Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

Numa das cartas enviadas a d. Pedro sua mulher teria
dito “o pomo está maduro, colhe-o já, senão apodrece.” 36 E ele
resolveu fazê-lo. Não pelas cartas, claro, mas pela soma de
tanta circunstância instigadora. Infelizmente para a futura
indigitada imperatriz, naquela viagem ele iria colher um outro
fruto muito apetitoso. É que poucos dias antes ele tinha
conhecido Domitila de Castro Canto e Melo. Para a princesa
iriam começar problemas novos, para seu marido os
problemas velhos não iriam acabar. Aliás, os piores só viriam
alguns anos depois.
Doze dias depois da proclamação, sem saber ainda do
fato da independência, as Cortes anulavam todos os atos de d.
Pedro. Um dos deputados o chamou de “desgraçado e miserável
rapaz.” Foi intimado a regressar à Portugal sob pena de ser
incurso em crime de traição. Tinha colhido o pomo na hora
certa, mas a fruta não estava ainda no ponto. O passo seguinte
requeria capricho nos rituais monárquicos pois um império
pede grandeza e seu imperador pede majestade. O Brasil seria
um império e seu imperador seria coroado no dia primeiro de
dezembro de 1822 com toda a pompa que fosse possível, tão
36 Essa referência de Otávio Tarquínio de Sousa não é confirmada
pela maioria dos historiadores que informam que na carta que d.
Leopoldina mandou ao marido em São Paulo ela o exortava a voltar
o mais rápido possível pois que o clima não estava bom,
principalmente na Bahia. Mas não falava de oportunidades a serem
aproveitadas. Neil Macaulay afirma que a carta citada por Tarquínio
não existe.
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