses,
imigrados sob promessas um tanto desonestas de agentes
inescrupulosos.
A respeito da qualidade da vocação militar no Brasil, o
príncipe Wied-Neuwied anotava em 1817: “A diferença entre os
soldados vindos da Europa, depois de terem servidos na Espanha sob as
ordens de Wellington, e aqueles que não saíram do Brasil impõe-se à
primeira vista. Aqueles têm o aspecto todo militar, estes são vagarosos e
amolentados pelo calor do clima. Acabado o exercício mandam os negros
levar suas armas para casa.”
Os primeiros meses do ano de 1823 gastou-os d.
Pedro concentrado na questão militar que provinha
inexoravelmente do fato de que o Brasil era um império com
extensas fronteiras, escoradas em dezenas de pequenos
estados republicanos, lutando para se consolidar. Além do
mais, a antiga metrópole acabava de ter de engolir a perda de
37
Desconsiderando, a trágica experiência do grãoduque
Maximiliano da Áustria, no efêmero trono mexicano.
127